Filha das narrativas literárias, Mónica Baldaque comunica por duas linguagens que se complementam, a literatura e a pintura/desenho. A temática debruça-se nas varandas do Douro, nas suas encostas, nos seus rendilhados e no firmamento de corredores bordados em bainhas abertas.
Com sentimentos enraizados no Douro, o regresso de Mónica Baldaque acontece no Auditório Municipal do Peso da Régua. Uma exposição de pintura onde a paisagem é “pessoa” e tema das memórias registadas nas suas telas. Com singular poesia das cores, representa os socalcos onde “caminhava devagar, descalça, pelos bardos da terra quente” agasalhada pelo manto de leves neblinas, agarrando “A raiz vermelha do amor”.*
Não se cansa “de pintar a terra do Douro”, faz da cepa o seu ex-libris, e do serpentear crescimento, uma pincelada livre e singela.
Um traço quase ingénuo, como que visto aos olhos da sublime inocência, imprime, talvez, alguns resquícios de saudade. O seu mundo inesgotável de ideias são um testemunho do amor pelas paisagens imersas da identidade duriense.
A narrativa desperta o sonho, o sonho de criança que, com o decorrer dos anos, guardou e adensou dentro de si. A terra mãe é doce e genuína. Nela entregou os seus sentidos, nela aprendeu o suave canto das aves, nela partilhou o riso rubi das romãs. O leque parece assumir uma forma de expressão misteriosa e romântica a contracenar a corrente realista. E no seu “olhar a memória” a panorâmica desenvolve um clima tímido, um clima de mistério e incerteza, aquele enigma devolvido a um público que tenha a sensibilidade e capacidade para ler, pinceladas soltas, nas esquinas pregueadas do xisto.
Texto e fotos: Lurdes Pereira
01dez18