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ESTÁ (QUASE) AÍ O 40.º FANTASPORTO! – QUATRO DÉCADAS DE “AMOR PELO CINEMA”

E aí está, o 40.º Fantasporto. São treze dias de Festa para o Mundo do Cinema, de 25 de fevereiro a 08 de março, no Teatro Municipal do Porto – Rivoli, com o apoio da Câmara Municipal do Porto, onde produtores, realizadores, atores, atrizes, distribuidores e público se fundem num programa multifacetado, com filmes de todas as proveniências e géneros. Não é, assim, de admirar que, a par de um filme de ficção científica ou de terror, seja exibido um drama intimista, um documentário, um filme de autor ou até uma obra de cariz experimental.

Será um ano de festa, de celebração, de recordação dos grandes nomes do cinema que o fantas catapultou para o estrelato. Também nomes grandes do Cinema têm passado pelo festival, entre eles, Max von Sydow, Guillermo del Toro, Wim Wenders, John Hurt, Rosana Arquette, Danny Boyle, Ben Kingsley, Paul Schrader, para apresentar os seus filmes. Será um ano de homenagens. A estrutura competitiva será a mesma. Exibir-se-ão grandes clássicos no FANTASCLASSICS. Haverá CINEMA. E ainda conferências, debates, Q&A´s, escolas de cinema que mostram os seus filmes, apresentações de livros, exposições de Artes Plásticas, apelando sempre à criação do gosto cultural.

A programação, sempre muito recente, incorporará produções em Antestreia Mundial, Internacional e Europeia que fazem vir ao Porto dezenas de jornalistas e distribuidores estrangeiros para ver em “primeira mão” os filmes que ainda vão entrar no circuito comercial. Em paralelo, realizam-se também as Industry Screenings, um meio de ligação à Indústria do Cinema. Homenageados serão vários, sendo que um deles, amigo do Festival de há longa data, será o realizador Julian Richards do qual serão exibidos 5 filmes e a sua JINGA FILMS cujos filmes mais marcantes terão exibição garantida. De volta estará também o mais recente cinema vindo de Taiwan. E muito mais há-de vir. Seja bem-vindo ao Mundo das Artes, ao Porto do Cinema. Bem-vindo ao 40.º Fantasporto.

 Promover o Cinema de Qualidade

Confrontados com quatro décadas de Fantasporto, há que refletir sobre a situação dos que, como nós, trabalharam toda a vida para dignificar a Cultura, a cidade do Porto e o nosso país. Para já, nada foi fácil. Pior é verificar que, agora, tudo está muito mais difícil.  Vejamos.

A Nível Internacional

Hoje, o Fantasporto é um dos três mais importantes festivais de cinema fantástico e está entre os 60 festivais generalistas mais relevantes, a nível mundial.
Foi de Mèliès a Renoir, dos grandes do expressionismo alemão a Cocteau até ao cinema dos anos 60 e 70, trazendo as origens do cinema aos espectadores do Fantasporto.
Trouxe ao Porto nomes que ganharam Óscares de Melhor Filme como Guillermo del Toro ou Danny Boyle.
Descobriu quase todos os nomes reconhecidos no cinema de hoje. E gente que venceu prémios maiores nos festivais de Cannes e Veneza.
Teve, submetendo-se à competição, dos maiores nomes do cinema actual, como Spielberg de que fez também a única retrospetiva de que há conhecimento. Fez também a única retrospetiva autorizada de Walt Disney. E editou livros sobre estas retrospetivas, entre muitos outros.

Trouxe para o Porto os primeiros filmes de realizadores como James Cameron, David Lynch, Peter Jackson, Pedro Almodovar, Peter Greenaway, os irmãos Wachovski , Lars von Trier, Kathryn Bigelow, Danny Boyle, Anthony Minghella, Barry Sonnenfeld, Joel Cohen, Peter Greenaway, Nick Park, Baz Luhrman, Luc Besson, David Fincher, Alejandro Iñarritu, Michael Hanecke, Jaume Balagueró, Dennis Villeneuve ou Darren Aronofsky. Ou ainda Vincenzo Natali que venceu o Festival por duas vezes.

