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Há vida no silêncio da noite …

Carla Ribeiro

Caminhamos ruas fora, no rebuliço das nossas vidas, na pressa de chegar a casa ou mesmo ao emprego.

Vamos tão apressados que quase nem tiramos os olhos do chão.

Às vezes até levamos os fones metidos nas orelhas, assim ninguém me dirige a palavra, que não ouço.

Somos seres, apenas estatuas que caminhamos pelas ruas da cidade, na busca de algo, com o nosso percurso mecanizado, para nem olharmos para o lado.

Não vemos quem passa por nós, não sorrimos, nem mesmo sabemos que há vida para além da nossa.

Fechamo-nos na nossa vida, no nosso ser. Tornamo-nos perfeitos egoístas, egocêntricos e até mesquinhos.

relatos 01 - 01nov14

O trabalho acabou por hoje, e rapidamente, voltamos para a rua sem nada olhar em nosso redor.

Queremos chegar a casa, temos pressa de voltar a casa.

Se temos filhos, uffa que bom revê-los, mas que venham bem-dispostos, estou cansado, não aguento tanto, preciso respirar.

Mãe, pai… preciso da tua ajuda, dás-me um beijo, quero um miminho…?!

Será que temos tempo para eles… que moram nas nossas casas, que dependem de nós, que são a nossa vida, um pedaço de nós.

E os nossos pais, que longe ou perto, tanto anseiam por uma chamada nossa, um olá, um carinho, um mimo.

Quantas vezes já nem para eles, deixamos tempo?!

Andamos de olhos no chão, de coração fechado, numa corrida que nem sabemos bem em que direção se faz.

A noite caiu, já jantamos, arrumamos e será que já todos conversamos com quem está dentro da nossa casa?

Que bom! Os miúdos estão entretidos no quarto, estão no computador…, a ouvir música, a ler, a trocar mensagens no telemóvel…

Vou sentar-me ao computador, ver a minha rede social, o que estará a passar-se por lá?

A noite caiu, as ruas parecem ficar vazias, mas apenas parece, pois há tanta gente, tanto movimento nas nossas ruas a cada noite.

relatos 02 - 01nov14

Mas, por que corremos tanto afinal?

Porque não olhamos à nossa volta.

Já reparaste que na tua rua o teu vizinho e os filhos estão a passar fome?

Já te perguntaste porque não vês a tantos dias aquela vizinha tão simpática que sempre dava um rebuçado ao teu filho?

E aquele senhor, de bengala, que calmamente vai ao pão todos os dias e sempre te salvava quanto te encontrava na rua.

Por que não paras para sorrir a quem roda a tua volta?

Nem percebeste que na loja onde sempre compras os sapatos, dorme uma Pessoa todas as noites.

E naquela rua onde passei a dias de carro, que se passa ali, tantas Putas, cada vez há mais.

E, na rua de cima, só travestis, que nojo, que vergonha…

relatos 03 - 01nov14

São putas, prostitutos, pedófilos ou são travestis, são o nome que lhes quisermos dar, pois se ali estão, é, porque há quem os procure.

Prestam um serviço a troco de uns trocados, vendem o seu corpo a quem o procura.

Mas, e que nome damos, a quem os procura?

São os Senhores doutores, juízes, advogados, empresários, que com bons carros param, baixam o vidro, perguntam o preço, pedem um serviço. Às vezes abrem a porta, outras partem e deixam um insulto brejeiro.

Os senhores, mas que senhores são estes que ninguém os crítica, mas todos os aplaudem.

Que senhores são estes que batem nas Mulheres, que abusam destas crianças, e que chamam de queridas a estes Homens?

A eles não insultamos nós, que tantas vezes as maltratam, que procuram nestas Mulheres, nestes Homens e nestas Crianças o prazer que é pecado pedir em casa, que a sua sociedade não lhe permite ter sem pagar.

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Permitir até permite, mas estes senhores gostam deste sexo, na rua, na pensão, num qualquer barato MOTEL. É este sexo que lhes dá o verdadeiro prazer que nas suas vidas, no Mundo em que vivem não se permite. Mas todos sabemos onde o procuram e quem são…

Mas ainda nem tínhamos reparado que, ao longe, sentado numa soleira de uma qualquer porta, alguém vai anotando as vezes que entram e saem de carros, se vão, se partem.

