José Gonçalves
A 15… de fevereiro de 2016. Sem bairrismos balofos, mas com verdades factuais, a região do Norte de Portugal, voltou a sofrer um ataque oriundo da capital do império. Não é a primeira nem a centésima vez que isso acontece. A História prova-o há séculos.
São “ataques” faseados, normalmente mal delineados, mas sempre prontos a fazer mossa. Não tivesse o Porto, o Norte do País, e agora também a Galiza, conquistado uma importante estrutura económica, cultural, e social, já, há muito, tudo estaria vendido aos interesses do Terreiro do Paço.
Ora, este relembrar de factos, surge por causa do último ataque a esta região, desta feita com a suspensão, pela TAP, de importantes voos do aeroporto do Porto para cidades europeias de referência, como Bruxelas (Bélgica), Milão, Roma (Itália) e Barcelona (Espanha), já a partir de meados de março.
Tratam-se de capitais regionais e nacionais de “somenos” importância para a “público-privada” TAP, a tal companhia aérea de bandeira (que bandeira?!), gerida pelo consórcio Atlantic Gateway, de Humberto Pedroso e David Weeleman, em parceria com o Estado, que, neste caso, estranhamente nada risca, nada tem a dizer, embora comece a abrir a boca. Esperamos que seja para não dizer asneiras.
Há uma reunião agendada entre o primeiro-ministro António Costa, e o presidente da Câmara Municipal do Porto, Rui Moreira, para a próxima quarta-feira (17fev16), durante a qual será abordado o assunto. Neste particular não sei se Moreira vai para Lisboa de avião ou se preferirá ir de comboio.
Bem. Independentemente das conclusões (positivas ou negativas) da referida reunião, não se poderá nunca passar uma “esponja” sobre este ataque aos interesses do noroeste peninsular. Interesses essencialmente económicos, quão representativos eles são de uma região, com mais de sete milhões de almas, e líder de exportações (no caso luso) a nível nacional.
A TAP público-privada refere, em certos e determinados estudos, que do Porto os voos para as referidas cidades europeias não são lucrativos. Pergunta-se: quais são então os voos lucrativos numa empresa que regista sempre défices atrás de défices?
A centralização dos voos em Lisboa, com o já anunciado reforço das ligações aéreas entre a Invicta e a capital do Império, pode ter (por certo terá) outros objetivos mais complexos, que o edil Rui Moreira, tem alertado, defendendo como poucos os interesses da região. Para ele a estratégia da TAP visa a construção de um novo aeroporto e uma ponte (sobre o Teja, está claro!), em Lisboa. Certos doutos senhores e senhoras acusaram-no de tudo: radical, bairrista, populista, demagogo.
Enfim, coisas que nós – cá por cima… “por cima” mesmo – estamos habituados a ouvir quando alguém representa e defende com coragem uma região em crescimento, que cria por seu próprio mérito grandes e úteis infraestruturas – muitas das quais elogiadas por esse mundo fora -, e vai dando o salto levando consigo a bandeira de Portugal, ao contrário do que faz ou quer fazer a tal TAP. A tal que era para ser privatizada pelo anterior governo de direita radical, e que, com o atual, de esquerda, e agora “publico-privada” ainda vai mexendo certos cordelinhos, com vista ao lucro centralizado, fácil e com objetivos pouco cristalinos, como é o caso recente da entrada de capital chinês na companhia aérea de bandeira… portuguesa.

A cidade do Porto é, cada vez mais, um destino de referência turística a nível mundial. O aeroporto do Porto é considerado um dos melhores do mundo. A região do Douro, a Galiza e o turismo religioso com capital em Santiago de Compostela, são destinos mundiais de referência. Operadores aéreos como a Ryanair ou a EasyJet (ambas “low-cost”), com plataforma no aeroporto do Porto, sabem disso, apostam nisso e tiram lucro com isso. Sabem da capital importância que é o investimento neste destino de partida e chegada do mundo e para o mundo. Só a TAP é que não. Ou melhor: sabe, mas não quer saber.