Celebrou aniversários de filmes-culto clássicos, honrado a sua forma original, como “E Tudo o Vento Levou”, “O Feiticeiro de Oz” ou “The Red Shoes”, apresentando-os como foram criados, em grande ecrã.
Qualquer filme que seja convidado, vê os seus produtores aceitar o convite, muitas vezes em antestreia Mundial ou Europeia, porque todos querem vir e sentir este festival de culto. Embora a qualidade, o profissionalismo e a simpatia se mantenham, as condições que mais recentemente oferecemos de acolhimento aos nossos convidados, são menos de ano para ano. Mesmo assim, os realizadores e respectivas equipas vêm ao Porto, e de todo o mundo.

Mário Dorminsky

Para esta 40.ª edição tivemos filmes de 68 países para selecionar o programa que vamos apresentar. E,com muito orgulho, aqui fica a lista desses países, para se poder ver até onde vai o nome do festival.
África do Sul,  Alemanha,  Argentina, Austria, Austrália, Bangladesh, Bélgica, Bielorussia, Bolívia, Bulgária, Brasil, Canadá, Cazaquistão, Chile, China, Chipre, Colombia, Coreia do Sul, Croácia, Cuba, Curdistão, Dinamarca, Eslovénia, Espanha, Estados Unidos da América, Egipto, Equador, Eslováquia, Estónia, Filipinas, Finlândia, França, Georgia,  Grécia, Hong Kong, Holanda, Hungria, India, Indonésia,  Irão, Iraque, Irlanda, Israel, Itália, Japão, Líbano, Macedónia, México, Nova Zelândia, Polónia, Portugal, Quénia, Reino Unido, Roménia, Rússia, Sérvia, Singapura,  Suécia, Suiça, Tailândia, Taiwan, República do Tajiquistão, Tunísia, Turquia, Ucrânia, Uganda, Uruguai, Uzbequistão, Venezuela.
E como a selecção final tinha, obrigatoriamente, de ser muito restrita, destes ficaram apenas 37 países no programa final.

A Nível Nacional

O Fantasporto tem tido um papel relevante na promoção do Cinema Português.
Influenciou o gosto de gerações e mostrou-lhe o cinema que foi feito antes de nascerem.
Tem trabalhado regularmente com centenas de alunos de quase uma dezena de universidades e escolas de cinema, e incentivou as suas carreiras futuras, pondo os seus alunos em contacto livre com os seus convidados e conferencistas.
Muito para além do Cinema que apresenta, o Fantasporto promoveu conferências, debates, workshops, produziu filmes, aconselhou e reviu montagens de filmes novos.
Organizou as Conferências do Futuro, promoveu a Arquitetura e as Artes (as Artes Plásticas, a Música, a Literatura, a Dança). Trouxe a Ciência (a Robótica, por exemplo, os Hologramas). Trouxe os Desafios da Modernidade e a Ética como temas principais de edições recentes sendo que este ano, vai abordar os “Grandes Temas, Grande Cinema”.
Tem sido um impulsionador, desde o início, do Turismo da cidade, muitos anos antes do Porto ser considerado um destino turístico de qualidade. Mas não recebe, e há muitos anos, qualquer ajuda do organismo do sector, apesar de ter trazido milhares de convidados estrangeiros ao longo dos anos a Portugal e ao Porto em particular. Nesta edição de 2020, vão chegar-nos convidados da Coreia do Sul, Filipinas, Japão, China, Rússia, Estados Unidos e Canadá, de toda a América do Sul e, obviamente, da Europa.

