A propósito da resposta do ex-Coordenador da União dos Sindicatos de Aveiro/CGTP-IN e da Comissão de Luta dos Mineiros ao texto “Grito final dos mineiros do Pejão foi há 20 anos” publicado no “Etc e Tal Jornal” (Fev./2015).
“Antes de tecer algumas considerações sobre a compreensível reação do ex-Coordenador da União dos Sindicatos de Aveiro, Joaquim Almeida, gostava de saudar o próprio ex-sindicalista que, neste seu interessante trabalho sobre a Luta dos Mineiros do Pejão, ajudou a enriquecer o debate e sobretudo esta extraordinária luta operária na região de Aveiro que ambos tivemos o privilégio, de acompanhar no terreno.
Foi aliás, no meu caso como ativista politico, por eu próprio ter vivido e partilhado muitos dos dias duros, de chuva e frio, mas de calor humano no convívio da luta dos Mineiros, que achei oportuno, 20 anos depois, trazer à memória coletiva, na passagem de tal data recheada de simbolismo, tais lembranças de resistência, que ficaram inscritas na imprensa, independentemente da perspetiva jornalística ou linha editorial, deixada em imagens na TV, em textos nos jornais ou de viva voz na rádio.
Reconheço poder ter sido um atrevimento na atual situação politica, quebrar o silêncio que certamente se ia impor na passagem dos 20 anos do inicio da Luta dos Mineiros do Pejão, considerando naturalmente o dia (29/12/1994) da ocupação da EN 222 junto à entrada para as minas da Empresa Carbonífera do Douro (ECD) na sequência da provocação que representou a tentativa de na altura inaugurarem um monumento aos Mineiros.
Mas tal eventual atrevimento a que o “Etc e Tal Jornal” deu voz, tal como aconteceu com o Esquerda.net e os jornais Expresso e Jornal de Noticias, foi afinal o despoletar de uma oportunidade, para se poder reviver e mesmo clarificar mais memórias sobre esta luta, que só vieram ajudar a enriquecer a história da Luta dos Mineiros do Pejão independentemente do seu desfecho.
Recordo ainda, que eventualmente, na sequência desta intenção de reposição de “verdade” com uma vasta argumentação de quem, como Joaquim Almeida viveu a luta por dentro, como membro da Comissão de Luta dos Mineiros, acabou também por merecer espaço no jornal Avante (online), que no dia 19/02/2015 dedicou uma peça aos 20 anos desta luta com o título, “A luta dos mineiros do Pejão”.
Resumindo, nesta sempre difícil procura de verdades, por protagonistas que tinham e têm em comum a defesa dos trabalhadores e a sua emancipação contra as garras do capital e seu sistema explorador e opressor. Ainda que em projetos partidários diferentes, como eram então a UDP e o PCP ou hoje, o BE e o PCP. Mas também no campo da intervenção sindical, já que, ainda que tendo a CGTP-IN como espaço comum de organização e intervenção sindical, as correntes sindicais, a exemplo da Corrente Sindical de Classe em que se reunião os ativistas sindicais da UDP, tinham o seu papel e o seu espaço na Central, uniões e sindicatos. Diferenças inegáveis nas reivindicações e orientações de lutas, que 20 anos depois não podem ser escamoteadas, desde logo no desfecho da Luta dos Mineiros do Pejão.
Assumo assim, que ontem como hoje, estivemos de acordo que o governo do PSD à época (1994/95), ao fim de quatro anos estabelecidos pelo seu próprio Conselho de Ministros, não tinha cumprido nem os seus compromissos com as autarquias, nem tinha concretizado o projeto de transformação da Tapada do Outeiro, que continuava então a produzir energia, consumindo carvão, nem tão pouco procurou durante aquele período alternativas sociais, como seriam as reformas antecipadas para a situação concreta e específica dos mineiros.
Estivemos e estamos também de acordo que, o governo de Cavaco Silva, se limitou a aplicar fielmente as orientações da EU para a produção de carvão, mas não foi capaz ou em troca de outros interesses, não exigiu as contrapartidas que a própria Comunidade dizia na altura salvaguardar por considerar as zonas mineiras por natureza mais desfavorecidas e por isso merecerem maiores apoios.
No entanto, discordámos particularmente no momento das votações das propostas que, tal como se lê no jornal Público (27/01/1995), “…os trabalhadores das últimas minas de carvão do país decidiram, por escassa maioria, aceitar a contraproposta às suas reivindicações…” e acrescenta, “as regalias conquistadas pelos mineiros resumem-se a um regime especial de reformas, que abrange pouco mais de meia centena de pessoas…”. Mas afirma ainda este jornal que, no meu ponto de vista, apenas relatou o desenrolar dos acontecimentos, que, “a contraproposta do Governo é em tudo semelhante àquela que tinha sido apresentada aos mineiros logo no início dos protestos pela UGT. O regime especial de reforma abrange os trabalhadores mineiros com 45 anos de idade e os seus colegas do exterior que atingiram os 50 anos”.
E por fim, não é a minha verdade, foi a interpretação do jornalista naturalmente, em que escreve ainda no mesmo jornal, “Ontem a argumentação do sindicalista voltou a revelar-se decisiva para convencer os mineiros a aceitar a contraproposta da ECD e a suspender a luta”.
Na verdade, e esta é a verdade, naquele momento decisivo do prolongamento ou não da luta, estivemos em “barricadas” opostas! Claro, que na perspetiva de cada um de nós e da sua responsabilidade politica ou sindical solidária com a Luta dos Mineiros e por isso na defesa dos trabalhadores e da luta contra o governo do PSD.
Assim, neste espirito ainda hoje nos encontramos na luta, independentemente dos percursos político/sindicais de cada um de nós, entre encontros e desencontros ao longo de quatro décadas, já que só depois do 25 de Abril fui desperto para um efetivo exercício de cidadania ativa.
Estou assim convicto, que ambos contribuímos nesta “polémica” para dignificar e honrar a Luta dos Mineiros do Pejão que desta forma, muito singela, foi lembrada, da minha parte, com o trabalho que aqui, no “Etc e Tal Jornal” se intitulou “Grito final dos mineiros do Pejão foi há 20 anos”.
Texto: José Lopes
Foto: Arquivo
Nota da Direção: Termina aqui qualquer tipo de posição futura relativa a este artigo em concreto. A problemática poderá, naturalmente, ser motivo de discussão e intervenção, mas, jamais, relacionada com o trabalho inserto no nosso jornal há dois meses a esta parte. As partes “envolvidas” na questão tiveram já o seu espaço de intervenção, com artigos publicados na íntegra ao abrigo da Lei da Imprensa.
01abr15