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Luís Reina: “No Porto… a Cultura é só para quem tem nome”

Luís Reina, fotografo, aguarelista. 50 anos. Tripeiro. Nasceu no Porto.

Como bom tripeiro não tem papas na língua. Fala… fala e diz muitas verdades.

Fala de si. Fala dos seus projetos. Fala, apaixonadamente, das artes que o ligam à vida.

É crítico. É senhor do seu nariz.

Viajante. Senhor do Mundo. Ama as pessoas, gosta das antigas civilizações, tem uma enorme paixão pela Ásia, e ama as pessoas, convivendo, “absorvendo-se” na interculturalidade.

Luís Reina gosta de falar, e fala. Mas gosta de pintar, e pinta. É aguarelista.

Conhecemo-lo como fotógrafo e depressa passou a escritor e depois a um orador nato.

Ao nosso lado, esteve, na Casa dos Açores do Norte, onde fizemos esta entrevista, o nosso colaborador José Manuel Tavares Rebelo.

 

 

Luís Paulo Reina é o nosso convidado.

Nasceu no Porto a 21 de junho de 1962.

Viajar sempre foi a sua paixão, associando à mesma, a fotografia.

A partir de outubro de 2000 “desenlaça-se” e parte à conquista do mundo artístico, com um sem-número de exposições, prémios e outras coisas valorosas, que identificam, no fundo, este nosso nobre convidado.

O currículo é enorme. A pessoa: gentil, faladora… afável.

Luís Reina na primeira pessoa do singular a às vezes na primeira do plural:

 

 

 

 O Luís Reina já ganhou alguns prémios dignos de referência (ver todo o currículo em http://photoluisreina.blogspot.com ), o que releva e revela a importância e a qualidade dos seus trabalhos e que não gosta lá muito das novas tecnologias?!

É verdade, já ganhei alguns prémios. Sempre fui um bocado avesso à internet, tudo o que é tecnologias não me atrai. Eu ainda tive fotografia analógica, a rolo… à antiga portuguesa. A fotografia digital acaba por ser mais económica …

 

Ainda vai à “sala da luz vermelha”?

Não, mando revelar a um fotógrafo. Mas aprendi a técnica. Aliás, o meu primeiro curso, tirado no Espaço “T” pelo orientador e professor Luís Miguel Ferraz, foi de técnicas de revelação, mas acho que, hoje em dia, não se justifica… pelo preço dos produtos que têm uma validade muito curta, e eu, apesar de gostar muito de fotografar sou também um bocado preguiçoso.

Portanto, a minha fotografia, em geral, é uma fotografia de viagem dentro de diversas vertentes, porque não gosto de por epítetos às fotografias: para mim fotografia… é fotografia, não interessa se é de natureza, de viagem, se é de arqueologia, se de que é: é fotografia! É arte fotográfica!

 

A fotografia é uma paixão.

O gosto pela fotografia nasceu, em mim, do gosto por viajar. O meu lema, e é o que está bem destacado no meu blogue: “Viajar é a minha Paixão. A fotografia é o meu amor!”

Conhecer novas culturas, novos países é, sem dúvida, a parte mais fascinante. A fotografia veio por acréscimo.

 

Por falar em “Viajar é a minha Paixão”, lembrei-me de uma frase da Sophia de Mello Breyner em que ela define “viajar” em três palavras: “Viajar é Olhar!” (José Manuel Tavares Rebelo)

Exatamente.

Com a fotografia conto, às pessoas daqui, as histórias que tenho passado ao longo dessas vivências. São vivências de viagem. Cada fotografia é quase como um filho para mim, porque todas elas têm uma história.

 

Tem filhos?

Não. Não tenho.

 

Quais foram os países que receberam a nobre visita do Luís Reina?

Já foram muitos. Primeiro, sou fã da Ásia… da Ásia como continente, porque é enorme e onde se encontram diversas culturas, etnias e maneiras de viver todas diferentes. Digamos que encontramos microculturas.

