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José Gomes Ferreira

O escritor, poeta e ficcionista português, José Gomes Ferreira, nasceu no Porto a 9 de Junho de 1900, na Rua das Musas, no velho bairro popular da Fontinha, situado na freguesia de Santo Ildefonso. Ainda criança mudou-se para Lisboa, acompanhando os pais. Foi aí que frequentou os Liceus Camões e Gil Vicente e que despertou para a paixão poética conciliando-a, durante a vida, com a música.

Licenciou-se em Direito, na Universidade de Lisboa, em 1924, tendo sido posteriormente cônsul de Portugal na Noruega, na cidade de Kristiansund, entre 1925 e 1929. Sobre a sua chegada a este país nórdico, longe de Portugal, escreveu «A pior solidão é a que me espera agora […].” Aí, aproveita a solidão para compor música, aprender a língua norueguesa e tomar contacto com a literatura deste país. O escritor considerou os cinco anos passados na Noruega como o “interregno norueguês”.

Quando regressou a Portugal, em 1930, dedicou-se ao jornalismo seguindo, paralelamente, uma carreira como compositor. Foi também tradutor da legendagem de filmes, colaborou em vários jornais e revistas, tais como a “Presença”, a “Seara Nova”, a “Gazeta Musical” e de “Todas as Artes”.

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José Gomes Ferreira, talvez por influência de seu pai, que foi um democrata e republicano, foi criando, desde muito jovem, uma consciência política, um sentido crítico, tornando-se um acérrimo opositor do regime salazarista. A sua vida foi de luta pela liberdade, pela justiça e pela dignidade humana. Muitos dos seus poemas fazem parte de um álbum de canções revolucionárias, as “Canções Heróicas”, composto por Fernando Lopes Graça. São canções que realçam o espírito de resistência e de contestação a uma política opressiva e repressiva do regime salazarista. São exemplo disto, os poemas “Não fiques para trás, ó companheiro!” e “Acordai”:

Acordai /homens que dormis /a embalar a dor

Dos silêncios vis /vinde no clamor /das almas viris…

Acordai /acendei/de almas e de sóis

Este mar sem cais /nem luz de faróis/

Os nossos heróis dormem nos covais / Acordai!

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O poeta deixou-nos estas palavras sobre a poesia: “[…] tenho utilizado a Poesia como arma de combate, a minha única arma possível, embora sem ilusões, pois sempre a considerei uma débil espada de papel […].”

Durante quase cinquenta anos, José Gomes Ferreira publicou pouco, mas escreveu muito, “enchendo gavetas com nuvens”, como ele próprio confessava. Contudo, no ano da sua morte, foram publicadas cerca de quatro dezenas de títulos, distribuídos entre obras de ficção, colectâneas de poemas, peças teatrais, ensaios, crónicas, livros de memórias, introduções, prefácios, comentários, notas, traduções,…

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A sua obra poética foi reunida em 1977-1978, em “Poeta Militante” e as suas crónicas jornalísticas foram compiladas nos volumes “O Mundo dos Outros” (1950) e “O Irreal Quotidiano” (1971). Quanto à sua obra de ficção destacamos o “Mundo Desabitado” (1960), “Aventuras de João Sem Medo” (1963), “Imitação dos Dias” (1966), “Tempo Escandinavo” (1969) e “O Enigma da Árvore Enamorada” (1980).

Embora tenha vivido em Lisboa a maior parte da sua vida, o Porto foi uma presença constante na poesia de José Gomes Ferreira. Não esqueceu nunca o lugar do seu nascimento, evocando-o algumas vezes na sua escrita:

«Na rua das Musas / onde nasci já aos gritos / (que nunca acordaram / ninguém); / foi na Rua das Musas / onde ainda hoje as lágrimas / fabricam lama / nas lajes de granito / que jurei por ti, mãe, / tornar o sol menos imundo», in Poeta Militante, III, 4.ª ed., p. 202.

José Gomes Ferreira viveu uma vida de escritor e de “vagabundo de sonhos”, sendo uma voz marcante da poesia portuguesa do século XX.

Morreu, em 1985, então, “com a idade do século”, em 8 de Fevereiro de 1985, na sua casa da Avenida Rio de Janeiro, em Lisboa, vítima de doença prolongada e, como ele próprio diria, “Viver sempre também cansa”.

Texto: Maximina Girão Ribeiro

Fotos: pesquisa Google

 Obs: Por vontade da autora e, de acordo com o ponto 5 do Estatuto Editorial do “Etc eTal jornal”, o texto inserto nesta rubrica foi escrito de acordo com a antiga ortografia portuguesa.

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