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Toma que é democrático!

Pedro Ramajal / Tribuna Livre

Estava a Europa posta em sossego, tudo a correr tão bem, business as usual, o dinheiro a correr para onde deve, isto é, dos que têm pouco para os que nunca têm o suficiente, dos países do sul para os países do norte e respetivos bancos e os gregos resolvem eleger uma cambada de irresponsáveis sem experiência de governação, que estão a fazer tremer o edifício, tão bem arquitetado que ele foi. Olha se isto se pega e a epidemia se espalha, aonde é que iremos parar?

Que diabo! O PIB grego só caiu 26%! Então eles não sabem que ainda há 40% de jovens com emprego? Que ainda só foram despedidos 200 000 funcionários públicos? Que quase sete milhões de pessoas ainda podem ser privadas de acesso à saúde pública? Que ainda há quem tenha reformas que podem ser cortadas? E queriam, em vez disso taxar as grandes fortunas e as empresas? Garotos é o que eles são, estes gajos e gajas do Syriza! Sabem lá o que é governar! E vêm cá para fora papaguear o que se passa nas negociações como se aquilo que se discute, o futuro das pessoas, não devesse ser tratado no sossego dos gabinetes. Que falta de chá! Que infantilidade! Que….que…traição!

E agora, ainda por cima, resolvem consultar o povo grego sobre a aceitação das nossas generosas propostas? A nossa tão generosa ajuda?

syriza - 01jul15

Ajuda, dizem eles!

“Temos de ser claros: praticamente nenhum da enorme quantidade de dinheiro emprestado à Grécia foi para lá. Serviu para pagar aos credores privados – incluindo bancos alemães e franceses. A Grécia recebeu umas migalhas, mas pagou um alto preço para preservar os sistemas bancários daqueles países. O FMI e os outros credores “oficiais” não precisam do dinheiro que estão a pedir. Num cenário de negócios como sempre, o dinheiro recebido seria, muito provavelmente, emprestado de novo à Grécia.” Joseph Stiglitz,

(http://www.esquerda.net/artigo/o-ataque-da-europa-democracia-grega-por-joseph-stiglit)

Os que mandam na Europa lidam mal com a democracia. Lembram-se da Constituição Europeia, em 2005? Votaram nela? Eu também não. Os Franceses votaram. Contra. Não tiveram segunda oportunidade. A Holanda também votou contra. Mas a dita Constituição chegou-nos pela porta do cavalo, com o nome de Tratado de Lisboa, sem que os cidadãos europeus tivessem voto na matéria. Este tratado foi a referendo na Irlanda, em 2008 e foi rejeitado. Fez-se uma campanha de intoxicação e repetiu-se a votação no ano seguinte, após algumas alterações cosméticas e lá se conseguiu que o famigerado tratado fosse aprovado. Quando em 2011 Papandreou, primeiro-ministro grego do PASOK colocou a hipótese de um referendo, a UE entrou em pânico e impediu-o de o fazer.

tsypras - 01jiul15

O referendo foi uma bofetada do Syriza que deixou a Europa do “tem de ser assim” de cara à banda. O discurso de Tsipras a anunciar que iria pedir o apoio do povo grego na rejeição do das propostas das “instituições-antes-conhecidas-como-troika” é um documento que vale a pena ler e que ficará na História (https://www.facebook.com/notes/pedro-ramajal/alexis-tsipras-resposta-ao-ultimato/10153391541484547?pnref=story) Um apelo à dignidade de um povo para que recuse o que lhe querem emprestar com uma mão para tirar com a outra. O facto é que qualquer que venha a ser a escolha democrática do povo grego, há uma fissura na muralha da austeridade, que não creio se feche, bem pelo contrário.

Mas mais do que o destino da Grécia, trava-se no próximo dia 5 uma batalha pela democracia na Europa. Trata-se de dizer aos poderosos da europa que o nosso voto conta e tem de contar cada vez mais. Por isso, é imprescindível nas ruas e praças mostrar ao mundo todo o nosso apoio ao povo grego.

Pela parte que me toca, tenho esperança de que no próximo domingo, a partir de Atenas um retumbante OXI (não em grego) ecoe pela Europa. Em nome da dignidade dos povos. Em nome da liberdade de escolha. Em nome da democracia. OXI!

Fotos: Pesquisa Google

01jul15

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