Portanto, é fascinante começar pela Turquia – um país que adorei-, passando pela tão massacrada Síria, que tem um património cultural e mundial espetacular, ou uns Emirados Árabes Unidos, ou um Uzbequistão, ou uma Índia…

As viagens que faço são no sentido cultural, mas natural também. A parte da natureza também me interessa, mas, essencialmente, interessa-me a parte cultural, monumental… patrimonial.

 

Nunca teve problemas?

Nunca. Acontecem sempre histórias engraçadíssimas. Tenho milhares…

 

Conte-nos uma.

Uma das muitas que me aconteceram foi no Uzbequistão, na cidade de Bukhara, que é património mundial, e quando fiz esse circuito, tinha, em cada cidade, uma tarde livre para fazer compras ou visitas que não estavam incluídas no programa e que podíamos andar sozinhos.

Uma coisa que me aconteceu. Verdadeiramente, estranha: quando pisei a terra do Uzbequistão, e Bukhara particularmente, dei por mim a vaguear pela cidade sem guia e a conseguir-me orientar perfeitamente no meio daquela gente. Achei isso engraçado porque na Europa tenho de andar sempre com guia e com mapa na mão, e lá, no meio de outras pessoas, de outros povos, conseguia orientar-me na cidade.

Quando já de regresso ao hotel, isto ao final da tarde, aproximei-me de uma banca, que não era mais do que uma mesa dessas de piquenique, onde um senhor de muita idade, e para fazer algum dinheiro para comer vendia postais do Uzbequistão da época soviética… postais antiquíssimos.

Mas, eu comprei quinze postais, que não chegavam a um euro…

 

Uma fortuna…

…sim (risos). Mas, depois nesse mesmo local, aconteceu-me uma coisa estranha e muito engraçada.

Nessa mesma banca, além do senhor, estaria o que eu presumo ser um familiar, ou seja, um jovem que se aproxima de mim e que me tenta vender um livro da autoria do mais célebre escritor do Uzbequistão, correspondente ao nosso Luís de Camões. Era um livro de poesia do século XVI. Eu não pretendi comprar, disse-lhe que já o tinha comprado, e o rapaz chamou-me mentiroso.

Entretanto, pergunta-me de que nacionalidade sou, e disse-lhe que era português, e ele: ai sim! Pois este livro está escrito em português!

Ele, pura e simplesmente, abre o livro numa página, e começa-me a ler em português.

Eu achei estranhíssimo. A verdade é que o livro estava escrito em sete línguas. Depois deu-me o livro para o ler, com o intuito de confirmar se eu era, ou não, português. Eu li-o. O rapaz confirmou que era português e conseguiu-me vendê-lo. Tenho o livro em casa (risos).

 

Já agora, quanto lhe custou o livro? (JMTRebelo)

Um ou dois euros.

 

Mas, qual foi o país que, em termos de fotografia, lhe ficou na retina?

Foi o Egito. Era o país que, há muitos anos, queria conhecer. Foi uma civilização que sempre me apaixonou. Aliás, eu sou um apaixonado por civilizações da história da antiguidade e da história clássica. O Egito, como país e como cultura, elejo-o em primeira mão.

Depois, a nível de fotografia – e como sempre gosto de tudo para onde vou, porque tento sempre tirar o bom que cada lugar nos dá -, posso-lhe dizer que o país do qual eu tenho boas fotografias, pelo seu povo, e pelas suas raízes que têm muito de português, é o Sri Lanka. Aliás, a minha primeira exposição marcada para o próximo ano, no Museu D. Diogo de Sousa, em Braga, é sobre o Sri Lanka. O próprio Uzbequistão, em termos de fotografia monumental e patrimonial. Fotografia da natureza: o Douro…

 

E, então, os nossos Açores?! Que tem uma bonita casa no norte de Portugal, onde estamos a fazer esta entrevista…

…os Açores. Pois! A primeira exposição que fiz aqui foi sobre os Açores. É outro paraíso natural que gosto muito, É um local pelo qual me apaixonei.

 

 

Um Homem do Mundo

 

 

Este é um trabalho muito rico, mas rico deve também ser você em termos de bolsa, porque para fazer estas viagens todas, a coisa não deve ser nada barata…

…não é tão caro quanto isso, porque eu não viajo por agências portuguesas.