Que nome vamos dar-lhe, de empresário? Não, este é mesmo o chulo, aquele que vive as custas destas Pessoas, que vendem o seu corpo, para alimentar o vício do seu dono, o chulo, esse que guarda e contabiliza cada euro que ganham.

Mas os chulos, nada vendem que seja seu… vendem o que é daquela puta, ou do prostituto ou daquela Criança, que está ali para trabalhar para ele.

E quantas vezes são ainda vítimas de maus tratos, porque não ganharam naquela noite o suficiente para alimentar os seus vícios, a sua vida de utopia e de empresário da noite…

Caminhamos nas ruas e não olhamos para estas realidades, preferimos nem ver, mas elas vivem paredes meias connosco.

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Descia por aquela rua onde todos os dias eu passo quando vou trabalhar, sempre tropecei naquele papelão, que agora está no portal daquela loja, onde uma Pessoa dorme, um mendigo, um sem-abrigo, sim uma Pessoa, pois será sempre uma Pessoa.

Nem olhamos para não ter pena.

Não é de pena que precisam, mas sim de um olá, de um sorriso, um abraço, que pares para lhe dar um pouco de atenção.

São Pessoas, também têm sentimentos.

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Necessitam apenas de atenção, de um sorriso, de Amor, que os escutes.

E não custa nada, basta sairmos das nossas casas e corrermos as ruas da cidade, para podermos ver todas estas realidades.

Mas é tão fácil andar de olhos no chão, sem olhar e ver a vida que corre sem parar.

Quanta vida há é tua volta no silêncio da noite.

E neste silêncio, que tem tanta Vida, tantas vezes poderíamos fazer diferente.

Basta estarmos atentos, olharmos à nossa volta e vamos descobrir tanta vida no silêncio da noite, no silêncio do dia.

Sempre que saio para a rua, a cada noite que caminho ao encontro dos meus Amigos de Rua, que a cada noite me esperam, outros me encontram , outros me reencontram

São noite de um imenso Amor, de tantas partilhas, de lágrimas, de sorrisos, de alegria, boa disposição, noites em que o silêncio que acaba com um sorriso, uma brincadeira, a alegria da partilha.

E como fico feliz a cada sorriso que de um rosto triste se arranca, como nos enchem o coração com as suas palavras, os seus gestos simples e carregados de Amor.

A cada noite eu choro, eu rio, eu sonho, mas sempre eu caminho pelo Amor por eles.

Tantas as partilhas, tantas as alegrias, tantas as lágrimas…

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Encontros. Desencontros e até reencontros, algumas perdas até, mas sempre a vontade de voltar e continuar a caminhar, lado a lado com todos eles.

Este texto encerra um ano, é o último de 2014, e paradoxalmente com ele festejo o meu aniversário com todos vós de um ano de partilhas das minhas escritas.

A todos que ao longo deste primeiro ano me têm acompanhado, me têm deixado as vossas palavras, o meu sempre muito Obrigada.

Esta na hora de uma pequena pausa, para retomarmos em Janeiro, parece que com uma nova cara e muitas e boas novidades… mas eu não disse nada.

Quanto ao meu grupo “Corações Amigos”, depois conto-vos como foi o Natal com os nossos Amigos de Rua, pois iremos festejar com eles.

Não hesitem em nos contatar, estamos abertos à comunidade.

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relatos 11 - 01nov14

A todos um Santo e Feliz Natal.

A todos, um simples até já.

A todos sem igual,

Obrigada

Até breve com novos “sentir”, novos “amar”…

 

Fotos: Pesquisa Google e “Corações Amigos”

 

01nov-dez14

 

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18 Comments

  1. José Gonçalves

    Cara leitora

    Como diretor deste jornal, estou curioso em saber qual, ou quais os textos plagiados. É favor – até para informação oficial e oficiosa – saber se há registo de crime (plágio). Depois da acusação anteriormente referida, agradecia que enviasse (etcetaljornal.site@gmail.com) provas para consubstanciar tal acusão. Se tal for verdade, ou mentira, tomaremos, em qualquer das circunstâncias, as posições de acordo com a Lei.

