Patrícia Moreira (*)
Já se viveu numa época da história da humanidade que não era dada importância ao modo de com os seres humanos pensavam, agiam e/ou sentiam. Com a evolução dos equipamentos na área da medicina já é possível verificar as áreas do cérebro que estão ativadas, quando precisam realizar cálculos ou se deparam com alguma imagem ou pensamento onde as emoções afloram.
Sendo assim, o que muitos especialistas já sabiam e hoje tem-se a certeza, não existem duas pessoas iguais. Todos os indivíduos têm quocientes intelectuais diferentes: alguns são mais habilidosos na realização de cálculos, ao passo que outros possuem o dom para a arte, ou têm excelentes aptidões para a gastronomia, ou são ainda empreendedores de sucesso na agricultura. Agora pergunta-se: Como é possível existir tantas diferenças individuais quando o órgão responsável para estes comandos é o mesmo?
“Pessoas com características variáveis, como género e idade, revelam diferenças nas avaliações com neuroimagens – mesmo apresentando níveis similares de inteligência. Porém, estudos recentes demonstram que as diferenças individuais na estrutura e funções cerebrais relacionadas à inteligência são essenciais – e os últimos estudos expõem apenas a ponta do iceberg.
Pesquisas indicam que a nova definição de inteligência com base no tamanho de certas regiões cerebrais e na eficiência do fluxo de informações entre elas. Especialistas acreditam que, em breve, os exames de imagens do cérebro poderão vir a revelar a aptidão individual para certas áreas académicas ou carreiras profissionais. Quanto mais aprendermos sobre a inteligência, melhor entenderemos como ajudar os indivíduos a aperfeiçoar o seu potencial e a sua capacidade intelectual”. Revista Scientific American – por Richard J. Haier
Inteligências Múltiplas é a teoria desenvolvida a partir da década de 80 por uma equipa de investigadores da Universidade de Harvard, liderada pelo psicólogo Howard Gardner, que procurava analisar e descrever melhor o conceito de Inteligência.
Gardner afirmou que o conceito de inteligência, como tradicionalmente definido em psicometria de Quociente de Inteligência (QI), não era o suficiente para descrever a grande variedade de habilidades cognitivas humanas. Desse modo, a teoria afirma que uma criança que aprende a multiplicar números facilmente não é necessariamente mais inteligente do que outra que tenha habilidades mais fortes noutro tipo de inteligência.
Uma criança que leve mais tempo para dominar uma multiplicação simples pode aprender melhor a multiplicá-la tendo acesso a uma abordagem diferente.
O autor, supracitado, refere que não é por alguém dominar alguma área que deve ser considerado mais inteligente do que o outro. Pois, que apesar desse individuo poder não ser ágil em cálculos, pode ser capaz de compreender as intenções, motivações e desejos dos outros, e com isso ter uma carreira bem sucedida.
Inteligência lógico-matemático vs Inteligência emocional
Gardner define a Inteligência Lógico-Matemática como a capacidade de confrontar e avaliar objectos e abstracções, discernindo as suas relações e princípios subjacentes, e habilidade para raciocínio dedutivo bem como para solucionar problemas matemáticos; os cientistas, na sua maioria, possuem esta característica. Já a Inteligência Emocional é a capacidade de compreender as intenções, motivações e desejos dos outros e com isso ter uma carreira bem sucedida. Devemos lembrar que uma das primeiras nomeações ao termo de Inteligência Emocional reporta-se a Charles Darwin, que numa das sua obras referiu a importância da expressão emocional para a sobrevivência e adaptação.
No quadro abaixo, segue as principais características das Inteligências Lógico-Matemático e Emocional: (clique na imagem para ver melhor)
Embora as definições tradicionais de inteligência enfatizem os aspectos cognitivos, como memória e resolução de problemas, vários investigadores de renome no campo da inteligência estão a reconhecer a importância de aspectos não-cognitivos.
