O “Espaço T” faz 18 anos de existência e a prenda de aniversário não podia ser pior. a instituição particular de segurança social, sediada na cidade do Porto, pode vir a encerrar as suas portas, deixando, assim, na rua, centenas de pessoas e diversos projetos dignos de registo no âmbito cultural e de integração social.
Uma “dívida” de 150 mil euros poderá deitar por terra todos os objetivos desta associação portuense.
Jorge Oliveira, presidente e fundador do “Espaço T”, em carta aberta publicada na internet, explica tudo o que se está a passar com a instituição, desenvolvendo, entretanto, diversas ações, entre as quais uma petição destinada à Assembleia da República e ao governo.
Na referida carta aberta, Jorge Oliveira começa por salientar o facto de que quando fundou o “Espaço T” “era um jovem que acreditava nos sonhos, em mudar o mundo e nessa minha luta e sempre com a ajuda de uma grande equipa, conseguimos transformar utopias em realidade”.
“Contribuímos para ver sorrisos em pessoas que já os haviam perdido e essas mesmas encontrarem novas vidas quando já quase nada tinham”
“Este sonho de quase 20 anos”, continua Jorge Oliveira, “tem sido uma luta diária mas que vale e valerá sempre a pena, quando vejo o nosso porteiro João Pedro, um rapaz com trissomia 21, feliz por trabalhar e se sentir o melhor porteiro do mundo, quando a Manuela diz que, no Espaço t ,encontrou a sua casa e deixou de tentar, diariamente, o suicídio o que a levava, diariamente, ao Hospital de Sto. António (…).
Quando vejo a Alexandra, a razão deste sonho ainda faz mais sentido, sempre na sua cadeira de rodas a sorrir e agora a lutar pelo seu 12º ano e porque, por exemplo, a equipa que comigo trabalha, apesar de terem parte dos seus ordenados em atraso dizem-me Jorge não desistas, e vejo-lhes um sorriso no olhar”.
Exemplo de muitos exemplos de vivências extraordinárias que, poderão estar a caminho do fim. Mas no “Espaço T” há quem resista…
“Este ano fazemos 18 anos de existência e o slogan que decidimos criar para 2012 foi: “Nós existimos porque a felicidade existe”, mas, a verdade, é que tem sido um ano duro, pois somos uma associação onde o único lobby é a força de acreditar no mundo, onde os Homens têm nome e valem por si. No fundo, o mundo que todos sonhamos”, escreve Jorge Oliveira.
“Há 6 anos o Espaço t”, continua o presidente da associação, “teve talvez um dos maiores sonhos realizados: construir a sua sede através de fundos comunitários, um edifício na cidade do Porto, onde, hoje, centenas de pessoas realizam nele os seus sonhos.
Foi um projeto quase utópico porque apesar de financiado a 90 por cento, tivemos que suportar 10 por cento do valor, pagar juros e outras tantas coisas. Mas mais uma vez conseguimos transformar sonhos em realidade”.
Prémios e convites de referência
E, para como que consubstanciar o projeto, as atividades desenvolvidas pelo “Espaço T” têm sido reconhecidas por outras instituições.
Jorge Oliveira fala deste facto com orgulho.
“Ao longo destes anos ganhamos muitos prémios em áreas distintas tendo mesmo a Fundação Gulbenkian nomeado o Espaço t para representar Portugal no Prémio Internacional Raymond Georis Price: The Mercator Found.”

“Em 2001, o Espaço t criou o seu departamento de formação dirigido a pessoas excluídas e com graves problemas socias, a
funcionar numa escola primária cedida pela Câmara Municipal do Porto. No entanto, e apesar do excelente trabalho que fazemos neste departamento, onde já formamos varias centenas de alunos, o Estado penalizou-nos em 70 mil euros por não termos chegado com todos os alunos ao fim em alguns cursos, a verdade é que os que chegaram hoje são homens e mulheres diferentes.
Mas, na política dos números, mais do que as pessoas, interessam os rácios e as metas. Por isso, os 70 mil euros que foram gastos com os formadores, formandos, e tudo o que uma escola necessita, são agora uma divida para nós” .
Só que, ainda de acordo com Jorge Oliveira, essas “ são as regras do jogo… são as leis dos números. Por isso, neste momento o Espaço t tem uma divida de 150 mil euros; 70 mil das penalizações e 80 mil ainda fruto da aquisição da nova sede e as obras na filial da Trofa”.
“Sempre cumprimos e vamos continuar a cumprir e a trabalhar para a excelência. Por isso hoje decidi escrever-lhe a si e pedir-lhe 1€ para que esta associação possa continuar a sonhar e ajudar a criar mais sorrisos, como por exemplo o do Álvaro, um homem com 50 anos que frequenta o Espaço t há uma década e que, este ano.
está contentíssimo porque iremos leva-lo, com outros alunos, a Paris tendo ele confidenciado que já conseguiu juntar o dinheiro para a sua viagem. Diz ele que nunca andou de avião, vai ser bom vê-lo sorrir e sentir Paris”.
“Festa” no Rivoli Teatro Municipal
E, pronto, o “Espaço T”, para sobreviver – e infelizmente é nisto que nós andamos – pede-lhe que “deposite 1€ na conta do Espaço t domiciliada na Caixa Geral de Depósitos com o NIB 0035 01960002 0872 9304 4.
“Aquilo que eu lhe prometo dar é que vai poder exigir-me a vida e toda a responsabilidade de lutar por esse mundo melhor.
É um compromisso entre si e eu. Se eu falhar exija-me, mas também por outro lado quando vir uma atividade do Espaço t,
pense que também está lá, não pelo euro mas porque esse euro fez com que pudéssemos continuar a fazer com que o mundo dos Homens pudessem também ter dias de felicidade.”
“Como, agora, nos meses de maio e junho onde iremos realizar o XIV Corpo Evento – Ciclo de Espetáculos em Teatro e Dança, onde mais de 100 homens e mulheres de hospitais psiquiátricos e cadeias e 70 dos quais do Espaço t vão contar histórias, a uma só voz, para fazer do Rivoli uma grande sala de espetáculos onde todos os Homens são iguais”, concluiu Jorge Oliveira.
Fica história real e uma luta que, por certo, não vai ficar por aqui…
EeT
(01-jun-12)