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Uma Espanha… Vinte Espanhas

José Luís Montero

Nos anos trinta do século passado quando Espanha amanheceu republicana, foram umas eleições municipais que correram, literalmente, com a monarquia dos Borbóns. No dia 24 do mês de Maio de 2015, novamente, umas eleições municipais, misturadas com algumas autonómicas, fragmentaram o tecido político que se estabeleceu no início da Transição espanhola.

O Partido Popular – grupo da família do PSD português – padeceu um forte castigo que o arreda de pontos tão importantes como Madrid. CIU – grupo da direita catalã e de pinturas nacionalistas – viu como Barcelona lhe fugia das mãos. Na Galiza desapareceram-lhe Deputações tão importantes e emblemáticas como Corunha e Pontevedra; Andaluzia continuou de costas viradas; Astúrias caminhou mais uma vez às avezas da vontade da direita. Espanha, resumindo, não só fugiu da direita; fugiu do mapa político que vivia comodamente na poltrona do Poder desde o fim da Ditadura.

podemos - 01

ciudadanos

A aparição de forças políticas de cunho variado como “Podemos” ou “Ciudadanos” no cenário das decisões mostra, claramente, que o efeito da corrupção instalada e endogâmica aliada, fundamentalmente, às políticas de austeridade executadas servilmente pelo Governo central é a fotografia do grito cidadão: “Estamos Fartos!

Toda a gente fala da intervenção em Grécia, Portugal, mas, esquecem-se que Espanha está tão sujeita aos poderes “extrassensoriais” da Troica como o mais espoliado e humilhado dos países diretamente intervencionados. Espanha perdeu e continua a perder a Saúde, a Educação e é vendida ao desbarato tal como Portugal. As bichas do desemprego são tão gigantescas que assustam. A corrupção, tanto no mundo das altas finanças como nas diferentes administrações do Estado, é clamorosa; obscena e própria de mentes com bolor. A precariedade laboral está no ponto álgido da escravidão. Os ordenados são bons para os que rapam o tacho. Os suicídios provocados pelos despejos são, já, muito numerosos. Espanha languidesce tanto ou mais que Portugal e o cidadão espanhol rompeu como tem roto o baralho desde o 15M ou as Marchas da Dignidade.

Tal como em Portugal, os sindicatos oficiais – CCOO e UGT – assistem impávidos a este marasmo de pobreza. Engolidos pelos vapores do Poder; possuídos pelo jacobinismo mais reles, de uma forma ou outra, deixam os trabalhadores ao abandono. Pequenos sindicatos ainda que históricos como a CNT-AIT conseguem fazer frente aqui e além e principalmente na pequena e média empresa à selvageria patronal. Muitas das vezes atraiçoados pelos sindicatos do Sistema que correm a assinar contratos coletivos de trabalho contra a vontade dos trabalhadores. E não é só a TAP que está em leilão; IBERIA também está na sala leiloeira. Espanha, tal como Portugal, está a ficar desértica e como se costuma dizer: o último a sair que feche a porta…

cortes nas reformas

Portugal pensa no Costa ou no Nóvoa; pensa que as conquistas sociais e a Liberdade caem do céu ou chega numa manhã de nevoeiro; no entanto, as manhãs de nevoeiro sucedem-se e o mito sebástico não aparece. E pelo Poder continuam a circular “gabirus” do aproveitamento descarnado à custa do cidadão vilmente empobrecido. Reformas? Reformados?.. Corta, corta que os míseros euros que recebem são muitos… Assistência social?.. Corta, corta que o mal do Povo é o vício… os chineses e o seu comércio de lixo são a solução. Os Vistos Gold são negócio e o Sócrates está preso porque Portugal é um País sério onde a Justiça é cega e muda… e tão cega; e tão muda que é… É tão cega que desconhece a lenda dos submarinos. É tão muda que nunca ouviu que a venda da EDP aos chineses foi uma surpresa para muitos por não dizer para todos.

penhoristas

Mas, no Pátio das Cantigas estavam poucos cantores. As vozes estavam roucas; a sede era muita e apareceu com um garrafão de Água-pé no Pátio um senhor que diz ser um alto cargo dum grupo Rothschild. Fala o bom homem com cara magnânima e o olhar sapiente sobre a crise na Grécia… É tudo bondade e é tal bondade que me comoveu… Diz ele, então, que a crise na Grécia e a sua solução deriva de um temor; fala em decisões preventivas perante um temor; diz, pura e simplesmente, que não se podia ceder perante o Governo Grego porque o grupo Podemos espanhol poderia veneficiar-se dessas conquistas e subir de forma incontrolável em Espanha. Comoveu-me este sábio. Fiquei terno e fumeguei agradecimento. Resulta que se empobrecem populações; se obstruem decisões sufragistas dos povos através de mecanismos estranhos à vontade popular porque alguém que vive no Olimpo Usureiro teme decisões políticas dos cidadãos livres… E dizem; e contam que vivemos em democracia onde o poder de decisão está na utilização do voto… Não, não vivemos em nada disso, vivemos no mundo da usura; do penhorista. Não, não me interessa este mundo. Parto; o último que saia que feche a porta…

Fotos: Pesquisa Google

01jun15

 

 

 

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2 Comments

  1. margarida henriques

    Ainda não podemos bater a porta…
    Não, não… foi a nossa geração, que consciente ou inconscientemente, se tornou cúmplice, do que se está a passar, na Europa, fomos nós que nos deixamos corromper pelos facilitismos…
    È, por isso obrigatório, que a nossa geração acorde! e lute, pelos seus reias e comuns interesses, para que as gerações ( nossos filhos ), que tem de deixar, os seus países, NÃO SE ENVERGONHEM, do futuro podre que lhes estamos a deixar…

  2. Fernanda Lança

    vivemos no mundo da ganância onde os políticos mais não são que vendedores com comissões de luxo. Os mercados castigam quem ousa fazer-lhes frente com o aumento arbitrário dos juros, empréstimos impostos e a ingerência ilegal na vida interna dos países. Os dados estão lançados, ou acordamos já e batemos o pé, ou passaremos à condição de meros servos

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