 

Não me vai dizer que foi como os nossos amigos de Ovar que se meteram numa bicicleta e foram até Macau…

Não! (risos)

Viajo através de uma empresa francesa, também sediada aqui no Porto, e que oferece boas condições. As minhas responsabilidades, para já, permitem-me ter este luxo que não está na mão, nem no poder, da maioria das pessoas, mas também não se pense que é uma coisa tão cara assim…

Posso-lhe dizer que, no ano passado, uma viagem de quinze dias ao Vietnam, com tudo pago, com sete viagens de avião incluídas, quatro cruzeiros, visitas a tudo, não me custou mais do que 1.900 euros.

 

Quantos dias? (JMTRebelo)

Quinze…

 

Pelo preço e interesse imediato, penso que o “Etc e Tal” vai perder por algum tempo o José Manuel Tavares Rebelo… (risos). Mas, não deixa de ser caro…

É uma viagem cara, porque são 1.900 euros, mas depois gasta-se mais dinheiro em bebidas e outras coisas, mas também posso dizer que, em quinze dias, gastei 50 euros! Não sou assim tão milionário.

 

As pessoas não têm noção desses preços, que, por vezes, são mais em conta que certos e determinados destinos turísticos…

É verdade. No meu trabalho, todas as minhas colegas, nas férias, vão para o Algarve. Elas não gastam 1.900 euros, mas, com tudo, acabam por gastar mais dinheiro que em certas viagens que se podem fazer para o estrangeiro.

 

As pessoas que encontramos por esse mundo fora são simpáticas?

São, mas antes de irmos para um lugar temos de estudá-lo. Devemos sempre respeitar as culturas. Sempre as respeitei. Fui assim educado pela minha mãe, Nunca tive problemas!

O que vou dizer pode ser muito bombástico, mas, é assim: para mim o povo mais acolhedor e mais simpático é o povo árabe.

As pessoas confundem um pouco o facto de tudo que processa a religião muçulmana são árabes. É mentira! Os árabes são os povos do mar da Arábia… da península arábica. Esses é que são árabes, por exemplo, os marroquinos não são árabes.

Fui aos Emirados Árabes Unidos e apesar dos aclamados fanatismos que por lá dizem existir, nada vi nesse sentido.

Há uma da manhã andava a passear na cidade do Dubai à espera que chegasse a minha camioneta com destino ao hotel, e não tive qualquer problema, inclusive, fui abordado pela polícia que me pediu a identificação, perguntando-me se estava a gostar do Dubai, se tinha tido algum problema de roubo… e, para meu espanto, além da polícia me acompanhar para não me acontecesse nada e não ficasse ali sozinho, ainda me deu um cartão para que se eu tivesse algum problema os contactasse.

 

Xangai e a sua geminação com a cidade do Porto foi motivo para uma exposição fotográfica, precisamente, aqui na Casa dos Açores do Norte. Há, realmente laços entre Xangai e a Invicta?

Há! São culturas diferentes. Mas há, mesmo que haja um paralelismo antagónico. Tentei fazer esse paralelismo. Vê-se uma panorâmica do Porto, com a sua Casa da Música, e do Teatro de Ópera de Xangai; Câmara do Porto… Câmara de Xangai. Um jardim de Xangai e um jardim do Porto, tudo sempre por uma ótica diferente e uma perspetiva diferente, que é isso que procuro, porque caraterizo-me como um fotógrafo de pormenores… de detalhes.

Acho que o paralelismo é mesmo antagónico! Foi isso que eu quis demonstrar.

O paralelismo nunca se encontra, e se calhar encontra-se!

 

Pois?!

Cabe às pessoas desfazerem essas dúvidas através dos títulos das fotografias. No dia da inauguração da exposição, muitas pessoas abordaram-me perguntando onde é que existia uma paralelismo entre um olhar do Buda e o olhar da pantera do Boavista…

 

Não fale do Boavista porque toda a gente que me conhece sabe que sou boavisteiro(risos)

E eu disse: é assim, leiam os títulos que dei os títulos que dei às fotografias e estabeleçam paralelismo.

 

São trabalhos captados ao acaso?

