José Lopes / Tribuna Livre
Por proposta dos assistentes operacionais da escola “EB” António Dias Simões, que foi incluída no Plano Anual de Atividades do Agrupamento de Escolas de Ovar, têm-se desenvolvido em diferentes momentos deste ano letivo (2013/2014) atividades de caráter pedagógico com a colaboração da Direção do Agrupamento e a Coordenação do respetivo estabelecimento de ensino, com o objetivo de homenagear o patrono da escola, o poeta António Dias Simões, em áreas que esta figura ovarense se destacou, como a tradição reiseira ou a educação.


Depois de uma primeira fase, que se realizou no dia 8 de janeiro com uma sessão na Biblioteca Escolar desta escola, sobre “A influência de António Dias Simões nos primeiros acordes do cantar dos reis” que teve como oradores convidados, o padre Manuel Pires Bastos e João Costa, ambos membros da Troupe de Reis JOC/LOC. Momento em que foi enaltecida a iniciativa dos assistentes operacionais pela Diretora do Agrupamento, Cecília Oliveira, e recordado António Dias Simões pelo não docente Joaquim Fidalgo (Licenciado em História), que se dirigiu aos alunos sobre o patrono da escola, como tendo sido “principalmente historiador, poeta e dramaturgo” referindo ainda a sua ligação ao ensino, em que, “abriu escolas de ambos os sexos na vila de Ovar” bem como outras áreas em que se evidenciou, a exemplo, da pintura, miniaturista e calígrafo.
Seria em torno da tradição reiseira ainda fresca na memória coletiva que alimenta e preserva as particularidades do cantar os reis em Ovar, que António Dias Simões seria referido pelos veteranos e animadores reiseiros presentes, que destacaram a importância que teve o patrono da escola no surgimento desta tradição, a que o Padre Pires Bastos se ligou mesmo antes de ser pároco em Ovar.
O humanismo, a simplicidade e a diversidade da intervenção social e cultural que caraterizaram a vida e obra do homenageado, acabou por centrar a atenção das palavras de Manuel Pires Bastos em duas sessões, que envolveram mais de duzentos alunos do 2º ciclo, muitos deles já familiarizados com a tradição, através das troupes escolares.
Por isso, o Padre Bastos lançou o repto para que os alunos ajudem a preservar o característico cantar os reis, sensibilizando mesmo, para a, cada vez mais indispensável participação ao nível do instrumental, tendo em conta o fato de muitos dos alunos presentes frequentarem aulas de educação musical empenhando-se assim, “no espirito solidário e fraterno, tal como o patrono da vossa escola idealizou e praticou” concluiu.

Já João Costa recordou também, que António Dias Simões “tinha uma facilidade enorme para criar as letras”, sendo conhecido o encontro entre ele e Alfredo Cerqueira Alves, outro dos impulsionadores dos reis em Ovar. Uma tradição que teve por base os instrumentos de cordas, e como acrescentou este antigo reiseiro fundador da Troupe de Reis JOC/LOC “tentou-se outros, como o acordeão mas não surtiu efeito” lembrou João Costa, que, com o Padre Manuel Pires bastos foi recordando e reafirmando pormenores do típico cantar os reis em Ovar que ajudaram os alunos a ficarem mais sensibilizados para conhecerem e valorizarem a vida e obra do patrono da sua escola.