    O diretor
    José Gonçalves

  2. Celina Parente

    Boa noite, lamento deparar-me com tais plàgios Carla Ribeiro, não, não são palavras, (essas aceito que sejam universais) são frases completas… tantas palavras e algumas frases de um poema meu sobre a prostituição… Isto é lamentavél para um artigo que deveria ser de sentir pròpio… Peço desculpa ser do desagrado, mas, de igual modo (desagradàvel) foi deparar-me com tal.

  3. João

    Parabéns miuda, tu tens um coraçãodo tamanho do mundo
    continua com essa alegria e esse sorriso.
    Nunca deixes que te voltei a magoar, pois ós necessitamos do teu sorriso, sem ele o mundo fica bem mais pobre.
    Obrigado, por seres essa força, essa Amiga e por nos ensinares a Amar incondicionalmente como tu Amas.
    Miúda, tantas são as evzes que me deixas sem palavras ao ler os teus testemunhos, as tuas poesias,por isso que nunca te falte essa fonte de inspiração
    Bjnhs miúda e sorri, sorri sempre

  4. Anonimo

    Amiga e tu continuas a caminhar
    parece k te sentes a nadar como um golfinho em água serenas onde tu brotas o k sentes a cada caminhada que fazes.
    Não mudes minha amiga, pois é assim que todos precisamos de ti
    bjnhs
    até breve

  5. Carla Ribeiro

    V. Vieira
    Grata pelas tuas palavras
    sem duvida a lei da oferta e da procura,agora mais visível mas que é das profissões mais antigas
    Obrigada
    Bjnhs
    Carla

  6. Artur José Vieira Tavares

    REALIDADE NUA E CRUA…A VIDA CONTINUA…REALMENTE TENHO QUE ME RESUMIR Á MINHA INSIGNIFICÂNCIA PELOS FACTOS…QUE NA VERDADE SÃO DE DIREITOS.Parabéns Carla.Gostei da prosa.Bjh.

  7. SU Silva

    Parabéns Carlita,está como sempre nos habituaste,simplesmente fantástico,retrata completamente a realidade dos nossos dias ….
    Bjinhos

  8. V Vieira

    Parabéns ! Formidável é um texto a realçar em várias vertentes sociais e humanas, obrigada pela partilha e por partilhar ! “De facto só verdade cala os culpados “, beijinho ( não existe venda sem compra , não existe pobreza sem egoísmo )

  9. CP

    Obrigada Carla pela partilha. Palavras que estão ao dispor de todos frases que apenas alguns as constroem quando as sentem… Pq a realidade nem sempre é o que queremos ver, mas sim, aquilo que se apresenta aos nossos pés, assim… sem rodeios.

  10. José Guedes

    Parabéns mais uma vês pelo lindo texto escrito,. é uma realidade que hoje em dia tudo é feito com tanta rapidez que nem olhamos para quem esta ao nosso lado, são tempos em que o tempo não chega para nada,. por isso admiro muito tudo que escreves e o que fazes para bem dos que mais precisam de uma mão amiga,… bjs

  11. Carla Ribeiro

    Sem duvida José
    A lei da oferta e da procura
    mas uma realidade a qual tantos preferm virar as costa e os olhares, pois preferem não sair das suas linhas de conforto e ficarem simplesmente a viver nos seus mundos perfeitos e cheios de flores….
    Obrigada pela tua partilha,
    Bjnhs

  12. José Mendes

    Escreveste o que é uma realidade da vida moderna, não nos importamos com nada a não ser as nossas coisas e com os nossos,, e tb a dura realidade que se passa na noite tanto com aqueles que se “vendem” como aqueles que vão ” comprar” uns são os coitados outros são os senhores

  13. Regina Santos

    Parabéns pela tua capacidade que tens, de fazer lindos poemas, seja qual for o tema.
    Obrigada Carla por seres como és, pela ajuda que dás aos sofredores da nossa sociedade!
    Um forte abraço e….Que o Espírito Santo derrame todos os seus dons pelo teu grupo, que se dedica a alimentar os corpos e os espíritos, dos sem abrigo!
    Regina

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