POLÉMICA em Ovar: “MÃOS DIVINAS” procuram… APOIOS!

Já há algum tempo que na rede social facebook se vem assistindo a duras polémicas que se estão a transformar na mais visível oposição ao atual executivo da Câmara Municipal de Ovar, e particularmente ao seu presidente Salvador Malheiro, acusado de “poucas obras e muitas festas”.

No entanto a mais surpreendente e pública polémica despoletada através da net, acabou por surgir pela indignação do artista Marcos Muge, autor de esculturas em madeira, como “As Mãos de Deus” no âmbito de um projeto que o autor designa de “Mãos Divinas”, cuja construção envolve o conjunto de árvores de cedro com cerca de 150 anos, localizadas no adro da Igreja Matriz de Ovar, junto à entrada principal do Cemitério.

Este artista ovarense veio assim insurgir-se contra afirmações do presidente da Câmara, Salvador Malheiro, que igualmente na sua página pessoal, e na sequencia de acusações de Marcos Muge, de que estava haver “falta de correspondência e disponibilidade por parte do atual executivo municipal”, para a conclusão do projeto escultório, o autarca veio lembrar o montante de 60 mil euros gastos com artistas, o que também acabou por indignar algumas vozes criticas que se têm mostrado solidários com o artista de tal empreendimento cuja simpatia pela primeira obra executada “As Mãos de Deus”, já ultrapassou fronteiras e se tornou local de visita e contemplação.

O projeto que contempla a criação de um conjunto escultório com base no aproveitamento das várias árvores de cedro que o seu autor identifica como “árvores raras bíblicas”, que num ano de grande temporal (2013) tiveram de ser em parte cortadas, tendo o artista na altura idealizado tal obra, que considera retratar “a fé dum povo, crente na intercessão divina”. O local em que de imediato começou a ganhar forma “As Mãos de Deus”, veio mesmo a ser “roteiro” de campanha eleitoral para os candidatos que acabaram por ganhar a atual maioria que governa a Câmara

Expectativas e desilusões

Determinado pelo seu espirito visionário, criativo e empreendedor, Marcos Muge lançou-se num grandioso empreendimento na sua terra natal, estimulado pela própria mudança na gestão municipal, que começou por dar sinais de uma postura distinta das anteriores, que deixaram más recordações ao artista, pintor e ceramista, reconhecidamente ostracizado pelos poderes públicos locais.

Um longo divórcio que parecia finalmente reconhecer a obra do artista da terra, a quem a Câmara adquiriu, ainda que a preços meramente simbólicos, as esculturas “As Mãos de Deus” por 15 mil euros em 2014, os painéis de azulejo com os Anjos Grandes em cima das Mãos de Deus, por 5 mil euros em 2015 e neste mesmo ano vendeu ainda ao município a segunda escultura numa árvore, “A Luz do Mundo” por 15 mil euros.

No entanto, os responsáveis autárquicos, não acompanharam o ritmo de produção do artista e toda a sua dinâmica no desenvolvimento de um projeto escultório que, era suposto consolidar-se com vários elementos apresentados por Marcos Muge, para quem, e em resposta a Salvador Malheiro sobre os dinheiros gastos com os artistas, esclarece, “que o que foi prometido foi a execução do conjunto da Obra das Mãos Divinas e posteriormente eu tenho dito muitas vezes aos eleitos, que Ovar tem a oportunidade de figurar na Historia Nacional e Internacional ao descerrar o Conjunto Escultórico no contexto das Aparições de Fátima na véspera da visita do Papa a Portugal, no mês de Maio de 2017. As datas não se repetem, tudo tem o seu tempo certo.”

Ao não ver disponibilidade da Câmara para continuar a apoiar este projeto por si sonhado e idealizado, Marcos Muge, nesta polémica com o presidente da Câmara, fez questão de explicar, que, ainda que não saiba “como contabilisticamente são organizados e expostos publicamente” valores abaixo dos 5000 euros, no que toca aos montantes por si recibos do executivo municipal no total de 38.500 euros, esclarece que 21.550 euros foram para mão-de-obra e 16.950 euros para gastos em materiais para execução das várias obras adquiridas pelo Município. E acrescentou na sua página do facebook, “Gostaria de informar o meu Amigo, Salvador Malheiro, que por ter grande respeito por Ovar os custos que apresento são baixos, comparando o resultado da obra com os custos dos materiais empregues e o muito tempo e esforço físico e técnico que implica executar, por isso não dá para tanto espetáculo e alarido folclórico pelo lado politico.”

Obra parada aguarda apoios…

A recente polémica com os autarcas que objetivamente deixaram de apoiar o artista Marcos Muge, acabou por ser o culminar das declarações deste irreverente cidadão e artista, que não compreende a mudança de posição dos vários responsáveis autárquicos que, em 2013 fizeram a seu lado e da obra então em curso, pose para a fotografia. Uma indisponibilidade de apoio financeiro ao projeto de execução das esculturas que ainda faltam realizar, que obrigaram a parar, porque, como afirma o seu autor, “na sequência da reunião em 28 de abril com vereadores, porque o presidente já não está disponível para falar com os munícipes quando não lhes interessa e pelas influencias que existiram sobre ele, deram por encerrado e talvez daqui a uns anos se recomece nas outras arvores”.

Nesta dolorosa decisão de suspender a continuação da sua Obra, Marcos Muge dizia ainda, que, “Porque não gosto dos eleitos com falta de palavra e porque estas esculturas dignificam Ovar para o futuro a partir do nosso tempo, com a data que se aproxima para 13 de maio de 2017. Vou ser persistente, porque desde o primeiro momento acreditei concretizar para o futuro uma Obra diferente e original em Ovar para o Mundo.”

Ainda que não considere o assunto como encerrado, o artista refere ainda que, “para se estar na política é preciso ter Visão e Olhar muito mais para a Frente, e não apenas em horizontes de 4 em 4 anos para serem reeleitos. Sempre foi assim, os políticos passam e o que ficar bem feito é o que será Memória para o Futuro. Eu nasci em Ovar e mesmo indo para Aveiro todos os dias, também estou todos os dias e respiro em Ovar quando crio e trabalho as minhas Obras de Arte.” Pese embora toda esta polémica, Marcos Muge, ainda considera Salvador Malheiro o mais “acessível” dos seus antecessores, e conclui, “o que ainda não é público é o porquê deste comportamento contra mim. Há ódios de alguém ainda não explicados que lhe enfiaram na cabeça.”

Perante tal impasse em que ficou este projeto das “Mãos Divinas”, em que da parte do presidente da Câmara nem mesmo a espectativa criada na sua página pessoal, de que entretanto iria conversar com o artista. Surgem entretanto cidadãos ovarenses disponíveis a chamarem a sociedade civil, para integrarem uma comissão independente que pode vir a ser constituída nas primeiras semanas de julho, de apoio à Obra de Marcos Muge e sobretudo ao conjunto escultório que engrandece a cidade de Ovar e suas gentes. Uma causa que está a envolver vários cidadãos, que prometem não baixar os braços, numa polémica que pode estar para durar e que já está a manchar o mandato autárquico de Salvador Malheiro e a sua eventual futura estratégia politica.

Texto: José Lopes (*)

(*)Correspondente “Etc e Tal Jornal” em Ovar – Aveiro

Fotos: Pesquisa Facebook

01jul16