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O slogan para um César

José Luís Montero

O Partido Socialista subiu-se ao cenário congressual. O elenco é grande; os diretores de cena parecem legião. As grandes frases são abundantes e carentes de conteúdo. Há aplausos. E o Sócrates foi aplaudido com estrondo. Não sei que aplaudiram; não sei se aplaudiram o seu adeus ao partido ou se aplaudiram o Tratado de Lisboa. Um bom congresso não transparece para a opinião pública, unicamente, comunica grandes decisões que salvam o mundo para que o mundo permaneça enfermo.

As melhores frases ganham votos e abrem flabelo eleitoral. No passado, quando o mito Mário Soares era de carne e osso, numa das suas campanhas eleitorais nasceu o “Soares é fixe!” e o mito de carne e osso, ganhou; foi Presidente da República assentado em apoios transversais ou oblíquos. Os apoios transversais são uma espécie de caldeirada que admite tudo porque quantos mais peixes, mais sabor têm as batatas.

Hoje, neste congresso da Batalha, alguém anónimo ou pouco conhecido pelos desatentos disse: “O António Costa é como nós…” quando li este slogan-discrição da personalidade do Presidente do Governo, fiquei feliz, mas, senti-me só. Não me parece que seja como eu ou eu como ele. No entanto visionei o futuro e visionei um futuro slogan, inspirado no anterior, capaz de ultrapassar linhas; alcançar o jeito transversal e ser oblíquo: “O António Costa é como os outros!”. Fiquei vaidoso. Sem querer encontrara o slogan que se abre à direita; ao centro e à esquerda. