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Acácio Lino

Nos 140 anos do nascimento de Acácio “Lino” de Magalhães, pintor, escultor e professor (1878-1956) recordamos aqui esta personalidade, cuja vida esteve muito ligada à cidade do Porto, onde estudou, viveu e trabalhou.

Nascido na Casa da Pedreira, na freguesia de S. Salvador de Travanca, Amarante, era o sétimo de doze irmãos de uma família de abastados proprietários rurais, o casal Rodrigo Pereira da Costa Magalhães e Maria do Carmo Pinto de Carvalho.

Desde muito cedo manifestou inclinação para o desenho e pintura contando-se que, aos seis anos, já fazia desenhos que afirmavam o início do seu génio artístico.

Na inscrição na Escola Primária, a professora acrescentou-lhe o nome de “Lino” que, mais tarde, o pintor adoptaria como nome artístico – Acácio Lino.

Depois de ter concluído o exame de instrução primária (hoje 1.º ciclo do Ensino Básico), com doze anos, veio viver na cidade do Porto, na casa do seu irmão Albano, advogado com escritório na Rua de Santa Catarina, a fim de frequentar o Liceu Central.

Dada a vocação de Acácio Lino para o desenho, seu irmão contactou um mestre, o professor Marques de Guimarães para que o jovem pudesse receber aulas aos domingos, no atelier do pintor, que era na Rua de Passos Manuel, onde depois também aprendeu Desenho Histórico e Escultura. Não era esta a carreira que seu pai sonhava para Acácio, pois preferia que ele fosse médico, por isso, quando se apercebeu que este seu filho pretendia seguir as Belas Artes, o pai cortou-lhe a mesada e, Acácio, para superar as dificuldades económicas, vendia desenhos feitos a craion, dado que, nessa altura, já vivia na casa de hóspedes da Senhora Clara, na Rua de Santa Catarina.

A sua vontade de cursar a Academia Portuense de Belas Artes foi superior a todas as vicissitudes que atravessava e acabou por frequentar esse estabelecimento de ensino, onde foi um aluno distinto, premiado e convidado para participar nas exposições aí promovidas, dos “alunos considerados dignos desta distinção”. Teve como colegas nomes famosos do seu tempo, incluindo as irmãs Aurélia e Sofia de Sousa. Um dos seus professores, com quem desenvolveu grande amizade, foi Marques de Oliveira, artista consagrado que lecionou gratuitamente, num centro de estudo, fundado por um grupo de alunos das Belas Artes, o “Centro do Julinho”, na Rua do Dr. Alves da Veiga, onde se desenvolvia o estudo a partir do modelo ao vivo.

No atelier de Acácio Lino em Paris
No atelier de Acácio Lino em Paris

Logo que acabou o curso, Acácio Lino foi admitido como bolseiro do Estado partindo, em 1904, para Paris para uma estada de vários anos, em que conviveu com grandes nomes do panorama artístico e intelectual da “Cidade das Luzes”. Quando regressou ao Porto, concorreu ao lugar de Professor da Academia Portuense de Belas Artes para leccionar Pintura Histórica. Nesta área, transmitiu aos seus alunos a preocupação pelo rigor histórico, baseado na pesquisa de dados do passado, característica bem patente nas suas obras. Retratou os grandes dramas da História de Portugal, como “O Grande Desvairo” que já esteve exposto, muitos anos, na Câmara Municipal do Porto e que representa a tragédia de D. Pedro e D. Inês, assim como, na mesma instituição se conserva a figura de João das Regras.

"Batalha de S. Mamede"
“Batalha de S. Mamede”

Foi o autor das pinturas murais na “Sala Acácio Lino”, no Palácio de S. Bento/Assembleia da República, painéis que ilustram três episódios marcantes da História de Portugal: “A Batalha de São Mamede” (1128), “A Conspiração de 1640” e “A Reconstrução de Lisboa pelo Marquês de Pombal” (1755),

Parlamento (1640-1755)
Parlamento (1640-1755)

Além de outros trabalhos pictóricos também aí representados, como as alegorias à Pátria e às principais actividades produtivas dos sectores primário e secundário. Igualmente se destacou em obras de inspiração camoniana, como Camões Junto do Túmulo de NatérciaAs Ninfas na Ilha dos AmoresVisão de Epopeia e Adamastor (quadros datados de 1940 e patentes no Museu Nacional de Soares dos Reis, no Porto).

