Maria Rodrigues / Tribuna Livre
O estatuto político, social e económico das mulheres portuguesas foi mudando ao longo dos últimos 40 anos. Foi uma mudança no sentido da emancipação, em grande parte como consequência das transformações democráticas dos tempos que se seguiram ao 25 de Abril, sobretudo no campo das políticas sociais e culturais.
Em Portugal, a longa ditadura salazarista quase apagou a memória dos feminismos das primeiras décadas do século XX. Durante esse longo ciclo de autoritarismo, a família patriarcal prevalecia, apoiada por um quadro legal que retirava às mulheres direitos elementares, como o de decisão sobre a educação dos filhas e filhas ou o de autonomia de gerir negócios. Logo em 1936, para a inculcação ideológica das mulheres, o Estado fascista criou a Obra das Mães pela Educação Nacional e, em 1937, para o enquadramento das raparigas, a Mocidade Portuguesa Feminina, que complementava as políticas educativas da escola sexista.
O sistema, tendo durado longamente, configurou mentalidades, assegurando a permanência das concepções conservadoras no seio da sociedade. O Estado Novo silenciou qualquer feminismo e fomentou a invisibilidade das mulheres como sujeitos com direitos, privando-as de espaços organizativos próprios, como a Associação Feminina pela Paz, extinta em 1952, ou o Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas, criado em 1914 e extinto em 1947. Foi cortada a voz às mulheres.
Essas circunstâncias condicionaram o livre pensamento, facto que fragilizou a reflexão sobre as questões de género na sociedade e sobre a desigualdade no seio da família. Este deficit de pensamento explica em grande parte a falta do debate em torno das questões da condição feminina. E explica também o facto de, ainda nos nossos dias, os movimentos de mulheres permanecerem tão frágeis.
Há muito a fazer: ainda contra a discriminação salarial, ainda contra os impedimentos ao acesso ao poder político, sempre contra a violência doméstica, sempre contra as duplas e triplas tarefas no seio familiar, cada vez mais contra a miséria e contra a escravidão sexual.
Viva o 8 de Março!
Foto: Pesquisa Google
01mar15