O mais antigo diretor desportivo de ciclismo do país, José Santos (Boavista) esteve à conversa com o “Etc e Tal Jornal”. Uma entrevista pertinente e com algumas novidades pelo meio, uma das quais diz respeito à possibilidade do Boavista Ciclismo Clube organizar, no próximo ano, uma grande corrida (velocipédica, como é óbvio) na cidade do Porto. Mas, há mais… muito mais, a ler já de seguida.
Saiba entretanto, que José Santos está, há 30 anos, à frente dos destinos das equipas de ciclismo do clube “axadrezado”, ora, inicialmente, e durante muitos anos, como Boavista Futebol Clube, ou mais recentemente (há cinco anos a esta parte) como Boavista Ciclismo Clube, também ele umbilicalmente ligado ao clube do Bessa.
Prof. José Santos, há quantos anos existe o Boavista Ciclismo Clube, sabendo que o Ciclismo no Bessa existe há décadas?
“O Boavista Ciclismo Clube existe há 5 anos embora a atividade velocipédica no Boavista conte, interruptamente, com 30 anos de existência. Data que vamos comemorar no próximo ano. E quando falo em trinta anos, falo desde a altura -1986 – em que eu e o Tavares Rijo tomamos conta da secção e o ciclismo passou a ser profissional. Vamos comemorar essas três décadas de ciclismo sob a égide do Boavista FC”.
“Somos a equipa que melhor desempenho tem tido”
Entretanto, foram muitas as vitórias alcançadas pelo Boavista?!
“Vencemos por duas vezes a Volta a Portugal. Conquistamos, praticamente, todas as provas a nível nacional: Voltas ao Algarve… ao Alentejo. Somos de facto a equipa que melhor desempenho tem, não só na prospeção de novos valores, como também no desenvolvimento do ciclismo através da organização de diversas provas, algumas das quais, de charneira no calendário nacional”.
Prof. José Santos, como uma das figuras mais antigas do ciclismo nacional, o que diz desta modalidade em pelo século XXI? Há uma evolução, ou um retrocesso?
“Ora bom… Evolução, penso que sim! O ciclismo é um dos desportos tradicionais mais antigos e conseguiu, digamos assim, entrar na filosofia da sociedade moderna. É um desporto que não polui; é um desporto que dá a sensação da liberdade às pessoas. Pessoas que pegam na bicicleta e têm um alcance extraordinário, e, agora, com a BTT ainda mais o contacto com a natureza.
Esta modalidade desportiva, que aliou, para além do lazer, o aspeto competitivo, e tem conseguido, nos últimos anos, através das transmissões televisivas, a nível internacional, granjear um grande número de adeptos em todo o Mundo e principalmente na Europa e nos “novos” países, principalmente os anglo-saxónicos…”
A Comunicação Social e a projeção do ciclismo
Falou em termos televisivos. Pensa, a esse propósito, que, em Portugal, a nossa Televisão só está vocacionada para a Volta a Portugal havendo, porém, outras provas, entre elas a Volta ao Algarve, que traz ao nosso país os melhores corredores do Mundo?
“Penso que o problema da Comunicação Social em Portugal é um bocadinho parecido com os países da Europa do Sul menos desenvolvidos, e vocacionados apenas para uma aérea:o futebol.
Nós se reparamos em outros países – “mais desenvolvidos” a nível cultural, casos de França, Reino Unido entre outros – temos informação desportiva de diversas modalidades.
No nosso País, infelizmente, o futebol tem tido a primazia diária, quer a nível de televisão, quer a nível da imprensa escrita e quer mesmo a falada. Portugal tem perdido, digamos assim, em relação ao ciclismo.
De qualquer das formas, há também a ter em linha de conta o facto de que não é só ao ciclismo que isso acontece! Acontece a outras modalidades ditas amadoras qua as pessoas apelidam de amadoras e nada têm de amadoras, mas que, de qualquer das formas, também o seu espaço informativo.
Uma reportagem televisiva de ciclismo fica cara. Sabemos também que há uma crise grande a nível nacional e internacional na angariação de patrocinadores. De facto não há dinheiro que chegue para colmatar as exigências financeiras quanto às transmissões televisivas.”
“O ciclismo ficou a perder com o desaparecimento (em termos organizativos) da empresa JN”
Prof. vê vantagens na estrutura organizativa das grandes provas nacionais, nesta caso a Volta a Portugal, quando a mesma era da responsabilidade do JN, isto em relação ao que se passou depois com a PAD, já extinta, e posteriormente com a “Podium”? Há diferenças?