Nuca ando com máquina fotográfica, só ando com ela quando vou, especificamente, para viagem, ou quando tenho projetos delineados por natureza.

 

 

Há pessoas que o alertam, que o chamam à atenção disto ou daquilo?

Não. É tudo da minha ideia. Aliás, todos os projetos artísticos que tenho são lançados da minha ideia. Os cliques são lançados logo pela manhã …

 

… é nessa altura que começa a estabelecer o projeto? (JMTRebelo)

Exatamente! Por exemplo, este último projeto que fiz do “Cumplicidades” com um grande artista plástico contemporâneo, do Porto, que é o Ricardo da Silva.

 

Já inaugurou? (JMTRebelo)

Já foram as exposições todas!

 

 

“A fotografia é o parente pobre das Artes”

 

 

Como é que se encontra a “fotografia” em Portugal?

Acho, infelizmente, que a fotografia é considerada o parente pobre das artes. Mas não é!

 

O cinema, o teatro têm fotografia…

…até as minhas aguarelas vou buscar inspiração às minhas fotografias.

Mas a fotografia é considerada o prante pobre das artes, se calhar devido à proliferação pelas redes sociais, em que toda a gente tira uma fotografia… e toda a gente as publica nas redes sociais.

Houve um aumento qualitativo ao nível das fotografias, mas há uma grande falta de ideias.

Repare: eu sou do Porto e já vi retratado o Porto de milhentas formas, quase todas da mesma maneira.

Isto tudo é tipo cordeirinho. Se amanhã colocar no Facebook uma fotografia do Porto, de certeza absoluta que ela tiver muito “gosto” e muitos comentários positivos, passados dois dias, já há dezenas de fotógrafos que foram, ao mesmo local tirar fotos e e no Facebook também as publicam.

Por isso é que não publico nada.

O único sítio onde publico fotografia e aguarela é no meu blogue.

 

Já fez alguma exposição de aguarelas? (JMTRebelo)

Já!

 

 

“O maior inimigo do artista é o próprio artista”

 

 

Você é uma pessoa interventiva na sociedade? Em que aspeto, além do da fotografia e da pintura, está claro? E, já agora, como analisa o estado da sociedade?

Acho que em termos culturais não estamos nada bem!

Costumo dizer que o maior inimigo do artista é o próprio artista.

Tenho dezenas de aristas nas minhas mail-list , muitos dos quais dei a mão e fizeram as suas primeiras exposições através de mim – abri-lhes espaços! -, e eles, pura e simplesmente, raramente divulgam eventos; quase nunca aparecem nas exposições… como se tivessem medo de perder o seu próprio lugar.

Nós aqui não estamos para tirar o lugar a ninguém. Se eu faço as exposições é para mover um pouco a cultura.

 

Há uma rivalidade incrível entre fotógrafos, e digo-o isso tendo em conta a minha carreira de 25 anos de jornalista…

Há muita! Aliás, o próprio artista é mesmo assim!

 

Gosta de fotografar arqueologia, o que não é muito comum?

Gosto muito. Lá está, gosto muito das civilizações da antiguidade, e procuro sempre o Egito.

A minha próxima exposição de fotografia é no Museu D. Diogo de Sousa, em Braga, intitula-se “ As Fénixes Renascidas” e é uma viagem de 50 fotografias dos mais importantes sítios arqueológicos italianos: Erculano, Pompeia, e depois dois menos conhecidos, Paestum  e Oplontis.

 

Muito bem!De regresso à Invicta, responda-me a uma coisa: o Porto consegue transmitir, através da fotografia, aquilo que ele, na realidade, é?

O Porto são muitas imagens. Infelizmente, e é isso que condeno, nas fotografias inseridas na internet, o Porto é sempre o mesmo. Quais são as fotografias atuais do Porto? Ribeira, Torre dos Clérigos, Casa da Música e Serralves. E o resto? O Porto não tem mais?

 

Sei que tem, e, por exemplo, o nosso colaborador António Amen vai a esses lugares menos conhecidos da cidade.

