Menu Fechar

Carolina Wilhelma Michaëlis de Vasconcelos (1851-1925)

Alemã por nascimento, mas naturalizada portuguesa pelo casamento, Carolina Michaëlis nasceu em Berlim, num meio familiar culto. Frequentou entre os sete e dezasseis anos a Escola Superior Municipal Feminina da mesma cidade continuando, depois, os estudos na casa paterna com professores particulares porque, tal como deixou registado “a entrada nas universidades ainda estava rigorosamente vedada às estudiosas do sexo feminino, mesmo em Berlim, minha cidade natal, a metrópole da inteligência, como é costume chamá-la”.

Desde criança que se destacaram as suas grandes capacidades de trabalho e elevadas apetências para as línguas e literaturas. Com apenas 16 anos, trabalhos da sua autoria foram publicados em revistas alemãs da especialidade tornando-se, desta forma, conhecida entre os grandes filólogos da Europa. O interesse demonstrado pela cultura e literatura portuguesas, depressa despertou o reconhecimento de figuras nacionais, como Alexandre Herculano, Oliveira Martins, ou Teófilo Braga.

O trabalho rigoroso, a persistência e uma enorme inteligência, permitiram-lhe mergulhar na língua e na literatura portuguesas e elaborar estudos aprofundados sobre esta matéria. A sua produção editorial foi vasta e de grande importância para o estudo de temas linguísticos e literários dos períodos medieval e renascentista da cultura portuguesa, dado que desenvolveu, comentou e publicou, por exemplo, as poesias de Sá de Miranda, ou Cancioneiro da Ajuda, ou os Autos de Gil Vicente, ou mesmo Os Lusíadas, o que representa um profundo domínio do português e um contributo inexcedível para a cultura portuguesa.

Em 1876, Carolina casou-se em Berlim com o portuense Joaquim António da Fonseca Vasconcelos (conhecido como “o pai da história de arte portuguesa”), o qual, na altura, estudava na Alemanha, vindo a destacar-se como arqueólogo, historiador de arte e musicólogo. Homem de elevada cultura foi com ele que Carolina partilhou a sua existência, fixando residência no Porto.

A vida desta intelectual decorreu entre a sua casa da Rua de Cedofeita, no Porto, as frequentes deslocações a Coimbra para dar aulas na Universidade e a casa de família em Águas Santas, nas margens do rio Leça onde, com o marido e o único filho do casal, Carlos Joaquim Michaëlis de Vasconcelos, assim como com a nora, também alemã e, mais tarde, com os três netos (todos rapazes), passava muitos fins-de-semana e férias, gozando o ar livre e a calma do lugar.

carolina michaelis 01

Carolina Michaëlis foi a primeira mulher, em Portugal, a leccionar numa Universidade, beneficiando da prerrogativa concedida pelo novo regime republicano que abria as portas aos direitos das mulheres e, neste caso, também pelo reconhecimento da sua alta competência. Leccionou primeiro na Faculdade de Letras de Lisboa transferindo-se, depois, para a Universidade de Coimbra, por lhe ser mais fácil deslocar-se, mantendo sempre a residência no Porto.

Além de crítica literária, escritora, lexicógrafa e investigadora, foi considerada uma das mais célebres filólogas da língua portuguesa, desempenhando também um notável papel como mediadora entre a cultura portuguesa e a cultura alemã.

Foi uma apaixonada por Portugal e consagrou ao País que a acolheu toda a sua admiração, tomando como sua várias causas, desde a defesa do património cultural, que ela considerava negligenciado pelos portugueses; foi também defensora da emancipação da mulher, considerando que «a questão feminina em Portugal e em Espanha é antes de tudo uma questão de instrução»; preocupou-se, ainda, com o elevadíssimo grau de analfabetismo que existia na população portuguesa da época, pelo que se dedicou à defesa da aprendizagem da leitura e da escrita, por parte das crianças.

Esta alemã que abraçou tantas causas, que tanto investigou e que, por muitos anos viveu no Porto, soube integrar-se perfeitamente na sociedade portuense e no meio cultural, literário e artístico da cidade, participando de forma activa, na vida que a rodeava. Carolina Michaëlis faleceu há 90 anos, no Porto, na sua casa da Rua de Cedofeita, nº 159, em 2 de Outubro de 1925.

Texto: Maximina Girão Ribeiro

Fotos: Pesquisa Google

Obs:Por vontade da autora e, de acordo com o ponto 5 do Estatuto Editorial do “Etc eTal jornal”, o texto inserto nesta rubrica foi escrito de acordo com a antiga ortografia portuguesa.

01nov15

 

 

 

Partilhe:

Deixe uma resposta

O seu endereço de email não será publicado.

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.