“São tempos diferentes; projetos diferentes! Enquanto um. O JN, tinha um projeto da divulgação da empresa em si, e organizava os seus eventos as suas provas de ciclismo como meio da divulgação da sua “marca”, esta ultima entidade organizadora, a Podium, já passou por vários nomes. João lagos, PAD e agora é a “Podium” – e não ficará por aqui! – visam, única e exclusivamente, o lucro comercial, porque é função deles organizar eventos. Se não ganhar com os eventos, a empresa fecha.
Penso, que se ficou a perder com o desaparecimento, no ciclismo, da empresa JN, já que tinha mais capacidade de penetração na camada industrial, mesmo nas entidades oficiais e nas autarquias. Tinha uma capacidade de penetração maior do que a “Podium” e isso reflete-se na dificuldade que a “Podium” tem para organizar eventos de ciclismo. Lembro que o JN organizava 4 ou 5 eventos anuais e em todos eles havia público, havia entusiasmo, agora há poucos eventos com o nível que existiam na altura do JN, porque de facto as coisas estão mais pesadas”.
“O que é pena é que o ciclismo tenha cavado a sua própria sepultura! Existe, agora, uma versão do Prémio JN, mas não compreendo a empresa JN?! Ela própria diz não conseguir desenvolver uma grande prova de ciclismo. Dizem, lá de dentro para fora, que os tempos são outros, mas a empresa é a mesma, e há muitas pessoas e entidades que eu sei é que se a prova fosse organizada pelo JN, este grande prémio tinha possibilidades de se tornar num premio para quatro a cinco dias. Esta é uma competição muito antiga. Ela tinha, no seu seio, pessoas com alguma experiência, a começar no Serafim Ferreira e a acabar no Armando Santiago. Pessoas que, durante anos, deram todo do seu saber, credibilizando este Prémio”.
Boavista quer maior projeção internacional
O calendário da época 2016 está a bater á porta. Já está tudo definido?
“Dizem-me que sim. É um calendário com o qual não nos podemos queixar muito… já foi pior! Está um bocadinho inferior ao do ano passado. No ano passado tinham umas provas que este ano não aparecem, de qualquer das formas, é um calendário que está ligeiramente preenchido. Acautelamos também alguns vazios com provas a nível internacional. Pensamos estar em força, em Espanha como na época que agora terminou, e também em França, onde pensamos alargar para o Tour de Xeronde, Tour de Luasy. São três provas que queremos fazer, digamos que é uma aposta do clube, que visa claramente uma maior internacionalização, nas quais equipa Radio Popular- Boavista se quer projetar “.
Limite de idade para corredores profissionais é “desmotivante”
O novo regulamento limita a idade máxima dos corredores para 28 anos. O que é que diz a esse respeito?
“Concordaria com essa lei em Portugal, se tivéssemos equipas de escalões superiores, para as quais os ciclistas pudessem transitar, como não temos, estamos obrigados a trabalhar para as equipas de lá de fora. É ai que eu estou em desacordo!
Por outro lado, não temos ciclistas, nem capacidade para alimentar o pelotão nacional e há ciclistas que chegam aos 28 anos que prematuramente vão ter que abandonar a modalidade. Vamos, assim, ter que substitui-los por outros de menor qualidade. Ora, isso é desmotivante, principalmente, quando vamos competir com ciclistas de grande qualidade. Na Volta a Portugal estaremos, com plantéis em desigualdade com os estrangeiros, exatamente, por esse fator “.
Este regulamento é só cá para Portugal?
“Não. Cada País adota a filosofia que quer. Nas equipas continentais, a única regra imposta pela UCI é que a maioria dos ciclistas tem de ter menos de 28 anos de idade. Em Portugal, este ano, em 10 ciclistas só posso ter quatro com mais de 28 anos. É muito chato para as equipas mas muito mais penoso para os ciclistas profissionais porque há ciclistas com valor, que vão ser obrigados abandonar a modalidade, sendo substituídos por outros que não tem o mesmo valor, nem a mesma qualidade.”
Será para dar mais apoio às equipas de Sub- 23?
“Não sei. Este ano tivemos que reforçar a equipa. Houve rejuvenescimento da equipa. Houve ciclistas que abandonaram há muitos anos, caso do Célio Sousa… do Virgílio Santos. Em Portugal não conseguimos contratar ciclistas, tivemos, assim, que nos virar para o estrangeiro para colmatar essas saídas”.
