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O Passos Coelho e a literatura

José Luís Montero

Começo a escrever estas crónicas quando os morcegos começam os seus passeios. Sempre gostei ou escrevi, naturalmente, pela noite fora, mas, o caso das crónicas para o Etc eTal é especial. Possivelmente seja o próprio charme desta publicação que me transporta para quando as Almas se recolhem; o silêncio abraça, interrompido pelos programas de televisão gordurosos, os espaços e pegamos na música intima que nos transporta e reconforta no Ser.

Meto um Mix do Bruce Springsteen; dou-lhe o volume do tom do companheiro que te faz sentir acompanhado e abro o Word que veio substituir o caderninho que sempre me acompanhava e onde escrevia sonhos; poemas; bitaites sobre política e o número de telefone de alguma amiga. Começo a escrever, quase sempre, deixando transpirar pelos poros Liberdade e intenção de tentar plasmar a verdade que sinto ou vejo. Só a palavra me marca o caminho e só à palavra me devo.

Começo, então, a sentir-me bem; a sentir-me em mim; a escrever e a sorrir. Mas, não me sinto ou peço que me desobriguem; não me chamo Pedro Passos Coelho, nem me convidam para apresentar livros de mexericos com estórias de cuecas alegres. Normalmente, os ex-políticos, presidentes, etc. são convidados para conselheiros financeiros; agentes funerários ou comentadores de televisão, mas, para apresentadores de livros de cuecas alegres, não, por isso, pode-se considerar o Passos Coelho como um pioneiro no campo das novas ocupações das celebridades políticas.

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Como governante foi um excelente subserviente dos poderes adscritos ao mundo depredador das finanças; como líder da oposição é um fabuloso vendedor de chinelos, mas, como é um trabalhador incansável, também estava disponível para atos artísticos e literários onde se escreve a vida das cuecas alegres. Pedro Passos Coelho só se desobrigou do acontecimento porque o autor do romance da cueca alegre, José António Saraiva, lhe concedeu esse benefício, talvez, porque pensou ou considerou que o ilustre Passos Coelho, nesse dia, teria que ir ao armazém comprar mais chinelos para exercer, sem desmaio, a sua oposição à geringonça. Portugal é um País cheio de sorte e a Humanidade está de parabéns por ter entre os seus um homem tão aplicado e literário como o dr. Passos Coelho.

E o Outono vem caloroso; entrou cheio de cerveja pelas esplanadas e conversas com gráficos sobre o défice e outras minudências sobre impostos que abateriam, segundo opositores e comentaristas, ainda mais a famosa classe média. Quando li a notícia sobre o imposto propagandeado pelo BE e olhei para os meus amigos pertencentes à classe média, perguntei-me: “ mas, eles são assim tão fortes?..” Um tem um carro de ocasião; outro tem uma boa bengala e os outros comem bife uma vez por semana… Fiquei confuso. Pensei que me ocultavam o seu poder patrimonial.

Bisbilhotei. Li o “Correio da Manhã” para comprovar que não andavam misturados entre as fotografias de exposição intima. Perguntei se eram sócios do Benfica. Observei se os seus chinelos eram da marca Passos Coelho. Não vi nada que os pudesse arruinar mais do que já estão e que este imposto propagandeado pelo BE incidiria sobre uma classe media muito especial, talvez, essa a que aderiu ao Fado depois dumas férias num Resort.

O Outono entrou, realmente, bem e caloroso. Inclusivamente, uma televisão generalista convenceu o Camilo Mortágua para pisar o Parlamento.

A folha ameaça cair com estrépito e a Poesia pediu asilo no País das Bananas fritas (com ou sem piripiri). Mas, como continuo a ter como companheiro, esta noite, o Bruce Springsteen o susto da solidão não me invade e a palavra corre e plasma-se serena e amorosa. É uma questão do Yin e o Yang.

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A Literatura conciliou-se com as alegrias das cuecas e as tristezas laboriosas da vida que obrigaram o dr. Passos Coelho a desobrigar-se. O problema está que depois do Outono chega o Inverno e classe média ou não, a crise continua a sugar a vida dos sobreviventes sejam eles migrantes a fugir da barbárie estabelecida na outra orilha do Mediterrâneo, empregados precários ou desempregados sem vias de solução.

O frio abrasa e queima mais que o calor e Europa está sem roupas de aconchego. Classe média ou não, com ou sem imposto propagandeado pelo BE existe uma velha expressão que diz: “ não se brinca com as coisas de comer…” mas, há muito tempo que usam, abusam e brincam com “ as coisas de comer…”

Fotos: Pesquisa Google

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2 Comments

  1. José Luís Montero

    Vou muitas vezes à livraria Lello (a de lisboa). Hoje, como tantos outros dias, entrei, mas, observara na montra que o Livro das mexeriquices do José António Saraiva ia na 10ª edição. Comentei a questão com as livreiras e disseram-me: “ vende-se muito” e mostraram-me o livro; editado em Setembro e dentro do mês de Setembro tinha dez edições… Procurei algum livro e comprei um livreco, edição da Lello, do Lamartine – Cláudio -. Quando me dispus para pagar, como observara que tiveram mais clientes que o habitual e dois desses clientes compraram o tal livro, comentei: já vi que neste breve período venderam dois… Responderam: dois?!. Não! Vendemos quatro e dos quinze que nos vieram desta edição já esgotaram… Comentamos, alguma anedota, levados pelo espanto – eu, principalmente- e sai caminho do Rossio com cara de parvo…

    (faço este comentário porque é realmente alarmante que este tipo de literatura tenha consumidores e nunca melhor dito.)

    José Luís Montero

  2. Fernanda Lança

    simples, o Passos Coelho quer gerir um Portugal da casa dos segredos, é aí que se sente confortável e um senhor. Com ele passamos de um país que se impõem no seu lugar no mundo para o nível da feira de sábado de manhã. Nada como fazer da mediocridade um objectivo e promover os amigos congratulando-se com os sucessos em tudo o que é obscuro. O Portugal do Coelho é o Portugal que apresenta o Dias Loureiro como modelo a seguir, defende a Maria Luis e protege o Durão Barroso, já para não nomear o ” filósofo” mais famoso do país, que agora é seguido religiosamente por perto de 30% das pessoas todos os dias na tv, porque entrou na casa de alterne gerida pela não menos famosa madame Teresa Guilherme

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