Retorno

O Fantasporto tem sido enaltecido e ultrajado, como se incomodasse o seu sucesso. Mas é um nome conhecido em todo o país, como sempre tivemos ocasião de verificar. Amado, mesmo, pelos seus fãs.
É querido na cidade pelos seus habitantes como um evento que tem de voltar todos os anos, e cujo prestígio é usado para falar do Porto internacionalmente.
Mas não está imune à maledicência, aos jogos políticos, nem à falta de equidade de tratamento.
O Fantasporto é também o único festival que tem impacto nos média e reportagens extensas, sim, mas também por causa da sua visibilidade, foi vilmente atacado por essa mesma comunicação social, em 2013, investigado exaustivamente, confrontado com mais de um milhar de notícias falsas, como já se provou amplamente na justiça. Uma campanha negra incompreensível, como nunca se viu, contra um evento cultural e os seus fundadores.  O Fantasporto nunca foi condenado, nem ninguém ligado a ele, mas também nunca foi ressarcido.

Agora

O Fantasporto sobrevive. Enfrentando ainda as lutas que se lhe deparam. Contando sempre com os seus espectadores, o alicerce mais fiel do festival.
Faz-se agora diferentemente, com trocas de serviços e não com patrocinadores, como há para o futebol e para os festivais rock. E todos os anos as Escolas de Artes e Audiovisual vão despejando para o desemprego, para a capital ou para a emigração, dezenas de licenciados. Sem que isso incomode as autoridades, mesmo as locais.

 Os agentes culturais de Portugal, sobretudo os do Norte, vivem sem saber o futuro, olhados muitas vezes como um mal que é preciso exterminar, muitas vezes para que os amigos, filhos e enteados possam ocupar-lhes o lugar. São estruturas independentes feitas com amor, que mirrarão eventualmente, quase sem suporte social, sem reconhecimento oficial, sem medalhas ou ordens disto e daquilo, como dão aos futebolistas, sem subvenções vitalícias. Não têm trabalho certo, ordenados fixos, reformas chorudas. Estão entregues à sua sorte.

Note-se que, por exemplo, apesar do fortíssimo investimento publico realizado, não se consolidou, aquando do Porto 2001, o trabalho que vinha sendo desenvolvido pelas entidades culturais independentes, nem foram criadas companhias ou estruturas fixas de Teatro, Cinema ou Artes Plásticas. Ou seja, não se consolidou o trabalho que já estava iniciado e a cidade começou a esvaziar-se desde então de talentos e iniciativas. Ou seja, a esvaziar-se de Cultura. E os lugares foram, muitas vezes, e estranhamente, ocupados por estrangeiros ou pessoas vindas da capital.

Com o Porto em perda constante de influência, com a comunicação social sediada em Lisboa a falar só de política, economia e futebol, e um único jornal diário local, os artistas e congéneres vivem sem divulgação do que fazem, sem quem aos critique ou saúde, perdendo-se a informação das coisas boas que por aí passam, mesmo para os mais atentos. E se essa informação está na net, isso não chega mesmo para tornar a Cultura no que ela é – a representação e a expressão maior de um Povo, da sua Alma, Sensibilidade e Criatividade.

É tempo de mudar. Sobretudo, de acabar com o soberbo desprezo a que a Cultura de regime vota os agentes culturais independentes. Estes são os novos pobres portuguesesSão os sem-abrigo culturais.

Nós, o Fantasporto

O Fantasporto, felizmente, já foi reconhecido oficialmente. Tem a Medalha de Mérito Cultural do Estado Português, a Medalha de Ouro da Cidade do Porto dada no tempo de Fernando Gomes. Mas luta como no início, cada ano, pelo que já lhe devia chegar com uma vénia. Não se esqueçam nunca que nascemos no Porto e, como portuenses, lutamos enquanto pudermos.  E 40 anos mostram que somos resilientes. Por isso, aqui estamos, nesta celebração de uma data a que poucos conseguem chegar, falando em nome dos que não têm a nossa voz, continuando com um projeto pioneiro e de sucesso, reconhecido no Mundo inteiro- algo muito importante- e que nos dá energia e perspetivas de futuro.

Texto: Beatriz Pacheco Pereira e Mário Dorminsky / EeTj

Fotos: Arquivo EeTj

01fev20

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