Menu Fechar

“MICAR” levou ao Rivoli LARGAS CENTENAS de pessoas

No Porto, entre os dias 17 e 19 de Outubro passado, no pequeno auditório do Teatro Municipal Rivoli, teve lugar um ciclo de cinema promovido pela organização SOS Racismo, que contou com o apoio da Câmara Municipal do Porto.

O SOS Racismo, em parceria com a Fare Network, ONG que observa os fenómenos de racismo no futebol, organizou no Porto a I Mostra Internacional de Cinema Anti-racista, iniciativa que foi precedida de uma campanha de “crowdfunding”, recolha de fundos muito participada.

As sessões deste ciclo de cinema anti-racista, que deu a conhecer onze filmes de variadas origens e focando diversas realidades, decorreram no pequeno auditório do Teatro Municipal Rivoli, cedido pela Câmara Municipal do Porto, que disponibilizou os meios técnicos necessários.

O visionamento de cada um dos filmes apresentados teve enquadramento prévio por comunicadores qualificados e alguns deles foram seguidos de debates introduzidos por comentadores, entre os quais se contam os próprios realizadores de algumas das obras, bem como activistas do movimento anti-racista em Portugal e investigadores académicos das temáticas transversais à discriminação racial e ao preconceito étnico.

O catálogo desta primeira edição da MICAR não se reduz ao programa dos três dias do evento, sendo não só um documento rico de informações sobre os filmes, mas sobretudo um conjunto de textos de reflexão sobre as quatro principais temáticas: racismo em Portugal, questão cigana na Europa, tráfico de jovens jogadores de futebol e imigração europeia transmediterrânica, com destaque para a trágica situação de Lampedusa.

kunta - 01nov14

O ciclo MICAR iniciou-se pelo tema do racismo português, com a apresentação da curta metragem “Kunta”, de Ângelo Torres, a que se seguiu o documentário “SOS, Save Our Souls”, de Raquel Freire, que esteve presente no debate que seguiu, animado pelas investigadoras Ana Sofia Neves, do ISMAI, e Marta Araújo, do CES da Universidade de Coimbra.

"Diamantes Negros"
“Diamantes Negros”

A questão do tráfico de jovens jogadores de futebol de países africanos para a Europa foi tratada pela longa metragem “Diamantes Negros” do espanhol Miguel Alcantud, sendo a exploração de menores uma das faces obscuras do futebol actual. Esta problemática foi introduzida pela participação do SOS Racismo nas semanas “Football People”, que decorreram entre 9 e 23 de Outubro corrente, com a ajuda da UEFA, de que a Fare Network é parceira de responsabilidade social.

A questão das minorias étnicas, com destaque para a comunidade cigana, foi suscitada pelo documentário dos realizadores húngaros Istvan Gabor Takacs e Adam Suranyi designado “Without a Chance”, filme que foi apresentado por um membro da comunidade cigana portuguesa.

"La Pirogue"
“La Pirogue”

A questão da emigração de africanos para a Europa através do Mediterrâneo teve centralidade através de várias abordagens cinematográficas, como “La Pirogue” de Moussa Touré ou “Mare Chiuso” de Andrea Segre e Stefano Liberti, destacando-se o documentário “Bab Septa” dos realizadores portugueses Frederico Lobo e Pedro Pinho.

"Era Uma Vez um Arrastão"
“Era Uma Vez um Arrastão”

O documentário “Era Uma Vez um Arrastão” de Diana Andringa e Hugo Cabral, tratando do papel da comunicação social na produção de mensagens de carácter discriminatório e da construção mediática de fenómenos racistas, patenteou a perigosidade da manipulação de públicos através da acção dos “media”. O chamado “arrastão” de 10 de Junho de 2005 nunca existiu, o desmentido da polícia nunca foi divulgado, os testemunhos dos protagonistas nunca foram ouvidos, mas a ficção baseada no estigma sobrepôs-se à realidade.

"Bamako"
“Bamako”

Merece especial referência o filme ”Bamako” de Abderrahmane Sissako (originário do Mali), que é um exercício cinematográfico verdadeiramente espectacular, dado que, para além de articular alegoria e realidade nas grandes questões das relações internacionais entre os países do hemisfério Sul e os do hemisfério Norte (colonialismo e pós-colonialismo, dívida e austeridade, economia e emigração, administração publica e corrupção), usa o cinema numa perspectiva africana, não só do ponto de vista plástico ou estético, mas sobretudo do ponto de vista antropológico.

Paralelamente à exibição dos filmes, esteve patente no hall do pequeno auditório do Rivoli uma exposição de fotografia ilustrativa das actividades do projecto designado “Catapulta”, em execução na freguesia da Sé.

O evento foi muito concorrido e teve a participação de um variado público, salientando-se a presença de numerosos jovens, que, motivados pelo desejo de aprofundamento do conhecimento sobre os fenómenos racistas no mundo contemporâneo, animaram os debates que se seguiram à exibição das obras cinematográficas desta primeira Mostra Internacional de Cinema Anti-racista.

Texto: Maria Rodrigues

Fotos: Pesquisa Google

 

Por vontade da autora, e de acordo com o ponto 5 do Estatuto Editorial do “Etc eTal jornal”, o texto inserto nesta rubrica foi escrito de acordo com a antiga ortografia portuguesa.

 

 

01nov/dez14

Partilhe:

1 Comment

  1. Carlos Tavares (Porto)

    Um excelente “apanhado” de uma grande organização.
    Parabéns Maria Rodrigues. Parabéns “Etc e Tal Jornal”

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado.

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.