As suas obras, quer de pintura, quer de escultura, estão espalhadas pelo País em museus e entidades públicas e privadas. Além do Palácio de S. Bento, da Câmara Municipal do Porto e do Museu Nacional Soares dos Reis, já citados, também existem trabalhos seus que se podem admirar na Biblioteca Pública Municipal do Porto, na Igreja dos Congregados e nos tectos do Teatro Nacional de S. João, no Porto. Está representado igualmente no Museu Militar, em Lisboa; no Museu Grão Vasco, em Viseu; no Museu Malhoa, nas Caldas da Rainha; no Museu Amadeo de Souza Cardoso e na Casa-Museu Acácio Lino, os dois últimos, em Amarante. Encontra-se representado, também, na Fundação Dionísio Pinheiro e Alice Cardoso Pinheiro, em Águeda com quatro obras, sendo uma delas “Chô! Passarada”.

"Chô! Passarada!"
“Chô! Passarada!”

Não podemos esquecer que o Porto tem mais um polo de atracção turística, na pastelaria A Serrana, na rua do Loureiro, junto à Estação de S. Bento – uma das suas telas pode ser vista no tecto desta pastelaria.

Tecto da Pastelaria "A Serrana"
Tecto da Pastelaria “A Serrana”

Acácio Lino também fez escultura. Destacamos os bustos de Soares dos Reis (escultor), de António do Lago Cerqueira (político republicano de Amarante), do compositor musical Ciríaco Cardoso, de sua esposa Dina e o medalhão do Mestre José de Brito (pintor).

Ao longo da sua vida, Acácio Lino manteve sempre ligações afectivas com a sua terra natal, conservando um atelier em Travanca, onde se inspirava para as suas criações relacionadas com o mundo rural. Era na Casa das Figueiras que costumava trabalhar durante as férias, tendo aí produzido algumas das suas mais emblemáticas obras.

Monumento à sua mulher, Dina
Monumento à sua mulher, Dina

A sua carreira docente foi exercida durante 36 anos, na Escola de Belas Artes do Porto, mas chegou também a leccionar a disciplina de desenho no Liceu Alexandre Herculano, da mesma cidade.

Acácio Lino foi galardoado com o Grau de Comendador da Ordem de Cristo, com a Medalha de Honra da Sociedade Portuguesa de Belas-Artes, em 1927, com a Comenda da Ordem de Sant’Iago da Espada e a Medalha de Ouro de Mérito Artístico da Cidade do Porto, em 1940 e 1941.

Este pintor, ligado ao ensino académico, apresentou sempre uma forte paixão pelo desenho histórico, pela pintura paisagística e pelo retrato, assim como pintura religiosa, sendo a sua obra marcada por duas características fundamentais: a corrente historicista de finais do séc. XIX e o naturalismo bucólico das suas raízes.

"Mulher à Sombra"
“Mulher à Sombra”

Acácio Lino deixou um livrinho de memórias que intitulou Recordando… que foi escrevendo no seu atelier, a partir de 1950, dedicado aos seus sobrinhos, já que do seu casamento com Dina, não teve filhos.

Assinatura_Acacio Lino

Faleceu na sua casa, no Largo Soares dos Reis, no Porto (que se situava onde hoje está o prédio da Caixa Geral de Depósitos), a 18 de Abril de 1956, com setenta e oito anos. O funeral teve missa na Igreja do Bonfim, seguindo o féretro para o cemitério de S. Salvador de Travanca, onde repousa juntamente com sua mulher.

Texto: Maximina Girão Ribeiro

Fotos: pesquisa Google

Obs: Por vontade da autora e, de acordo com o ponto 5 do Estatuto Editorial do “Etc eTal jornal”, o texto inserto nesta rubrica foi escrito de acordo com a antiga ortografia portuguesa.

  01nov18

 

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