Repare na panorâmica que escolhi do Porto para a minha recente exposição. Eu poderia ter escolhido o enquadramento da Ribeira com a ponte de D. Luís, que é muito bonito. E por que não representar o Porto da minha infância: o Porto mar. Não o Porto rio! O Porto da avenida Brasil.

Há muitas coisas que o Porto tem para mostrar. Acaba-se por banalizar a própria cidade.

Veja a minha Torre dos Clérigos. A Casa da Música, por exemplo: por que é que nós temos de representar a nível fotográfico o edifício? Há que puxar pela ideia e pela imaginação.

 

 

“Interioridades”; Um projeto “em grande”!

 

 

E tem um livro.

Sim. Foi lançado, recentemente, o “Fragâncias de Luz”, onde participa um coletivo de fotógrafos. Mas gostaria de lançar um livro, meu (só meu) de fotografia. Esse livro seria sobre Marrocos. E sobre Marrocos porquês? Primeiro, porque me fascinou as cores do deserto, depois porque vem no seguimento destas três exposições do projeto “Cumplicidades”, e, por fim, porque estou a tentar, ou vou tentar, abordar, através da embaixada de Marrocos, um patrocínio, e vou propor que esta exposição vá, mais precisamente, a Marraquexe.

Infelizmente, patrocina-se futebol. Patrocina-se tudo e para a Cultura pouco ou nada se patrocina.

 

 

Portanto, um 2013 repleto de grandes atividades?!

Sim. O objetivo individual é esse, o do livro e poder fazer a exposição em Marrocos, e depois aquele que será o meu grande projeto para o próximo ano, ficando, desde já o convite para os leitores do “Etc e Tal Jornal”. O projeto é mesmo muito grande!

Foi um projeto pensado, inicialmente, para o Porto. O projeto chama-se “Interioridades” e foi feito para o Clube Literário do Porto, que, infelizmente, deixou de existir.

Esse projeto começou por um convite, feito por mim, a uma pintora, e essencialmente poetisa e escritora, a Ana Cláudia Albergaria para fazermos uma exposição em conjunto. Eu com fotografia, ela com pintura, em que o projeto chama-se “Interioridades” que, no meu caso tem o subtítulo “Para Além de…”  e no dela “Intimidades”.

Ou seja, a minha amostra vão ser vinte fotografias de vinte janelas de todo o mundo; desde janelas de palácios reais, de castelos a residências normais, em que eu vejo o lado do exterior para o interior.

Ela vai fazer o “Intimidades”, ou seja, a Ana Cláudia, sem conhecer as minhas fotografias, vai imaginar o que dentro dessas janelas existe, e vai dar o lado íntimo das pessoas que estavam dentro da casa. O que lhe dá, depois, um olhar humano do interior para o exterior.

 

Isto irá acontecer…

…irá acontecer  no Museu D. Diogo de Sousa, em Braga, porque foi a única sala disponível, e é um local que me diz muito, onde tenho portas abertas e onde tenho levado muita gente a expor. Tenho, entretanto, que realçar o papel da sua diretora, que é uma pessoa fantástica, uma senhora com “S” dos grandes.

 

Pode dizer o nome da senhora…

Drª Isabel Cunha e Silva. É uma pessoa que está no meu coração. É a minha mãe das artes. É uma senhora fabulosa e com uma capacidade fantástica.

Portanto, este projeto cresceu, e, então, um dia de manhã deu-me um clique, falai com a senhora, disse-lhe que ia levar a exposição para o museu dela, porque aqui, no Porto, o projeto já não poderia acontecer.

Isto vai ter um projeto cultural aliado à exposição – ao qual vou chamar a vossa atenção e da restante comunicação social-, em que todas as salas de exposição temporárias do Museu serão ocupadas, para fazer uma grande exposição com mais oito artistas, vou lançar alguns artistas, e todas elas terão um subtítulo ao “Interioridades” de cada exposição.

Vamos ter escultura, marionetas feitas por crianças deficientes, pintura e fotografia.

 

Uma feira de artes?

Muito mais do que uma feira de artes!

Aliado às exposições culturais – isto em maio e junho do próximo ano -, teremos lançamento de livros, tertúlias sobre “interioridades”, nas quais participarão, entre outros, a Ana Albergaria, que é uma socióloga e que vai tentar levar historiadores e psicólogos para esse encontro.