Mesmo assim, vamos ter ARP-Boavista a participar em Portugal e no Estrangeiro em 2016?
“Sim. A equipa terá 10 ciclistas, entre os quais seis portugueses, três espanhóis e um francês.
O ciclista francês é para a nossa, cada vez mais apetência, em participar em provas em França, e os espanhóis também, porque, de facto, nos temos “abastecidos” com ciclistas com alguma qualidade e, em Espanha, esperamos, destes 4 ciclistas novos que vamos contratar para 2016, que saiam com o mesmo valor que o Alberto Galego demonstrou em 2015.
O Boavista tem sido nos últimos anos um viveiro de corredores, a grande parte deles que estão lá fora a competir já vestiram a camisola do Boavista. Nós temos mesmo gosto nisso!
O último ciclista que formamos foi o Tiago Machado porque neste ano de 2015 tivemos um espanhol, o Alberto Galego, dois anos connosco, que é um ciclista de grande craveira internacional. Pensamos que dentro de dois anos estaremos com a elite do ciclismo Mundial, tal como está o Tiago , e tal como está o José Gonçalves, que também foi nosso ciclista.
Encargos acrescidos com o policiamento dificultam a realização de provas
O ciclismo está bem e aconselha-se?
“Penso que sim. O problema da crise notou-se um bocadinho… houve alguma dificuldade, principalmente, na organização de provas. Em termos de clubes (equipas) a coisa manteve-se. Agora, em termos de organização de provas é que se tornou uma maior dificuldade por ter havido um acréscimo de despesas, em especial com o policiamento, isso fez que, em algumas atividades, os custos fossem demasiado elevados”.
“O ciclismo carece de público!”
o que é que diz sobre a chegada do Grande Prémio JN à Praça das Flores e não à Avenida dos Aliados, no centro do Porto?
“Penso que foi uma opção da Camara Municipal do Porto. A Câmara quis, ou quer, animar a parte oriental da cidade e, então, empurrou o ciclismo para aquela zona.
Pronto, são opções! Mas, há dois anos, a prova terminou na Avenida dos Aliados e estava uma multidão a apoiar os ciclistas. Tirando o ciclismo da baixa e passando para uma zona morta – aquilo ficou sem pessoas, muitas das quais nem sabiam onde se situava essa praça -, isso afastou as pessoas, o que é grave porque o ciclismo carece de público e de divulgação através dos órgãos de informação, muito especial da televisão. Por exemplo, a modalidade mais vista na Eurosport é o ciclismo.”
Vamos ter ciclismo em 2016 e a cidade do Porto será representada pela equipa RP-Boavista…
“… sim, e há, praticamente, 30 anos tem sido assim. Não tem existido mais outra associação, outro clube, que faça ciclismo na cidade do Porto, e nós estamos honrados com isso. Tivemos o apoio da Camara Municipal do Porto nos tempos do Dr. Fernando Gomes e do saudoso Armando Pimentel. Como sabe, no tempo do Rui Rio passou-se assim um bocado ao lado. Nós nem temos muita razão de queixa: conseguimos organizar alguns prémios na cidade do Porto, e vamos tentar em 2016, como comemoraremos os nossos 30 anos, estabelecer uma parceria com a Câmara Municipal do Porto, no sentido de divulgar o Ciclismo na Cidade e também divulgarmos a cidade nas provas onde participamos no estrangeiro”.
Tem ideia que pode surgir um Grande Prémio aqui na cidade do Porto?
“Eu não direi um Grande Premio, mas talvez um circuito, uma escalada ou uma rampa que pudesse funcionar como uma dos momentos de animação de cidade.”
Texto: Luís Almeida
Fotos: Pedro N Silva e Pesquisa Google
01dez15
Gostaria de fazer chegar esta mensagem ao meu amigo e antigo colega no jornal O Comercio do Porto, Prof. José Santos:se alguém que leia este meu pedido tiver o co tacto do Prof. agradeço o favor de lhe enviar.
Obrigado
Amigo José Santos, desejo as maiores felicidades e os melhores resultados nesta Volta Portugal Bicicleta 2024
Grande abraço
Júlio Sobral
Estou de acordo com o que diz omeu amigo José Manuel Martins dos Santos, com quem trabalhei,na escola preparatória de Valpaços, como orientador de estágio. Desejo muito entra em contacto com ele. Será esta uma forma de ele me contactar? Ficava grato.