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O Vale do Tua, a Linha do Tua e a tardia reação da Comunicação Social Nacional

O Tua, a Linha do Tua, o Vale do Tua: Tudo temas polémicos, injustos e incongruentes, mas que nem sempre tiveram o merecido destaque junto da comunicação social.

Porém, há que realizar a curiosa observação de que, enquanto se ilustra a submersão das últimas porções de terreno previstas pela EDP, há um crescente número de interessados em não só visitar o Vale do Tua, como “levar” uma opinião das suas gentes. É caso para dizer: “nós avisámos”.

O Movimento Cívico pela Linha do Tua (MCLT) existe há 10 anos, e foi o primeiro grupo de defesa desta importante infraestrutura. Desde cedo que alertámos para as mais variadas incongruências relacionadas com a Barragem do Tua, e foram vários os grupos que posteriormente concordaram com a nossa opinião, hoje confirmada perante dezenas de habitantes e agricultores já entrevistados e para o qual a Barragem do Tua “não faz sentido”. Mas… nós avisámos.

Em Dezembro de 2013, o MCLT esteve presente no lançamento da “Plataforma Salvar o Tua”, uma campanha pública que pretendia expor os custos financeiros, sociais e ambientais ligados à construção da Barragem de Foz-Tua e demonstrar a ausência de justificação racional para a destruição do Vale e Linha do Tua. Nessa mesma conferência, o prof. doutor João Joanaz de Melo destacou o forte equilíbrio climatérico no Vale, fazendo diversas referências à ocorrência de fenómenos meteorológicos que iriam provocar o aumento da nebulosidade e humidade no local, o que iria também conduzir à rápida eutrofização das águas do Rio Tua que, uma vez paradas, tenderiam a acumular tecidos e matérias orgânicas.

Hoje, a comunicação social destaca a densidade de nuvens que pairam sobre o Vale do Tua e o denso nevoeiro que se faz sentir acima da linha da água. Quando João Joanaz de Melo, por várias vezes, abordou este problema na conferência supracitada, a comunicação social – previamente convidada a estar presente – não se encontrava no local. Mas… nós avisámos.

Em 2014, o MCLT elaborou um documento de crítica e exposição de diversas análises ao RECAPE (Relatório de Conformidade Ambiental e Plano de Execução). Nesse documento, para além da óbvia crítica à falta de coerência levada a cabo pelos autores do estudo, o MCLT crítica a falta de investimento no Vale e na Linha do Tua, bem como o facto de a “solução modelo” do plano de Mobilidade nunca ter equacionado a reposição da Linha do Tua numa cota superior à da albufeira.

Hoje, com barcos rabelo no papel de “serviço público”, a comunicação social destaca o desenvolvimento e turismo futuro, e pergunta aos populares se as casas ficarão mais valorizadas com a criação da Barragem. Relembramos o caso do Metro do Mondego: sem nunca ter funcionado, levou à valorização da habitação na sua periferia, pensando os compradores que brevemente teriam acessibilidades operacionais junto às suas residências. Escusado será dizer que o Vale do Tua padece do mal inverso: como é possível ver partir, num Vale que é e sempre foi envelhecido e isolado, o principal meio de transporte da região (comboio), e esperar que as habitações valorizem? Nós avisámos.

barragem tua - mar17

Ao longo da nossa existência, fizemos duras críticas à Barragem do Tua e à forma como a sua existência e exploração traria problemas ao desenvolvimento local. Sempre defendemos que “se as barragens trouxessem desenvolvimento, o distrito de Bragança teria de ser o mais desenvolvido do País”, face ao grande número de aproveitamentos hidroelétricos na região. Sempre discordamos com o investimento de cerca de 400 milhões de euros numa barragem que iria produzir o equivalente a escassos 0,1% de energia Nacional, e que precisaria de bombear a água de volta para a Albufeira após a sua utilização.