Outro pesquisador, também reputado nesta matéria de Inteligência Emocional, Daniel Goleman, referiu que devemos saber controlar as nossas próprias emoções e refuta a tese que a capacidade intelectual é um fator fundamental para o sucesso, seja ele profissional ou académico.
Goleman quis provar que o controlo emocional de uma pessoa é o que vai determinar a sua inteligência. Para chegar a este nível é necessário trabalhar toda a insolvência emocional, nomeadamente desde a infância. É importante que a criança tenha uma infância tranquila e estimulante, assim como considerar-se as aptidões individuais e a adequação às áreas que desenvolve mais rapidamente.
Acresce a necessidade de adequação de programas específicos, utilizando estas mesmas áreas para desenvolver todas as outras menos desenvolvidas. É neste ponto que se relacionam os conceitos de Inteligência Lógico – Matemático e Emocional, pois nada adianta ser um génio da matemática se não souber lidar com suas emoções.
De seguida serão apresentadas algumas perguntas de referência onde poderá identificar os diferentes tipos de inteligência, tendo como orientação a classificação de Gardner. Este Psicólogo da Universidade de Harward, propõe “uma visão pluralista da mente”, ampliando o conceito de inteligência única para o conceito de capacidades múltiplas.
Para o autor, a inteligência é a capacidade de resolver problemas ou elaborar produtos valorizados num ambiente cultural ou comunitário. Assim, propôs uma nova visão da inteligência, dividindo-a num primeiro momento em sete diferentes competências que se interpenetram, pois sempre agilizamos mais de uma habilidade na solução de problemas, sendo elas a Inteligência Verbal ou Linguística, a Inteligência Lógico – Matemática, a Inteligência Cinestésica Corporal, a Inteligência Espacial, a Inteligência Musical, a Inteligência Inter pessoal, a Inteligência Intra pessoal.
Estas duas últimas serão aqui agrupadas como Inteligência Pessoal. Segundo Gardner, todos os indivíduos nascem com grande potencial nas várias inteligências.
A partir das relações com o meio ambiente, social e pessoal, algumas competências são mais desenvolvidas ao passo que deixamos de aprimorar outras.
Nos anos 90, Daniel Goleman, também psicólogo da Universidade de Harward, veio afirmar que ninguém tem menos que 9 inteligências. Além das 7 citadas por Gardner, Goleman acrescenta mais duas: a Inteligência Pictográfica e a Inteligência Naturalista.
No questionário que se segue pretende-se que se escolha a situação mais adequada na sua forma de actuar no seu dia-a-dia, em situações do passado ou do presente. Pretende-se que escolha a opção que melhor corresponda à reacção a uma situação idêntica à sugerida. Poderá escolher duas ou três opções, sendo preferencial escolher apenas uma das oito sugeridas.
1 – Os melhores momentos que recordo da escola são:
-A declamação de um verso para os meus colegas;
Fui o mais rápido a completar um exercício de matemática;
-A representação de uma peça de teatro;
-Explicava muito bem aos meus colegas onde e como poderiam ir até minha casa;
-Fazia concertos musicais que todos gostavam;
-Todos os meus amigos vinham ter comigo para desabafarem sobre os problemas deles e conseguia exprimir facilmente o que sentia quando se zangavam comigo;
-Fazia desenhos que as pessoas ficavam admiradas;
-Adorava fazer reciclagens.
2 – No Secundário gostava de:
-Imitar cantores famosos;
-Entregar-me de corpo e alma a todas as paixões e pensava que seriam eternas;
-Perdia-me nas visitas aos museus;
-Explorar com a minha bicicleta (ou outros meios) todos os cantos da cidade;
-Participar em jogos de palavras de grupo e debates polémicos a respeito de opiniões;
-Realizar jogos de grupos com cálculos mentais;
-Aventurar-me a desmontar objectos ou electrodomésticos de lá de casa;
-Executar jogos imaginários com “viagens fantásticas”.