Aí falar-se-á sobre violência doméstica; crianças deficientes e de toda uma abrangência do comum.

Haverá ainda uma tertúlia sobre fotografia de viagem. Uma palestra por um grande historiador, um grande nome do Porto, que é o professor César Santos Silva.

Dois dias serão destacados para a presença de duas associações, da qual eu faço parte, a Associação  dos Antigos Alunos da Escola do Adro, em Matosinhos, e  a Associação Cultural dos Amigos do Porto.

 

Uma coisa em grande, que o “Etc e Tal jornal” irá, por certo, acompanhar de perto…

… tem de ser em grande!

 

Já não será, porém, no “Braga Capital Europeia da Juventude”, que se realiza este ano…

…não! Aquilo está muito mal organizado! E eu se calhar consigo, em dois meses, levar mais divulgação e mais pessoas a Braga do que eles conseguiram até ao momento.

Estes, portanto, vão ser os maus projetos, além de outros que estão em curso. Inclusive, haverá um relançamento, completamente renovado, deste meu projeto “Histórias Soltas”…

 

… tudo isso o apaixona!

Apaixona-me! Porque o mais importante tentar, de certo modo, tirar as pessoas do marasmo.

 

Coisa que não é fácil!

Não… não é fácil! Mas posso-lhe dizer, por exemplo, que, aqui na Casa dos Açores do Norte, conseguimos reunir quase uma centena de pessoas.

Em Braga será muito mais difícil. Para lá, as pessoas serão muito mais comodistas. Se calhar pensam que Braga fica na China, quando fica a vinte minutos do Porto…

 

 

“No Porto, a Cultura só funciona por lobbies”

 

 

Braga é aqui ao lado. Ao lado do Porto.

Exatamente. E esse museu, onde se realizará a iniciativa, é um museu nacional, que merece muito, que sempre me abriu as portas e uma vez mais relevo a diretora como toda a sua equipa.

Eles já me dizem que o Museu é a minha segunda casa!

Esta vai ser a minha quarta exposição no Museu D. Diogo de Sousa. Nestes meses corro sempre para lá, ou por exposições minhas, ou por exposições de outros artistas que eu lancei.

E recorro ao Museu D. Diogo de Sousa porque, infelizmente, no Porto – e custa-me muito dizer isto, porque é a minha cidade -, tudo funciona por lobbies.

A Cultura é só para quem tem nome. Não é para o melhor… é para quem tem nome. Quem não é conhecido, nem sequer interessa focar. É uma pena!

Posso-lhe dizer, a si e aos leitores do “Etc e Tal jornal”, que aqui no Porto, só na Casa dos Açores e na “Axa Seguros” é que tenho as portas abertas para as minhas exposições.

Um dos males da Cultura é que, infelizmente – e não só no Porto-, gastam-se dinheiros públicos a fazerem-se centros culturais, museus, coisas fantasmagóricas, para darem de comer a vinte ou trinta pessoas e que, ao fim e ao cabo, todo ano estão encerrados, ou só fazem uma ou outra exposição de maior relevância.

 

Pois…

Há guerrinhas entre cidades… entre estatutos – agora a Cultura é também um campo de “estatuto”.

Apesar de ter nascido no Porto, vivi uma parte da minha vida – doze anos-, em Matosinhos, e, na altura, foi colocado que este meu projeto das “Histórias Soltas” poder ir a Matosinhos. Uma pessoa, um grande amigo meu que era do “Matosinhos Hoje”…

 

….que já fechou!

Infelizmente já fechou…e que é o Faria de Almeida,

 

 

“A Comunicação Social é racista!”

 

 

Tenho por lá um amigo também… o Eugénio Queirós com quem trabalhei na “Gazeta dos Desportos”. Um excelente jornalista!

Também é meu amigo e amigo da família.

E, portanto, a Câmara de Matosinhos nunca deu uma única resposta, ou disponibilizou um espaço para se expor esse meu projeto.

