José Luís Montero / Tribuna Livre
Saída limpa. Passou o camião do lixo. Limparam a rua; o bairro; a aldeia; a vila; a cidade; o País; os cidadãos, aos cidadãos… Mentem. Não dizem a verdade. Ocultam. Saída limpa e o reformado tem o dinheiro da sua reforma limpo; o funcionário tem a algibeira cheia de migalhas; o trabalhador tem os seus direitos escritos com normas sem direito. Saída limpa e os alunos parecem que são carga; parece que os professores não são, conjuntamente com os médicos, uma das profissões-dedicações mais úteis da sociedade. Saída limpa e a Saúde Pública caiu no meio do deserto; saída limpa… Não, não falam verdade. Saída limpa de emprego, cheia de desempregados; saída limpa com a Banca a chupar dinheiro público; saída limpa cheia de pobreza. Gente que ficou sem casa; gente que ficou sem vida; gente com saída limpa para o inferno da sobrevivência. Enganam e querem votos; enganam e discursam cheios de convencimentos. Não dizem a verdade, não; não falam com o coração limpo e cristalino.
Conheço pais; mães; filhos; netos; amigos e conhecidos situados na saída limpa; tão limpos que não precisam de tomar banho para estar limpos. Europa, Europa… Saída limpa para o meio da rua onde a poesia foi segada; onde o sorriso foi castrado; onde a palavra felicidade foi banida do dicionário. Saída limpa para perguntar ao Durão Barroso: que fazes aí? Não vês que arrancaram e arrancaste todas as flores do teu País? E falam ou falas ou sopras para que falem para ser candidato à Presidente da República?.. Não, não pode ser, tu deves ser um exemplo; tu deves ir diretamente e sem demora para a saída limpa do desemprego sem reformas; sem fundo de desemprego; sem ter o que os teus concidadãos não têm.
Saída limpa adornada de trapaça. Saída limpa com os sindicatos calados e inertes sem percorrer meio quilómetro de rua. Saída limpa para o paraíso onde o conceito de vida digna, solidária e livre está retido e enclaustrado num museu de arqueologia. Saída limpa para o hoteleiro levar não sei quantos euros por uma noite pelo simples feito de se dar um jogo de futebol na capital; saída limpa para os negócios barraqueiros. Mentem; não dizem a verdade. Vergonha; muita vergonha. Desolação cidadã; ceticismo social; emersão do velho princípio anarquista: “o Poder corrompe.” Corrompe ideias; corrompe pessoas; corrompe vidas. Não, não existe saída limpa se as flores do jardim secaram por falta de água ou foram arrancadas.
A vida sem poesia é um lago seco e o camião da saída limpa varreu papel e caneta; aniquilou teclados, afogou emoções epopeicas; estabeleceu que a nova poesia se escreve com macroeconomias austeras; com microeconomias da pobreza. Não, eles sabiam; eles sabem que é mentira; sabem que a sua verdade não é verdade. Eles sabem… Nós sabemos; todos sabemos. Mas, querem votos, pedem votos; alegram-se por resultados eleitorais que darão o dito por não dito; o prometido e propagandeado por não propagandeado e não prometido. A culpa é do Sócrates, dirão; a culpa é da vida opulenta como se em Portugal a vida fosse, alguma vez, opulenta; A culpa é da Joana, direi eu sentado no Café sem vontade de remexer o açúcar e sem vontade de sentir o cantar primaveril dos pássaros.
Tristeza; como se tratasse de um estado de desamor, instauraram a necessidade como forma de vida. Prepararam o campo para a entrada massiva dos famosos fundos de inversão internacional que entram, mas, não se sabe onde ou que produzirão esse rio caudaloso de dinheiro internacional. Como triste exemplo temos Espanha que recebe, recebe, mas, o desemprego sobe; as pessoas sacrificam-se pelo ritual purificador do fogo às portas dos Bancos enquanto a Escola e a Saúde Publicas languidescem. Mentira; verdade falsa; embuste; eles sabem que o cidadão não acredita. Mas, dizem; reafirmam, vendem tesouras e oferecem facas e canivetes para quem compre a primeira tesoura. Mas, quem compra? Onde está o dinheiro? Não se compra como quem vende promessas eleitorais; programas de governo salvadores; compra-se com dinheiro e enquanto existir e o Homem não invente outra forma para a troca dos produtos. Mentira. Enganam com técnicas aprendidas nos mestrados da mentira.
Entretanto, os ricos são noticiados em páginas económicas como mais ricos; mas, pedem; exigem menos direitos laborais; despedimentos mais permissivos; mais horas de trabalho. Onde está o sonho da máquina a libertar o Homem do trabalho?!. Onde mora? Na conta bancária dos que já tinham muito. Onde está a Declaração dos Direitos Humanos? Onde está a mística da libertação constante do ser humano? Nas bancadas parlamentárias; nos grupos financeiros internacionais; no engano; no discurso falseado.
Há crise! Todos temos que apertar o cinto! Todos… mas, os que carecem de barriga também carecem de cinto. Quem vive na verdade vital e existencial sente que lhe contaminaram o ar que respira com mentira; engano; sente que respira pobreza.
Não; o olhar ou a expressão muda do que olha sem expressão não se chama complacência; chama-se repugnância.
Os que não votam chamam-se abstencionistas e não se chamam indiferentes; são contrários à participação no circo da mentira; do engano; são contrários à pobreza induzida por decreto-lei. Saída limpa direta para a pobreza; encaminhada para a submissão. Não, todos sabemos onde está a verdade porque todos sabemos que a pobreza foi instaurada.
01jun14
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