José Lopes (*)
Esta é uma experiência pessoal e profissional de quem, como assistente operacional (educação) numa unidade educativa dos então 2.º e 3.º ciclos, que lentamente transformaram numa nova estrutura orgânica após a evolução para agrupamentos de escolas, a que passaram a designar por apenas escolas do ensino básico (EB), amputando-lhes a designação de EB 2.º e 3.º ciclos que perdurava há mais de duas décadas, resumindo-se cada vez mais estas unidades a lecionar apenas o 2.º ciclo (5.º e 6.º anos).
Assim, ao fim de duas décadas de uma vivência em meio escolar marcada por muita cumplicidade, em que a componente profissional se solidificou com um exercício de cidadania ativa na defesa da escola pública. Parece absurdo que o atual trajeto nos queira empurrar para um caminho tão tortuoso em que, nos querem tornar apáticos, quase esquecidos e amputados de iniciativa, de entusiasmo, de motivação, e sobretudo de intervenção para interagir com os restantes elementos da comunidade escolar.
Que papel nos está reservado afinal como membros integrantes das comunidades escolares? É a dúvida que passou a dominar quem durante anos vinha assumindo o desempenho das suas funções profissionais interagindo ativamente com professores, alunos, pais e encarregados de educação através de experiencias pessoais com diferentes e multifacetados dinamismos.
Quando se deixa um grupo profissional como os assistentes operacionais da educação, remetidos à indiferença, quase à inutilidade de poderem também contribuir com a sua experiência, dedicação e empenho, para uma efetiva melhoria do ambiente escolar. Uma vez que nem no final do ano letivo, e sobretudo no início de um novo, se proporciona a tais profissionais um momento de diálogo e de partilha sobre experiencias riquíssimas da sua participação e envolvimento nas diferentes vivências escolares dos alunos, tenham ou não múltiplas necessidades educativas especiais, e das relações interpessoais que daí resultam para uma melhor humanização no seio das escolas. A desilusão é grande!
Tal desilusão e muita frustração é sobretudo, naturalmente de quem nunca se quis submeter à evidente desvalorização dos não docentes que já atravessa décadas em democracia. A esses o convite é quase para que se ponham no seu lugar. Ou seja, para que se limitem às “pobres” competências que não perspetivam um olhar mais dignificante para estes trabalhadores, por mais importante que afirmem e que é o seu papel.
É assim nesta encruzilhada que nos vamos encontrando, com caminhos barrados a fatores de motivação, de iniciativa, de alegria e cada vez mais de autoestima, em que só alguma resiliência ainda nos pode permitir lidar com tantas adversidades e obstáculos.
Com o tempo a passar e a falta de respostas a prolongarem-se incompreensivelmente, quase não há resiliência possível que permita forças capazes de contrariarem tal estado de desmoralização que os mega-agrupamentos vieram aprofundar, com particular incidência na descaraterização de unidades de educação, como as escolas básicas do 2º e 3º ciclos em que tais realidades ganham maior relevância ao terem ficado fragilizadas em termos de organização e coordenação.
Ainda que toda a entrega à causa pública e neste caso aos alunos que dão vida às escolas, que sempre esteve muito para lá do cumprimento estritamente profissional, venha sendo a prática de um exercício de cidadania cada vez mais esvaziado de tal espirito, em favor do “securitismo” que nos vêm impingindo nos últimos anos. Por mais que tenhamos uma postura de resistência a tanta indiferença, o cansaço corrói energias, muitas energias perdidas, e nem mesmo os desafios de novas gerações de professores que trazem naturais sinergias e disponibilidade de participação ativa na alteração de rotinas e acomodamentos, são suficientes para contrariarem cenários de desalento, que trespassa de rostos cada vez mais sem força e entusiasmo para negarem o caminho que lhes está ingloriamente reservado pela própria legislação.
Tudo deveria ser bem diferente! Aos assistentes operacionais deveriam ser proporcionadas oportunidades de adotarem estratégias de comunicação e de gestão de comportamentos mais eficazes em meio escolar. Cabendo-lhes igualmente facilitar a integração e interação das crianças e jovens com os colegas em situações em que existam maiores dificuldades de autocontrolo das emoções, que se refletem na sua socialização. Responsabilidades que os especialistas valorizam, mas as sucessivas leis desvalorizam e não reconhecem, mesmo sendo exercícios habituais nas suas funções diárias ainda que em diferentes graus.
Negar esta encruzilhada para que nos empurram, não é fácil! Mas as gerações de jovens alunos que, com nós vão partilhando a sua vivência escolar, são mesmo a razão para ainda tentar travar interiormente a vontade de desistir de uma já longa caminhada de dedicação e exercício de cidadania que em meio escolar deveria ser estimulado e enaltecido.
(*) Como Assistente Operacional da EB António Dias Simões (Ovar)
01nov16