Isto das tempestuosas relações da TAP com o Porto e o noroeste peninsular não são de agora, a propósito, aconselho o(a) amigo(a) leitor a ler na próxima edição do nosso jornal (01mar16), um artigo assinado por José Castro, na rubrica Tribuna Livre.
Estas jogadas sub-reptícias, economicistas e fedorentas fazem-se como que querendo TAPar os olhos a quem, com eles bem abertos, é depois obrigado, e uma vez mais, a levantar bandeiras: a do Porto, a do Norte, a do Noroeste Peninsular e a de… Portugal.
Por aqui, queremos ser tão portugueses como são os portugueses da capital do império. Queremos ser tão portugueses como querem ser portugueses todos aqueles que não vivendo na “central”, sobrevivem na “província”.
Ai! Essa da “província”! Tão antiga – não é!? Lembram-se: “Lisboa é Portugal e o resto é paisagem”?
Lindos meninos!
Esta é já uma questão geracional. Pena é que quem “cá de cima” e vive decidindo lá por baixo” se esqueça das suas origens e não saiba respeitar os legítimos interesses da terra que o viu nascer e o criou, por certo, malcriado. Exceção feita, entre outros, ao secretário de Estado das Comunidades, José Luís Carneiro, que já condenou a decisão da TAP, o que não é de estranhar, poie ele, como poucos, conhece diretamente a realidade do norte de Portugal.
Ora bem! É claro que temos de saber qual a rentabilidade desses voos, como que se por cá não houvesse pessoas que saibam fazer contas (90% de ocupação…. Noventa por cento. É pouco?).
É claro que há uma estratégia económico-financeiras a ter em conta, como que se por cá não existissem instituições, como a Associação Empresarial de Portugal (AEP), ou a Associação Comercial do Porto, e nada percebem do assunto.
É claro, que a TAP tem de dar lucro. Mas, quando é que a TAP deu lucro? E quando deu, quais foram os voos riscados do mapa com partida e chegada ao Porto?
A Ryanair e a Easyjet riem-se, riem-se, com esta coisa, e outras companhias estão à esperinha do “corte”, da TAP ou do retirar do TAPete ao mercado do noroeste peninsular. Não faltarão interessados e os passageiros não serão prejudicados por esta decisão. Cá por cima sempre soubemos resolver problemas que coloquem em causa a nossa dignidade.
Vêm aí muitas explicações da TAP, a última das quais é que as quatro rotas a partir do aeroporto do Porto, as quais serão canceladas em março, estão a dar oito milhões de euros de prejuízo, e que nem com taxas superiores a 100 por cento, seriam rentáveis. Então acabem com a TAP, ou digam quais são as rotas que dão lucro: Lisboa-Lisboa”, ou os aviõezinhos da extinta Feira Popular?
Mas – ouviu-se – a culpa foi do Salazar! O que é que se há-de fazer?! O homem com tantas culpas no cartório, por certo, terá algumas no que diz respeito ao centralismo político e de interesses na capital do Império, agora se ele tem haver alguma coisa com estes cortes, aí é que já duvido um pouco, a não ser que alguém, queira seguir a sua política… aí já não sei! Se calhar até há?! E se há, fica um aviso: Tenha cuidado com a cadeira onde está sentado e não tente TAPar os olhos a quem quer que seja, porque o destino do seu voo não será, por certo, Santa Comba Dão, mas um amarar repentino no Triângulo das Bermudas, sem possibilidade de resgate.
Maus amigos: Sejam inteligentes… dialogantes. Estudem com olhos de ler. Não brinquem com as pessoas, porque as pessoas são muitas. Cuidem dos vossos serviços de atendimento. Cuidem dos vossos trabalhadores. Saibam respeitar Portugal e as suas regiões com aeroportos estratégicos (Porto, Faro, Ponta Delgada e Funchal) para depois saberem respeitar Portugal e a sua… bandeira, levando-a aos quatro cantos do mundo, com destaque para os países lusófonos. Tentem honrar o país de uma vez por todas! Sabem o que é isso de honrar um país? Mesmo sem grandes lucros? Duvido.
Foto: Pesquisa Google