3 – Quando preciso de descontrair ou de relaxar
-Desenho aleatoriamente;
-Vou caminhar na natureza;
-Gosto de escrever;
-Faço puzzles;
-Ouço música no mais alto som que posso;
-Desabafo com os amigos;
-Danço sem parar;
-Distraio-me a arrumar os objectos de casa.
4 – Uma boa forma de me entreter num encontro amoroso é:
-Fazer um passeio de barco a dois;
-Ter uma boa discussão sobre um assunto actual;
-Passear num museu de arte contemporânea;
-Enumerar factos importantes;
-Uma boa conversa a dois de entreajuda;
-Um bom momento de expressão corporal, como dançar, participar numa peça de teatro;
-Fazer um puzzle de 3d;
-Ouvir uma música a dois sentados no carro.
5 – As melhores férias possíveis:
-Passear em diferentes espaços da natureza;
-Fazer palavras cruzadas ou sudoku;
-Estar um lugar tranquilo para escrever o livro da minha vida;
-Realizar longos passeios a pé;
-Conviver, sair e divertir-me com os amigos;
-Ouvir concertos de música que nunca ouvi;
-Desenhar um e num lugar tranquilo;
-Apreciar as estruturas arquitectónicas dos locais que visito.
6 – Uso a Internet para:
Utilizar “chats” de conversa para conhecer pessoas e novas realidades;
-Realizar jogos de “Arcádia”;
-Explorar cidades pelo “Street View”;
-Pesquisar textos de autores conhecidos;
-Apreciar danças em diversos vídeos;
-Analisar novas formas de arte;
-Explorar novos cantores, novas músicas e ovos ritmos.
-Ouvir músicas que me reportam a passeios na natureza.
7 – Se comprar um carro, o que tenho mais em conta no momento da sua aquisição:
-Perceber o seu funcionamento binário;
-Se me sinto confortável no seu banco;
-O espaço que tem o habitáculo;
-Se os meus amigos vão gostar de me ver nele;
-As suas linhas aerodinâmicas;
-O seu consumo / gastos e emissão de gases poluentes;
-Ler o seu manual;
-O seu barulho do motor.
8 – Quando tenho um problema a forma como o resolvo é:
-Vou caminhar para desanuviar a cabeça;
-Escrevo missivas sobre o assunto;
-Enumero e recapitulo os diferentes acontecimentos que já passei idênticos no passado;
-Pinto;
-Jogo xadrez;
-Vou-me entreter com a terra (plantar, cavar, semear) ou caminhar sobre a relva;
-Falo horas a fio sobre o mesmo;
-Danço ao som da música até me cansar e não pensar mais no problema.
9 – Eu classifico-me na minha maneira de ser como:
-Detalhista;
-Musical;
-Artista;
-Comunicativo;
-Ágil;
-Ecologista;
-Amigo ou Sensível;
-Racional.
10 – Gosto de aprender através de:
-Passear na natureza.
-Expressão artística
-Discussão de casos pessoais;
-Histórias e músicas;
-Atividades estruturadas passo a passo;
-Demonstrações e experiências;
-Exercícios de análise de fatos, dados e números;
-Ler livros
De seguida compare no quadro as suas respostas com as letras. Contabilize-as e daquelas letras onde obtiver maior número de respostas será a que corresponde a um tipo de inteligência específico. (clique na imagem para ver melhor)
Inteligência Verbal ou Linguística: habilidade para lidar criativamente com as palavras, tanto na expressão oral como escrita; possivelmente é a mais fácil de se compreender em uma pessoa, pois a forma de comunicação verbal é um modo de expressão das habilidades de cada um; este tipo manifesta-se em escritores, oradores, políticos, formadores, professores, pessoas que elaborem relatórios, cartas comerciais, petições judiciais, e outros documentos que exijam uma clara redacção do texto.