Hoje, a comunicação social denuncia que os agricultores locais não poderão ir buscar água à barragem do Tua, pois a mesma servirá apenas para a produção de energia elétrica. Depois de terem sido forçados a vender grande parte dos seus terrenos, nem para pequenas regas poderá haver captação na albufeira – O Rio Tua era de todos, a Barragem do Tua é só de alguns. Nós avisámos.

Nos últimos 10 anos, tentámos alertar para a falta de investimento local e regional, tendo criticado por diversas vezes a “falta de gestão” que estava a ser feita na Linha do Tua. É completamente impraticável que uma infraestrutura com tamanho potencial turístico não tenha sofrido obras de modernização nos últimos 30 anos, e que não se tenha “adaptado” ao longo do tempo para poder competir decentemente com os (praticamente inexistentes) autocarros regionais do distrito de Bragança.

Hoje, a comunicação social dá destaque a quem acredite na Barragem do Tua e a quem faça por denegrir a Linha do Tua, apelidando-a de obsoleta e inútil, depois de tudo o que ela trouxe à Região. Hoje, falamos de comboios turísticos no que sobrar dela, e na construção de hotéis e restaurantes vindos de iniciativas privadas que trarão consigo o desenvolvimento prometido para Trás-os-Montes desde a chegada do alcatrão do IP4.

linha do tua - mar17

Quando dissemos, por tantas vezes, que seria necessário reformular a Linha do Tua de modo a que a mesma complementasse as grandes estradas projetadas para a região (A4, IP2 e IC5), estávamos novamente a avisar que esta importante infraestrutura se deveria ter mantido aberta e pública, para continuar a ajudar a combater o isolamento e a população envelhecida. Hoje, vamos rezar aos santinhos que os privados invistam e nos levem a interioridade. Enfim, nós avisámos.

Portugal é então o primeiro País da Europa a desclassificar uma Linha de Caminho-de-ferro que vai voltar a ter serviço público – A comunicação social falou disto?

É também o primeiro País da Europa a ter um “Plano de Mobilidade” pago pela EDP com o dinheiro de todos nós, mas entregue a privados que, até à data, apenas nos mostraram comboios americanos construídos para ganhar dinheiro, e nenhuma solução para a mobilidade local – A comunicação social falou disto?
É ainda, provavelmente, o único País da Europa a ter autarcas que assistem passivamente a tudo, sem se perguntarem o que é que todas estas alterações trarão de bom para o seu povo. Seguidamente, inauguram passeios pedestres no “Parque Natural do Vale do Tua”, depois de terem deixado destruir o verdadeiro Parque Natural do Vale do Tua – A comunicação social falou disto?

O mais curioso: É que nós, e tantos outros, bem avisámos.

Mas… tirando algumas Rádios e Jornais Regionais, que se preocupam com o que é seu, a comunicação social também não falou disto.

Texto: Movimento Cívico pela Linha do Tua (MCLT)

Fotos: MCLT e pesquisa Google

01mar17

 

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1 Comment

  1. A Rui Ferrinha

    É verdade que a comunicação social(C.S) tem um trabalho que deveria ter feito e tem por fazer. No entanto, a culpa não é da C.S., do Sr. Mário Ferreira nem da EDP, mas sim do poder político local, regional e nacional que tendo o poder do voto, sente-se legitimado e durante 4 anos faz o que bem lhe apetece, não se preocupando com as populações. Acrescento em forma de pergunta, porque razão os autarcas da área afectada assinaram um acordo para a desanexação da Linha do Tua à rede ferroviária? Dizem que não há dinheiro, mas foi criada a Agência de Desenvolvimento do vale do Tua, com 51 por cento de capitais das autarquias de Mirandela, Vila Flor, Alijó, Carrazeda de Ansiães e Murça. Julgo não ser confabulação, mas não há nenhum programa eleitoral partidário em que seja explícito a vontade de construir barragens em certos locais, veja-se o caso do Tâmega. Julgo que nem com beijos e abraços se vai lá. Nem brinquem com a seriedade e a passividade do povo português!

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