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D. Catarina de Bragança (1638-1705) – uma rainha portuguesa que marcou a corte inglesa

Maximina Girão Ribeiro

D. João IV, cognominado como o Restaurador por ter restabelecido a independência de Portugal (1640), após 60 anos de dominação da Casa Real de Habsburgo, ou dinastia filipina e o iniciador da dinastia de Bragança, a 4.ª dinastia monárquica de Portugal, teve do seu casamento com D. Luísa de Gusmão sete filhos (dois faleceram à nascença e outros dois já adultos, entre eles o herdeiro ao trono, D. Jaime). Dos filhos que sobreviveram, dois foram reis de Portugal, respectivamente D. Afonso VI e D. Pedro II e uma filha foi rainha consorte de Inglaterra e Escócia, D. Catarina de Bragança, através do casamento desta com o rei Carlos II da Casa de Stuart.

D. Catarina de Bragança (ainda jovem)
D. Catarina de Bragança (ainda jovem)

Após a restauração da independência de Portugal, os espanhóis pareciam não querer desistir da posse de Portugal e desenvolveram uma guerra que se arrastou durante 28 anos.

Portugal precisava de demonstrar à Europa que tinha restaurado a sua independência, por isso havia necessidade de estabelecer alianças com outros países para que os espanhóis deixassem de atacar o nosso território. Entre outras iniciativas tomadas por D. João IV para concretizar os seus objectivos, existia a pretensão de casar os seus filhos com princesas de casas reais europeias e a sua filha D. Catarina com um herdeiro de um trono sólido e, de preferência, com longas afinidades a Portugal.

As negociações do casamento da filha Catarina começaram muito cedo, pois ainda ela não tinha 8 anos de idade e já seu pai procurava possíveis noivos a quem a jovem ficaria prometida. Reforçar a velha aliança com Inglaterra estava nos seus propósitos. No entanto, só em 1661 foi estabelecido o contrato nupcial entre esta Infanta portuguesa e o rei Carlos II de Inglaterra, chefe da Igreja Anglicana, entregando Portugal como dote de casamento, uma quantia elevada em dinheiro e duas valiosíssimas cidades estratégicas situadas, respectivamente no Norte de África (Tânger) e a ilha de Bombaim, na Índia, com todas as suas pertenças e senhorios. Foi um dos mais valiosos dotes de casamento, alguma vez concedidos por um rei português…

Uma armada inglesa de vinte navios, conduziu a graciosa e gentil princesa ao seu destino para se consorciar com o rei Carlos II, em Maio de 1662. No meio de grandes festividades começaram também as grandes dificuldades que estavam reservadas a esta Infanta portuguesa, pois o marido não abandonou nunca uma vida de grande libertinagem amorosa, pouca atenção dando a sua mulher e dedicando grande parte da sua vida às favoritas, muitas das quais conviviam, na corte, com a própria rainha. Contudo, Carlos II nunca da sua mulher se quis separar e sempre a respeitou, dentro dos parâmetros característicos da época em que viviam.

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A jovem rainha, hostilizada por ser diferente (portuguesa, católica, de brandos costumes…), teve que se adaptar a usos e tradições que não eram os seus: uma língua que não dominava, um ambiente adverso contra si, feito de traições, intrigas e maledicências… Foi uma adaptação muito difícil! Mas, o tempo ensinou-a a defender-se para poder lidar com um ambiente tão desfavorável e a alterar a situação, a fim de captar simpatias, admiração e até a ser imitada como exemplo.

Assim, desterrada numa corte distante, longe de Portugal, sem família ou amigos, foi a sua cultura, a sua educação, o seu saber-estar que a impuseram aos olhos dos ingleses porque, afinal, esta princesa que foi rainha consorte em Inglaterra, provinha de um país que, em relação àquele que a acolheu, era um país avançado…

A acção que D. Catarina desenvolveu foi de extrema importância na modernização da Inglaterra!

Não introduziu só o hábito de beber chá, a famosa bebida que criou um momento tão próprio para os ingleses, o “five o’clock tea”, foi também a divulgadora da laranja,  trazida da China para a Europa no século XVI pelos portugueses, bem como o hábito de comer compota de laranja, a que os ingleses chamam, impropriamente, de “marmalade”.

Também introduziu o uso do garfo para comer pois, mesmo na corte, os ingleses ainda comiam com as mãos e, como Catarina estava habituada a comer com um garfo, todos passaram a imitá-la… Ainda à mesa houve alterações, dado que Catarina divulgou o uso da porcelana, surgida na China, “recriada” na Europa e há muito conhecida e utilizada na corte portuguesa…

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Os aposentos reais também se modificaram, dado que D. Catarina levou móveis, no seu enxoval, entre eles os preciosos contadores indo-portugueses que nunca tinham sido vistos em Inglaterra. Mas, também, os músicos portugueses que fizeram parte do séquito que a acompanhou fizeram ouvir, pela primeira vez, uma ópera, em Inglaterra.

Catarina nunca deu à luz um herdeiro à coroa, apesar de ter estado grávida por várias vezes, a última das quais, em 1669 mas, a sua importância foi relevante na corte inglesa, não só pelas muitas inovações que introduziu, como pelo grande incremento cultural e protecção das artes e das ciências  mas, sobretudo, pela postura que soube ter em relação a um meio que, inicialmente, não a soube aceitar tal como ela era: dócil e serena. Recordámo-la aqui, no ano em que se comemoram os 310 anos da sua morte.

Fotos: Pesquisa Google

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 Por vontade da autora e, de acordo com o ponto 5 do Estatuto Editorial do “Etc eTal jornal”, o texto inserto nesta rubrica foi escrito de acordo com a antiga ortografia portuguesa.

 

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