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Almeida Garrett (1799 – 1854)

Hoje recordamos a figura de João Baptista da Silva Leitão, mais conhecido por todos como Almeida Garrett, o grande romancista, poeta e dramaturgo, colaborador de vários jornais, assim como político (ministro, deputado, diplomata, secretário de estado) e brilhante orador que agitava o parlamento com os seus discursos… Nasceu no Porto, na freguesia da Vitória, na antiga Rua do Calvário, n.ºs 18, 19 e 20 (hoje Rua Dr. Barbosa de Castro, n.ºs 37, 39 e 41).

Casa onde nasceu Almeida Garrett
Casa onde nasceu Almeida Garrett

Entre cinco irmãos,  foi o segundo filho de um funcionário superior da administração fiscal (selador-mor da Alfândega do Porto), António Bernardo da Silva Garrett e de Ana Augusta de Almeida Leitão, sendo esta oriunda de uma família burguesa ligada à actividade comercial.

A sua infância, que ele caracterizava como “[…] os felizes dias de minha descuidada meninice!”, ou “[…] as lembranças da minha ditosa infância e as doces recordações dos primeiros anos da casa paterna” foi passada, principalmente, na Quinta do Sardão, em Oliveira do Douro (Vila Nova de Gaia), propriedade pertencente ao seu avô materno. Mais tarde, Garrett escreveria: “Nasci no Porto, mas criei-me em Gaia“.

Aos 10 anos, acompanhou a família quando esta se refugiou nos Açores, onde possuíam propriedades, na ilha Terceira. Fugiam das tropas francesas de Napoleão Bonaparte, aquando da segunda invasão, comandada pelo general Soult que ocupou e saqueou o Porto. Nos Açores, iniciou a sua formação literária, em moldes clássicos, sob a orientação do tio Frei Alexandre da Sagrada Família, bispo de Angra, destinando-lhe a família seguir a vida eclesiástica.

Durante os anos da sua meninice, João Baptista ficou marcado pela convivência com as duas criadas da casa, a Brígida e a Rosa de Lima que lhe contaram muitas histórias sobre fantasmas e almas do outro mundo, bruxas e diabos, mouras e princesas, temas que muito contribuíram para alimentar o seu imaginário literário quando, mais tarde, recuperou esses dados, preservando-os, após um aturado trabalho de recolha e pesquisa, na sua obra “Romanceiro“, que se trata de uma compilação de lendas e romances portugueses de tradição oral ou escrita, cujas raízes são provenientes da nossa cultura nacional e popular.

Como João Baptista não seguiu a vida eclesiástica, em 1816, ingressou na Universidade de Coimbra para estudar Direito. Foi por esta altura que anexou ao seu nome o apelido Garrett, resultante da sua ascendência paterna, de origem irlandesa, nome pelo qual mais conhecido se tornou.

A vivência e a convivência académica levaram-no a entrar em contacto com os ideais liberais e a organizar uma loja maçónica, frequentada por alunos da Universidade. Nesta fase da sua vida, despontava já a sua vocação literária, editando o primeiro livro de poemas.

Almeida Garrett de sentinela ao Convento dos Grilos
Almeida Garrett de sentinela ao Convento dos Grilos

Com a revolução liberal (1820), Almeida Garrett envolveu-se profundamente na grande mudança política e social de Portugal mas, quando a facção absolutista/conservadora voltou ao poder, foi obrigado a deixar o País (entre 1823-26), o mesmo acontecendo entre 1828-31, quando D. Pedro IV teve de abdicar. No entanto, a sua permanência em França e Inglaterra permitiram-lhe conhecer o movimento romântico, o que contribuiu para a sua adesão a esta nova corrente literária. Ainda em Paris, publicou os poemas Camões e Dona Branca, considerados os primeiros textos românticos portugueses.

Regressou a Portugal, em 1832, integrado na expedição liberal que desembarcou no Mindelo (os “Bravos do Mindelo”), acção que se concretizou na ocupação do Porto, comandada por D. Pedro IV. Durante o cerco do Porto pelas tropas absolutistas de D. Miguel, Garrett integrou como voluntário o famoso Batalhão Académico, como soldado nº 72, ao lado das forças liberais.

Foi, durante o cerco do Porto, enquanto estava aquartelado no Convento dos Grilos (Igreja de S. Lourenço), que iniciou a escrita do romance histórico, provavelmente, a sua mais bela obra sobre o Porto, O Arco de Sant’Ana que, embora se reporte a uma revolta popular contra o bispo do Porto, no século XIV acentua, também, os conflitos políticos e religiosos da sociedade sua contemporânea, nomeadamente, a reacção cabralista apoiada pela Igreja, que visava pôr fim ao liberalismo, restaurando o poderio eclesiástico, em Portugal.

Garrett teve uma vida política muito intensa, desempenhando vários cargos de relevo e levando a cabo várias acções de grande importância no país, tais como a criação da Inspecção-Geral dos Teatros, a fundação do Conservatório Geral de Arte Dramática e do futuro Teatro Nacional de D. Maria II.

almeida garrettt - frei luis de sousa

almeida garrett - o romanceiro

A par da sua vida literária está, sem dúvida, a sua vida política pois, desde a revolução liberal de 1820, iniciada no Porto, em que se envolveu intensamente, até ao cerco do Porto (1832-1834) em que participou ao lado de D. Pedro IV, este “poeta-soldado” destacou-se sempre como defensor das ideias liberais. Na sua vida particular Garrett foi, sobretudo, um homem de amores muito atribulados: com Luísa Midosi, menina muito jovem, teve um casamento mal sucedido; com a segunda companheira, Adelaide Pastor, sofreu a morte precoce desta; com a Viscondessa da Luz teve uma paixão adúltera que ficou celebrada em versos que foram considerados escandalosos, na época…

Garrett era tido como um perfeito “dundy”, ou “janota”, senhor elegante e bem-parecido que sobressaía como sedutor/apaixonado, nos salões mundanos. Nas suas palavras, fica um pouco do seu auto-retrato: “[…] um verdadeiro homem do mundo, que tem vivido nas cortes com os príncipes, no campo com os homens de guerra, no gabinete com os diplomáticos e homens de Estado, no parlamento, nos tribunais, nas academias, com todas as notabilidades de muitos países – e nos salões enfim com as mulheres e com os frívolos do mundo, com as elegâncias e com as fatuidades do século

Este grande português que expressou uma característica relevante do Porto e das suas gentes, na seguinte frase – “Podemos trocar os vês pelos bês, mas não trocamos nunca a liberdade pela servidão”, faleceu a 9 de Dezembro de 1854, estando os seus restos mortais depositados no Panteão Nacional.

Texto: Maximina Girão Ribeiro

Fotos: Pesquisa Google 

Obs: Por vontade da autora e, de acordo com o ponto 5 do Estatuto Editorial do “Etc eTal jornal”, o texto inserto nesta rubrica foi escrito de acordo com a antiga ortografia portuguesa.

01fev16

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