Maria de Lourdes dos Anjos
Em tempos que já lã vão, havia o pai que era o chefe de família. Havia também o salário, a voz e o poder. Tudo paternal. Sobretudo o salário que fazia do pai o rei e o senhor.
Era o tempo dos “tantos”. O chefe dava um tanto para a mercearia, outro tanto para a água e a luz e, destes tantos, vivia a mãe, sem direitos mas com tantos deveres! Tinha de por a cama e a mesa para a prole que, só Deus sabe, quantas lágrimas lhe acordavam antes de adormecer.
Os filhos uniam-se, em silêncio, no colo materno nem sempre carinhoso, mas sempre esperançado que o sol abrisse a janela e entrasse para aquecer aqueles retalhos de vida.
Do poder paternal ouvia-se apenas o grito em madrugada de copos. Do salário ficava um “tanto”, porque um homem tinha que trazer algum tostão no bolso para pagar uma rodada aos amigos, ou comprar o bilhete para o futebol.
Depois, de vez em quando, era preciso dar uma volta pelas meninas da rua dos Caldeireiros ou da Bainharia, porque aí se faziam extravagâncias que o Santo Sacramento do Matrimónio não permitia.
Era o tempo da mãe doméstica, boa parideira, e, muitas vezes, saco de boxe. Tempos de museu fechado a cheirar a mofo.
Mas, as filhas desses tempos – cheias deste poder do cheiro a álcool, dos maços de “Português Suave” ou “Definitivos”, das noitadas cheias de pecado mortal do pai tirano, das nódoas negras que as mãos curavam com uma papa de alvaiade e aguardente – resolveram fazer a revolução.
Acabaram-se os “tantos”.
Vamos ter um salário e fazer uma super-mudança no lar… azedo lar. Em nome do bem-estar, do equilíbrio e da independência da mulher, vamos fazer o corte total.
É o tempo do poder maternal!
Arranjou-se um emprego, às vezes dividiram-se as obrigações domésticas, e entrou outro salário pela porta dentro. Podia-se, agora, gastar mais outro tanto. Inventou-se a partilha. Institucionalizaram-se as “meias”. Tudo a meias.
Muitos lares tornaram-se lares, doces lares; lares onde a mãe, a mulher e a amante, heroicamente, se uniram e resistem. Três em uma, como hoje se anunciam as novas marcas de detergentes.
Ganharam as famílias que cresceram partilhando os bons e os maus momentos e depois colhendo os sabores e saberes que as vidas trouxeram no final da jornada.
Mas, atenção!
Pouca gente se preparou bem para as novas batalhas. E, nestes tempos, foram-se os “tantos” que o pai dava como esmola, mas ficam uns “tantos” animais do sexo feminino que não sabem ser mulheres, nem mães, nem domésticas e que arranjam motivos – mil e um motivos – para serem profissionais.
Nem sequer são pessoas felizes. São insatisfeitas e irritadiças como se vivessem em contínua menopausa.
Fazem tudo o que criticaram nos machos de outrora. Bebem até cair, fumam, deitam-se em ruas escuras e hotéis de “Caldeireiros” ou de “Bainharias”, fazem una violência doméstica forte, mas muda, e chegam às tantas.
É urgente que o homem e a mulher sejam companheiros… sempre. Que a vida a dois seja um namoro e um ato de amor constante.
Ser mulher é fantástico. Ser feliz é o sonho da Humanidade.
Juntos, homem e mulher vamos conseguir!
E seremos felizes até às tantas…
In “Nobre Povo – Tripeira Gente”
SER POETA E TRIPEIRO
É perceber o que dizem as ondas do mar
É responder ao pássaro que nos vem acordar
É olhar as nuvens que correm no céu
É saber em qual delas o sol se escondeu.
É perceber o silêncio da saudade
É responder com um sorriso d’amizade
É olhar a lágrima que corre no rosto
É saber nos lábios, qual é o seu gosto.
É por no papel tudo o que se sente
É conseguir mudar a verdade que mente
É acreditar que é bom tudo à nossa volta
É fazer poemas com temas de revolta.
É ser cinza como o granito
É ter olhos cor de esperança
É chorar o meu Porto e achá-lo bonito
É correr nas ruas como se fosse criança.
É ver o Douro morrer na Foz
É transformar o seu grito
Na nossa própria voz.
In” Nobre Povo-Tripeira Gente”