Um caso mais alarmante é o Fórum da Maia, onde pedi para fazer essa exposição, fui muito bem recebido, exigiram-me mil e uma coisas, desde CD com as obras todas… promessas d mais promessas e, no fundo, estão as salas vazias, uma das quais só serve para a World Press Photo, e… mais nada.

Estão ali pessoas a gastar dinheiros públicos e aquilo para nada serve!

Deppis há a comunicação social…

 

A comunicação social?

Sim. É muito racista!

Se é uma pessoa que tem nome, até fazem fila indiana, ou se calhar à pancada, para tirarem fotos ou imagens para fazerem a divulgação dessas exposições. Se são nomes desconhecidos, nem uma breve menção, realmente, se consegue.

Este é o quadro real da situação!

Toda a exposição que tenho. Todas as fotografias têm um título, porque eu também tenho um nome.

 

Pois muito bem… mas em termos de exposições as coisas não ficam por aqui…

… não! Terei a minha primeira exposição internacional, de aguarela, promovida pela Galeria Vieira Portuense, onde nunca lá expus e onde ninguém conheço.

Concorri também à Bienal e aguarelistas de Xangai. Para já, passei a primeira fase…

 

E… ficamos por aqui.

Gostaria, já agora, se puderem estar presentes, de falar com todos os artistas que fazem parte do projeto “Interioridade”, acho que vai valer a pena!

O Porto vai estar em peso em Braga, porque os artistas são todos da cidade Invicta.

Convido o “Etc e Tal jornal” a fazer essa cobertura.

 

 

O nosso jornal vai apoiar a iniciativa em termos de divulgação. Fica a promessa.

 

 

 

Texto: José Gonçalves

Colaboração: José Manuel Tavares Rebelo

Fotos/Aguarelas: Luís Reina

 

 

 

 

(01-jun-12)

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4 Comments

  1. Manuel Conde

    Tive ontem a oportunidade de conhecer o Luís Reina na visita a Interioridades no Museu D. Diogo de Sousa, em Braga . Como tal, adorei ler esta sua entrevista pois foi este mesmo o Homem que tive o privilégio de ontem conhecer. De coração aberto aberto a falar genuinamente das suas mágoas e das suas paixões … Um Homem do Porto, mas sobretudo, um Homem do Mundo que irradia Cultura …

  2. MRIBEIRO

    Olá, Luis,

    Havia muito a dizer para alem daquilo que foi dito como sabes.
    Don´t Give Up é o caminho neste país onde se pode dar razão à não existencia de ministro da cultura, pois afinal de contas o que é isso de cultura (quadro que combine com as cores do sofá)? ou arte que as pessoas visitam nos grandes espaços para a mesma e que saem de lá com um vazio ainda maior do que quando entraram pois não perceberam o que viram, apesar de alguma dela até fazer sentido depois de explicada; daí a arte de rua estar a ganhar dimensão e cada vez maior pois deve ser entendida e acima de tudo deve tocar e fazer quem a vê sentir algo.

    Abraço de alguem que tb luta por sentir e ser feliz.

    Mribeiro

  3. Conceição Fernandes

    Oh, Luis, sem dúvida que és um homen do mundo…
    Conhecendo-te à tantas anos – não digo décadas, porque parecemos mais velhos – são eles que te dão a experiência e maturidade de falares e expores todos os assunto que comentas.
    Se cada um de nós tivesse um pequeno grão de areia de toda a vontade de viver, conviver, e viajar sempre num respeito e admiração por todas as outras culturas, que tu tens…seriamos um imenso jardim … com canteiros de cores diferentes…
    Parabéns por todo o trabalho que já podes mostrar…Felicidades para os que virão. Beijos e Abraços. Conceição

  4. Carla Ribeiro

    Luis
    Mais uma vez fostes fantastico….
    Falar sobre o nosso Porto é sempre polémico, so nos mostram o que é lindo e não mexe com as suscetibilidades de ninguem…..
    Temos mesmo que fazer a ronda para poderes mostrar a realidade noturna da nossa cidade para quem tantos viram a cara pois é bem mais facil……
    Adorei a tua “tertulia”….. fantastica, parabéns….
    Bora lá abordar os temas polemicos e que mexem e agitam….
    beijinhos
    Carla

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