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Ecologistas preocupados: Obras da `Polis´ na foz do Cáster podem ir por água-abaixo

Ainda sem terem sido dadas por concluídas algumas das obras no âmbito da intervenção da “Polis Litoral Ria de Aveiro” cujo prazo já foi ultrapassado, há intervenções como a requalificação do caminho agrícola contíguo ao Rio Cáster, entre o Cais da Ribeira e a Foz do referido rio (Ovar), que já está a dar sinais de desagregação, situação que está a inquietar moradores e agricultores que continuam a ter um papel fundamental na sensibilização dos autarcas para pontos críticos ao longo desta obra, que os próprios identificam com alguma indignação, por não compreenderem, como é possível, os responsáveis desta obra não terem em conta a realidade ambiental da área e sobretudo, o comportamento do caudal do Rio na sequência das intervenções realizadas.

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O caminho contíguo ao Rio Cáster na Ribeira – que foi adaptado a percurso pedonal/ciclável, segundo projeto da Polis-, continua a manter acesso a automóveis até um ponto em que está instalada uma barreira, que só deve ser removida para facilitar a passagem de tratores ou outros veículos agrícolas. Melhores condições de acessibilidade que está a atrair mais trânsito automóvel, o que na opinião de moradores, é um dos erros do projeto e da sinalização no local que o permite, tratando-se de uma zona que deveria ser considerada área protegida de forma mais coerente, o que passaria por limitar o trânsito automóvel logo que o caminho construído em pós de pedra, começa paralelo ao Rio Cáster até à Foz ou Boca do Rio.

É exatamente quando este caminho agrícola nos guia até às margens do Rio, que começam a ser visíveis os pontos críticos da obra da Polis, que contemplou duas travessias do Rio para acesso às terras de cultivo que ainda não foram queimadas pela salinização. Ao contrário das antigas travessias naturais que os agricultores, ao longo de muitas décadas, usaram para passarem o leito do Rio com os carros do gado, a obra incluiu a construção destas duas travessias com passagem em betão. Uma tentativa de favorecer a passagem de novos meios de transporte agrícola, como tratores, que acabou por funcionar como uma represa de água que deu origem a provocar alterações nas correntes do Rio, derivado a uma quota eventualmente alta da estrutura em betão, que está a originar a destruição da estacaria que se propunha segurar as margens a montante e a jusante. O desmembramento da estacaria está a acontecer com enorme facilidade, resultando consequentemente na erosão das margens.

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Esta situação é preocupante para os moradores que praticam um exemplar exercício de cidadania, alertando os autarcas tanto para a necessidade de correções às obras da Polis, como para a forma, como o projeto está a ser implementado. São os vários locais das margens sujeitas a erosão, que, ao não terem sido contempladas “motas” nas margens para suportarem um maior caudal de água e assim proteger o caminho, estão a ver as fortes correntes provocarem acentuada erosão das margens e assim verem o rio chegar ao caminho construído. Cenário que se agrava a certa altura em que o nivelamento do caminho aparece incompreensivelmente com um visível desnível que contribui para acelerar a sua degradação com a subida das águas.

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Desassoreamento da Ria indispensável para drenagem das terras

Estando toda a área húmida da Foz do Rio Cáster (Ovar) umbilicalmente ligada à Ria por um tradicional sistema de drenagem das águas através de canais e regueiras, e sendo consensual que a última obra de desassoreamento foi um rotundo fracasso, toda a comunidade local, independentemente das atividades (social, económica, ambiental ou desportiva) desenvolvidas na laguna que sempre que a maré está na vazante se transforma num pântano, aguarda com ansiedade o dia em que nova obra de desassoreamento aconteça no Canal da Ria em Ovar, uma vez que, relativamente à necessidade da drenagem de águas nas terras, nomeadamente na Ribeira, é determinante para garantir o mais rápido escoamento das águas e aos mesmo tempo evitar a invasão das terras de cultivo, por água salgada que continua a salinizar terrenos que acabam por ficarem mortos.

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No entanto, para os moradores/agricultores as entidades competentes não podem desresponsabilizarem-se neste capítulo do tradicional sistema de drenagem, uma vez que, ainda que a sua reivindicação inicial, tenha sido tido em conta pela Câmara com a construção de drenos, estes ainda são ineficientes para o escoamento das águas nas terras, por falta de limpeza e desassoreamento dos canais e regueiras ligadas à ria para saída rápida das águas, bem como a falta de sistemas, ainda que rudimentares, que impeçam a entrada de águas da ria que continuam a salinizar terras agrícolas.

Curiosamente nas recentes cheias, a subida das águas que atingiu o novo caminho pedonal/ciclável aconteceu na maré cheia da Ria, que por estar muito assoreada mais rapidamente transborda para as margens. Há mesmo entre os moradores quem defenda que, quando se fizer o desassoreamento da laguna, os inertes deveriam voltar a ser espalhados nas terras em que habitualmente a água da Ria nunca inundava. Uma solução bem diferentes da colocação nas margens, como aconteceu na última intervenção, cujos inertes voltaram em grande parte a depositarem-se na Ria, tornando-a não navegável de forma segura.

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Diferentes perspetivas de preservação ambiental

Estas são algumas das preocupações dos moradores e agricultores que insistem em alertar os autarcas mais numa base da relação deste projeto da Polis e o meio envolvente, em que na maioria destes cidadãos ali reveem muitos momentos da sua infância banhada pelo rio cheio de peixe e a Ria da diversidade, dos barcos mercantéis e dos moliceiros que coloriam o espelho de água rodeado por uma paisagem ambiental recheado de vida animal que os autarcas nunca deram o passo de a assumir como uma estratégica área protegida.

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Mas quem insiste em alertar para os erros das intervenções do projeto Polis na zona da Foz do Cáster é o ambientalista Álvaro Reis, que no seu blog “Ondas e Ventania”, relembra como denúncia para memória futura, que, “há quatro anos o programa Biosfera esteve na Foz do Cáster, em Ovar, para registar as preocupações ambientais, que à data se manifestavam perante a eminência das intervenções do projeto POLIS – Ria de Aveiro, neste mesmo local”.

No referido programa de TV em que o próprio Álvaro Reis foi interveniente, e que disponibiliza no seu blog um vídeo, alerta que, “fizeram-se vários alertas sobre as consequências nefastas que poderiam resultar na biodiversidade local se o projeto não se revelasse sustentável”. A denúncia deste ambientalista é ainda mais acutilante quando diz que, “este ano, a 29 de Julho, o programa Biosfera voltou ao local para registar que o Polis – Ria de Aveiro continuou, impunemente, a destruir os habitats da zona, promovendo a perturbação e o desequilíbrio dos mesmos” e conclui, afirmando que a reportagem ficará para memória futura mostrando como “para se gastarem os fundos comunitários se leva a efeito qualquer idiotice, mesmo que para tal se destruam os recursos naturais locais”.

 Texto e fotos: José Lopes

(Correspondente “Etc e Tal Jornal” em Ovar)

 

 

01nov/dez14

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