“A Educação na I República”
Para assinalar a segunda fase das atividades propostas pelos assistentes operacionais no âmbito da homenagem ao patrono da EB António Dias Simões, realizou-se no dia 16 de maio no Polivalente da escola uma palestra proferida por Alberto Sousa Lamy (historiador), que abordou a época em que António Dias Simões se destacou no desenvolvimento do ensino em Ovar.
Como reconheceria no final o vice-presidente da Câmara Municipal de Ovar, Domingos Silva, que cumprimentou os presentes, os convidados e os assistentes operacionais que assumiram a proposta de homenagear o patrono da escola que tem como coordenadora de estabelecimento, Teresa Simão.
Foi uma “conversa agradável sobre o patrono”, realçando que, “é sempre um gosto ouvir o Dr. Alberto Sousa Lamy com quem se aprende muito, tanto mais, num espaço como é a escola!”. O autarca manifestou ainda, ter um, “carinho grande pela família ligada ao Orfeão de Ovar”, porque, como concluiu, “António Dias Simões era um homem da cultura”.
Nesta conversa muito familiar, em que esteve também presente a bisneta de António Dias Simões, Alexandra Gondin Pacheco, a diretora do Agrupamento de Escolas de Ovar, Cecília Oliveira, começou por apresentar a iniciativa, como uma “singela homenagem ao patrono”, felicitando por isso a ideia dos assistentes operacionais da escola, em nome dos quais, Joaquim Fidalgo, lembrou que a atividade “O ensino em Ovar na Primeira República” integra-se no Plano Anual de Atividades do Agrupamento, no âmbito de uma proposta dividida em diferentes fases, que já abordou, através de uma palestra com os reiseiros, Padre Pires Bastos e João Costa, “A influencia de António Dias Simões nos primeiros acordes do cantar dos reis”.

Joaquim Fidalgo, que fez uma breve apresentação do palestrante convidado e do patrono homenageado, deu a palavra ao historiador, Alberto Sousa Lamy, “para nos falar dessa época em que a taxa de analfabetismo era esmagadora…” e assim, acrescentou, “nos transportar ao dealbar da Republica Portuguesa, em que não era de um dia para o outro que, se mudavam mentalidades, os rapazes e as raparigas deixarem a enxada e o dedal e irem para as escolas”.
Entre os muitos apontamentos da história local que Alberto Lamy partilhou sobre a vida e a obra do poeta António Dias Simões, que nasceu a 29/09/1870 e faleceu a 22/12/1922, foi inevitável falar de uma “família de artistas” em que disse, ser ” justo salientar” a sua filha Maria Amélia Dias Simões ou a neta Edwiges Helena Gondin, bem como falar das obras de António Dias Simões, que incluíram versos, peças de carnaval, operetas e dramas.
Enquanto no capítulo do ensino, destacou-se ao fundar com o comerciante Francisco de Matos, a 10/10/1911 o Colégio Júlio Dinis, para o sexo feminino, num prédio da esquina da rua Coronel Galhardo que viria a encerrar portas em 1916. Para o sexo masculino abriu também uma secção do Colégio Júlio Dinis em 1912 na quinta da Devesa, na rua Alexandre Herculano, que viria a ser visitada em 1913 pelo ministro da Instrução. Época de mudança da monarquia para a I República a que não resistiu o Colégio que funcionou na atual Santa Casa da Misericórdia, “Sagrado Coração de Jesus e Maria” (1897 a 1910), ainda que o novo governo fomentasse a abertura de escolas em todo o país.
Recorrendo a referências do livro de Zagalo dos Santos sobre António Dias Simões, Alberto Lamy realçou que, “foi um dos filhos de Ovar melhor dotados para deixar de si, na lembrança dos seus conterrâneos, um rasto imperecível. Poeta, dramaturgo, historiador, calígrafo, miniaturista, tudo isso foi e de tudo poderia legar mais documentos de raro valor se, a cada um dos ramos de atividade mental, tivesse associado estudo sério, cuidados de acabamento. Foi um perdulário do talento com que o destino o mimoseou…”.
O palestrante não resistiu a uma incursão no estado atual da imprensa local, que como disse, não se sabe bem de que corrente política é porta-voz, bem ao contrário do tempo em que António Dias Simões também escreveu em jornais locais, como a Folha de Ovar e a Pátria em que publicou a sua obra de investigação histórica – Biografias.
Com mais esta iniciativa, os assistentes operacionais da EB António Dias Simões propuseram-se contribuir, para se “Tirar das prateleiras do tempo os nomes das individualidades que perpetuaram o nome de Ovar nos anais da história local…” como é afirmado na proposta de homenagem a António Dias Simões, “um grande arauto das letras vareiras, que a escola se honra ter como patrono”
Fotos: José Lopes
01jun14
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