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Júlio Resende

Neste Outubro de 2017 comemoram-se os cem anos do nascimento de Júlio Resende e não poderia aqui esquecer essa data, escrevendo sobre este notável pintor, um dos grandes nomes que marcou a arte do século XX, até aos nossos dias.

Júlio Martins Resende da Silva Dias, mais conhecido pelo grande público como Júlio Resende nasceu no Porto, a 23 de Outubro de 1917. Era o segundo filho de Manuel Martins Dias, comerciante de fazendas e de Emília Resende da Silva Dias, professora de piano, no Conservatório do Porto. A grande admiração que tinha por sua mãe levou Júlio a adoptar, como assinatura artística, o nome de Júlio Resende.

Seus pais sempre sonharam que Júlio seguisse a música mas, desde cedo, a sua inclinação foi para a pintura e a ilustração. No entanto, para além deste jovem talentoso, esta família produziu outros talentos entre os quatro filhos do casal, nomeadamente o maestro Resende Dias que cultivou a arte musical, tendo tido grande sucesso na composição de músicas celebrizadas no cinema e no teatro de revista portugueses.

Júlio Resende começou por frequentar as aulas de desenho e pintura da Academia Silva Porto, orientadas por Alberto Silva, sendo o início da sua actividade artística, ainda quando era muito jovem, com apenas 12 anos, como ilustrador em semanários infantis e na imprensa diária.

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As dificuldades económicas, geradas pela falta de sucesso da loja paterna, levaram Júlio Resende a produzir desenhos publicitários, ilustrações e banda desenhada para vender, a fim de poder pagar o curso que frequentava na Escola de Belas-Artes do Porto. Desta época destacam-se a sua colaboração em “O Primeiro de Janeiro” com as histórias de “Matulinho e Matulão” e nas Revistas Infantis “O Papagaio” e “Tic-Tac”.

Ainda aluno das Belas-Artes, participou na criação do “Grupo dos Independentes” constituído, entre outros, por Júlio Pomar, Nadir Afonso e Fernando Lanhas, pintores de sensibilidades distintas, mas todos unidos no combate ao academismo que se caracterizava por um distanciamento dos pintores portugueses, em relação ao que se produzia pictoricamente, no estrangeiro.

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Em 1945, Júlio Resende terminou o Curso de Pintura com dezoito valores, na Escola de Belas-Artes do Porto e, logo no ano seguinte, ganhou uma bolsa do Instituto para a Alta Cultura, partindo para Paris com a mulher e a filha. Aí estudou as técnicas de fresco e gravura na Escola de Belas-Artes de Paris e na Académie de la Grande Chaumière. A vida em Paris, logo após o final da 2ª guerra mundial, transformou-se numa difícil subsistência para Júlio Resende, embora o facto de frequentar escolas de arte tão famosas fosse para ele a concretização de um grande sonho, numa época em que a pintura não figurativa criava um grande impacto no público.

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A partir de 1949, quando regressou a Portugal, começou a trabalhar como professor leccionando, sucessivamente em várias escolas, entre elas a Escola Gomes Teixeira, no Porto, onde realizou um fresco, que é o primeiro dos seus murais. Em 1957, Júlio Resende foi convidado para dar aulas na Escola de Belas-Artes do Porto, como assistente de Pintura do Mestre Dórdio Gomes, prosseguindo nessa instituição a sua carreira docente, a qual só abandonou em 1987, por aposentação.

A sua obra é vasta e diversificada, tendo especial relevo na sua cidade natal, onde abundam os seus famosos painéis cerâmicos, nomeadamente no Hotel D. Henrique (a Grande Árvore), no antigo Edifício da Companhia de Seguros Tranquilidade, nas Torres Habitacionais da Pasteleira, no Hospital de S. João (dois painéis cerâmicos), os murais do Palácio da Justiça do Porto e do Banco Pinto de Magalhães, entre outros.

Concebeu cenários para teatro, ballet, cinema e figurinos teatrais colaborando, por exemplo, em espectáculos de Carlos Avilez, nas produções do Ballet Gulbenkian e da Companhia Nacional de Bailado. Ilustrou obras literárias, designadamente em “Aparição” de Vergílio Ferreira, em livros de Sophia de Mello Breyner (“Noite de Natal”, “O Rapaz de Bronze” e “O Primeiro Livro de de Poesia”).

Também ilustrou obras de Ilse Losa (“O Rei Rique” e “Outras Histórias”), do poeta Eugénio de Andrade em “Aquela Nuvem e Outras”, assim como de Fernando Namora e de outros autores. Decorou a Igreja de Nossa Senhora da Boavista (Igreja do Foco), no Porto (escultura de Cristo no Calvário e a Virgem Mãe que é um vitral com cerca de 150 metros quadrados). Pintou e ofereceu à cidade do Porto o enorme painel “Ribeira Negra” que, mais tarde, foi executado em grés e colocado à entrada do Túnel da Ribeira.

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Destacam-se, ainda no Porto, outras obras de sua autoria, sobretudo relacionadas com a arte sacra, faceta que constitui um aspecto fundamental da sua obra: “Ressurreição” (1990), vitrais da Igreja Paroquial de Cedofeita, no Porto; conjunto de azulejos (1992), no Instituto Português de Oncologia do Porto; via-sacra (1998) cerâmica, na igreja de Valbom, em Gondomar. Igualmente destacamos outras obras como o Dragão (2003), azulejo oferecido aos sócios do FCP, na inauguração do estádio do Dragão; o Mercado do Bolhão (2007), painel de azulejos, na estação do metro do Bolhão, no Porto.

Ao longo da vida, a sua arte teve incursões em diferentes áreas, mas foi a pintura que mais o celebrizou. A sua pintura passou por diferentes fases, como resultado de múltiplas vivências e influências, fruto das muitas viagens que realizou e dos muitos contactos que estabeleceu com os mestres que foi conhecendo. Foi um pintor de transição entre o figurativo e o abstracto, aproximando-se cada vez mais do expressionismo e da não figuração.

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O Homem que dizia “Mas eu queria, efectivamente, ser pintor! […] Comprei a primeira caixa de tintas «a sério», e aprendi a colocar as cores na paleta, segundo as boas regras”, pintou quase até ao fim da sua vida, acumulou prémios e distinções, incluindo a Grã-Cruz da Ordem do Infante Dom Henrique, realizou exposições individuais e colectivas, em Portugal e no estrangeiro, está representado em prestigiados museus e colecções particulares em Portugal, na França, no Brasil, na Finlândia, na Noruega, na Bélgica e em Macau. Para Júlio Resende pintar era como respirar ou, como ele dizia: “ A pintura é o meu oxigénio!”

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O seu nome continua perpetuado, quer na sua obra, quer através da Fundação Júlio Resende – “Lugar do Desenho”, fundada em 1993, em Valbom, Gondomar, onde se guarda um vasto espólio de desenhos (cerca de dois mil) que o pintor elaborou e reuniu, ao longo da vida. O Mestre Júlio Resende faleceu em Valbom, Gondomar, a 21 de Setembro de 2011, aos 93 anos de idade.

Texto: Maximina Girão Ribeiro

Fotos: Pesquisa Google

Obs: Por vontade da autora e, de acordo com o ponto 5 do Estatuto Editorial do “Etc eTal jornal”, o texto inserto nesta rubrica foi escrito de acordo com a antiga ortografia portuguesa.

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