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ASSOREAMENTO do Canal da Ria de Ovar deixa projeto Polis “ENCALHADO”!

A recente deliberação do executivo municipal de Ovar, que, por unanimidade, aprovou o programa preliminar referente ao desassoreamento do Porto de Recreio do Carregal, localizado no topo norte do Canal da Ria de Ovar, acabou por trazer para a atualidade, uma das componentes fundamentais do Plano Estratégico da Sociedade Polis Litoral Ria de Aveiro para a requalificação e valorização da Laguna, que passa pela “Promoção e dinamização da vivência da Ria” nomeadamente, agregar “os projetos e ações de desassoreamento de canais e seu balizamento, de forma a promover a sua mobilidade e navegabilidade (…)”.

Intervenção a implementar através de uma “estratégia integrada”, que se assumiu como “coerente e de futuro para a Ria de Aveiro”, assente em grandes objetivos, como: “ria de múltiplas vivências, economicamente dinâmica e ambientalmente preservada”, que ainda não saiu do papel, o que em nada valoriza as obras que têm sido realizadas em terra, nos cais e áreas de recreio nas suas margens.

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Na área geográfica banhada pelo Canal da Ria de Ovar, as obras de reordenamento e qualificação da frente lagunar de Ovar promovidas pela Sociedade Polis que já concluíram vários dos seus projetos de intervenção, estão agora a ultimar a valorização do Cais da Pedra no Carregal. Trata-se de mais uma obra nas margens da Ria, que faz realçar o problema central do assoreamento, que transforma esta paisagem natural num pântano degradante, sempre que a maré vaza. Cenário que contrasta com os propósitos do Plano Estratégico da Polis, que neste capítulo, continua “encalhado”.

O agravamento resultante do assoreamento, para além do fio de água que na maré baixa só permite mesmo, já com dificuldades, a passagem dos barcos da canoagem nos treinos dos atletas do Clube de Canoagem de Ovar – CCO que continua, apesar de todas estas dificuldades, a formar campeões, enquanto as embarcações da modalidade da vela, da Náutica Desportiva Ovarense – NADO, só podem treinar e realizar regatas com a Ria no ponto alto da maré cheia, momento em que é proporcionado um extraordinário espelho de água, que mesmo assim, obriga a cuidados para uma navegação com segurança.

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Cenário de lamas em função do vai e vem das marés, que tem particular impacto no Porto de Recreio do Carregal, em Ovar, em que, como veio a ser demonstrado no recente temporal, nos primeiros dias de maio, com ventos fortes e a subida das marés, em simultâneo, resultaram em cabos de fixação do quebra-mar partidos e sua deriva, com consequente destruição de embarcações e outros bens no porto de abrigo de veleiros. O acentuado assoreamento do porto para além de agravar progressivamente o acesso de embarcações em segurança às docas de atracagem, não deixa de facilitar o caminho para a mais rápida subida das águas como aconteceu com as inundações neste último temporal que se fez sentir igualmente nas zonas ribeirinhas.

Prometido desassoreamento no Porto de Recreio do Carregal

Ainda que fiquem dúvidas sobre uma intervenção pontual numa laguna sujeita a marés com ritmos de vazante e enchente mais rápidos, que agravam o estado do assoreamento do Canal da Ria de Ovar, o programa preliminar que o executivo da Câmara Municipal de Ovar aprovou para a retirada de sedimentos da área do Porto de Recreio do Carregal ligado umbilicalmente ao Cais do Carregal, cujo estado caótico, mesmo depois das obras do Polis, que o Etc e Tal já fez referência, não deixa de ser uma resposta para atenuar localmente os efeitos negativos do assoreamento que acabam por limitar a rentabilização de uma estrutura de apoio às atividades na Ria, particularmente as turísticas e de lazer, bem como o desenvolvimento das modalidades náuticas.

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A prevista retirada de sedimentos do Porto de Recreio do Carregal, através do desassoreamento superficial de manutenção da área das docas, como forma de garantir a sua funcionalidade e melhorar a segurança deste equipamento explorado pela NADO que há muito vêm manifestando as dificuldades de navegação por parte dos seus utentes, deixa na expetativa, que influência terá esta obra muito localizada, na realidade do restante Canal da Ria de Ovar e seus cais, para que os fundamentos do Plano Estratégico da Sociedade Polis Litoral Ria de Aveiro sejam coerentes na prometida “mobilidade e navegabilidade da Ria de Aveiro” como se lê no seu Eixo 4.

Mas até que tais propósitos de valorização da laguna se tornem realidade, a intervenção do Polis ainda não passou da realização dos projetos mais práticos e superficiais, através das intervenções de requalificação e valorização da frente lagunar, que acabam manchados pela paisagem desoladora de um enorme pântano de lamas, sempre que a água volta a correr para o mar, que deixa o Canal da Ria de Ovar com um fino fio de água na carreira também assoreada.

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Apresentação do Polis aconteceu ali no Carregal

Curiosamente a 21 de fevereiro de 2009, o Porto de Recreio do Carregal foi o palco escolhido para a apresentação do Polis da Ria de Aveiro, que à época, contou com as presenças do então Primeiro-Ministro, José Sócrates, do presidente da C.M. de Ovar, Manuel Oliveira, e dos presidentes de Câmara dos restantes onze municípios envolvidos no Polis, que na região, tinha uma área de intervenção de 37 mil há, uma extensão de 60 km de frente costeira, 140 km de frente lagunar e ainda, 24 km de frente ribeirinha do Vouga. Na altura, José Sócrates, declarou que o objetivo do programa deste Polis é “transformar a Ria de Aveiro num exemplo para todo o País”.

Com outros protagonistas políticos no Governo e na Câmara de Ovar, os projetos da Sociedade Polis vão-se concretizando, mas o cenário que resulta do assoreamento da Ria de Aveiro e particularmente perturbante no Canal da Ria de Ovar, está ainda muito longe desta extraordinária laguna ser um exemplo da intervenção do Polis.

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Quase duas décadas depois

O estado atual da Ria de Aveiro é também em grande parte, o resultado de uma grande obra de desassoreamento realizada em 1997 a cargo na altura, da Junta Autónoma do Porto de Aveiro. Uma obra, que teve o mérito de tornar navegável um Canal (entre a Ponte da Varela e Ovar/Carregal), mas por alguns anos, uma vez que rapidamente voltou a ficar assoreada.

Na altura as vozes críticas, sobre o sistema de dragagem fizeram-se ouvir, mas prevaleceu a técnica da deposição de dragados no leito, junto às margens, que com a alteração das correntes das marés foram de novo arrastando os dragados para a parte mais profunda, que acabou por perder profundidade durante estes últimos anos, até à situação em que está hoje, à espera de ser contemplada com a intervenção do Polis, como a que aponta para a valorização da Ria de Aveiro.

Texto e fotos: José Lopes (*)

(*)Correspondente “Etc e Tal Jornal” em Ovar

01jun15

 

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