Inteligência Lógico – Matemática: competência para desenvolver e ou acompanhar sequências de raciocínios, resolver problemas lógicos, capacidade para solucionar problemas envolvendo números e demais elementos matemáticos; não está relacionada apenas com cálculos, mas também com a resolução de problemas que envolvam a lógica e ou raciocínio lógico; habilidades para raciocínio dedutivo; este tipo manifesta-se em matemáticos, engenheiros e físicos, mas também em advogados de defesa aquando da defesa do seu cliente.
Inteligência Cinestésica Corporal: capacidade de usar o próprio corpo de modo diferente e hábil, na expressão corporal, bem como na resolução de determinados problemas que exijam a intervenção do próprio corpo; exemplo os atletas, mímicos, dançarinos, pugilistas, jogadores de futebol (não só o pé mas também o corpo).
Inteligência Espacial: noção de espaço e direcção, capacidade de extrapolar situações espaciais para o concreto e vice-versa., possuindo grande percepção e relacionamento com o espaço; são exemplo deste tipo os arquitectos, navegadores, cirurgiões, quem tem uma boa orientação no espaço aqueles que não se perdem em uma cidade quando a conhecem ou se orientam bem em um mapa.
Inteligência Musical: capacidade de organizar sons de maneira criativa; de interpretar, escrever, ler e expressar-se pela música; as pessoas que gostam de oferecer música ou que associam-na a determinadas fases da sua vida possuem esta inteligência emocional mais desenvolvida, bem como todos os compositores alguns muito famosos, e quem toca por ouvido sem conhecer a partitura.
Inteligência Pessoal: aqui são englobadas os dois tipos de Gardner:
Inteligência Interpessoal: habilidade de compreender os outros; a maneira de como aceitar e conviver com o outro; comunicar de forma adequada com os outros, motivando-os, incentivando-os e dirigindo-os, temos os exemplos de alguns professores, líderes, psicólogos, médicos, etc.
Inteligência Intrapessoal: capacidade de relacionamento consigo mesmo, autoconhecimento, de entrar em contacto com o seu próprio “eu”, de se auto avaliar e reconhecer os seus pontos fortes e fracos, capacidade de descrever os seus próprios sentimentos e emoções. Habilidade de administrar seus sentimentos e emoções a favor de seus projectos. É a inteligência importante para a auto – estima devido à importância do conhecimento de si mesmo; conhecendo os pontos fortes e fracos reconhece-se as falhas e pode-se adoptar um melhor comportamento.
Inteligência Pictográfica: habilidade que a pessoa tem de transmitir uma mensagem pelo desenho que faz; pela arte, grafismo, e da resolução de problemas por esta via de comunicação; esta inteligência encontra-se mais desenvolvida em crianças que não sabem ler, modo de se manifestarem, posteriormente poderão perder com a aprendizagem da leitura e escrita; génios da pintura e obras de arte são exemplo desta inteligência.
Inteligência Naturalista: capacidade de uma pessoa em sentir-se como um componente natural, de distinguir as diferenças no campo da natureza, reconhecendo, respeitando e estudando outros tipos de vida; temos os biólogos, ecologistas, naturopatas, homeopatas ou outros que gostem utilizar os proveitos da natureza.
Nota: todo este conjunto de questões são apenas uma referência para perceber como reage e qual o tipo de inteligência que poderá ter mais desenvolvida no seu caso de um ponto de vista muito genérico. Deverá recorrer a um profissional da área da Psicologia Clinica para que este o possa esclarecer melhor sobre este tema e promover uma melhor orientação na exploração do mesmo.
(*)Psicologa Clínica, com a colaboração de Drª. Camila Lais Valsechi Neurocientista e Psicopedagoga e Drª. Renata Teles Psicologa Clínica
Fotos: Pesquisa Google
Infografia: Pesquisa da autora / PNS (arranjos gráficos)
01mar17