Aires Barros
A chuva vai caindo aos poucos. À medida que o metro avança rompendo as gotas que teimam em cair e que acabam coladas ao vidro, vou observando o que se vai passando dentro da composição.
Uma menina que aproveita o tempo da viagem para pintar as unhas, do outro lado uns rapazes que estão a dar uma última revisão na matéria pois devem ir ter um exame. Mais abaixo um senhor de fato, muito concentrado num relatório que deve ir apresentar, e, do outro lado, uma mãe que tenta a todo custo adiar um encontro na escola porque o trabalho não lhe permitiu. Subitamente, olho e para o outro lado, e vejo um rapaz a fazer tudo por tudo para ganhar a atenção da mãe e ela simplesmente dá-lhe o “tablet” para ele poder ficar entretido o resto da viagem.
Numa das estações, entram um grupo de jovens estudantes que se sentam juntos, mas passam a viagem toda a olhar para um “smartphone” sem se falarem uns com os outros. Subitamente um levanta e dá uma palmada nos colegas e diz “Pessoal, temos de sair nesta estação, se não vamos chegar atrasados…” No meio desta observação toda, resolvi parar e ficar uns breves momentos parado e observar o que se estava a passar mesmo ali à minha frente.
Durante alguns momentos, senti-me como se estivesse em “Slow motion” enquanto os outros que passavam por mim, corriam para as suas vidas. De uma correria para outra, uns falavam entre si dizendo “Bolas, vou chegar atrasado”, outros “Pá, perdi o Metro”, outros, “nem vale a pena, já estou cansado” e ainda outros “o dia devia ter mais de 24 horas, tanta coisa para fazer e não fiz nem metade”.
Interessante descobrir certos comportamentos, tendo a principal incidência na manhã quando as pessoas estão a ir para os trabalhos e no final do dia, quando as pessoas estão a regressar aos respectivos lares. Nesta parte do dia, podemos observar que as pessoas já trazem uma fisionomia cansada, esgotada mas que ainda percebem que o dia ainda não acabou.
De volta ao Metro, escuto de um lado, a mãe a dizer que pode aproveitar a viagem para fazer os deveres de casa já que a viagem será longa, do outro lado escuto uma mãe a dar indicações à pessoa que está do outro lado para ir adiantando o jantar e ainda dar banho ao miúdo que está em casa.
Num banco mais à frente, uma professora vai vendo os exames dos seus alunos e um senhor está a preparar no computador uma apresentação que terá na empresa no dia seguinte. Independentemente da vida de cada um, todos têm algo em comum. Deveres e obrigações quer profissionais, quer familiares.
Muitos são os que acabam por serem vencidos pelo cansaço e acabam por adormecer com os livros, computador sob o colo. O que faz com estas pessoas não estejam a ter uma vida normal, com horários normais? O que faz com estas pessoas estejam a perder os melhores anos da vida? O que faz com que estas pessoas estejam mais infelizes e que não consigam perceber que o tempo não volta atrás?
A exigência do mundo moderno, faz com que tudo em nosso redor gire sem parar. Numa conjuntura económica em que Portugal está inserido, ter um emprego é uma dádiva e os que têm, precisam de fazer esforços “sobrenaturais” para os poderem manter, daí que nada pode falhar. Tudo é para ontem e é preciso rentabilizar todos os esforços com os mínimos requeridos e quem não conseguir acompanhar este ritmo, facilmente poderá ser posto de parte.
A sociedade está tão apressada que 24 horas não são suficientes para poder trabalhar, cuidar da casa, cuidar dos filhos, cuidar das pessoas que amamamos. Numa situação apressada que estamos a viver, quase sempre são várias as áreas que são prejudicadas. Ora vejamos exemplos:
Uma pessoa pode até ser profissionalmente um sucesso, mas a nível das relações humanas ser um fracasso, uma outra pessoa pode ser uma boa pessoa mas pode estar a ser uma péssima mãe ou pai. É impossível podermos preencher todas as áreas se continuarmos agir dessa maneira. Então, a pergunta que ponho é Será possível podermos fazer tudo o que a sociedade nos obriga num espaço de 24 horas?
Eu não tenho a resposta certa para esta questão, mas cada um de vocês, amigos leitores poderão responder a ela. Se olharmos para uma outra cultura nomeadamente a oriental, antes de irem trabalhar, procuram entrar em contato com o “Eu Interior” e meditar e de alguma maneira tentam fazer com que a vida seja vivida em pleno, sem esquecer as responsabilidades do dia-a-dia.
O tipo de vida mais agitado, provoca efeitos negativos na vida das pessoas, como por exemplo, Stress, Ansiedade, Agitação Psicomotora, Negatividade, Preocupação e ainda problemas físicos, nomeadamente cardíacos, respiratórios entre outros.
Para podermos viver em plena harmonia, temos que parar um pouco e levar a vida com calma. Teremos que ter em conta as responsabilidades do dia-a-dia, mas sempre de uma forma calma e pacífica, primeiro para nós e depois para com os outros. Tentemos de uma maneira geral, dar tempo para nós, sermos mais organizados! “Quando somos novos, queremos ganhar dinheiro mas quando somos velhos, o dinheiro que ganhamos, gastamos na saúde”
Até à próxima!
Fotos: Pesquisa Google
01mar15
Muito verdadeiro!
Muito bom!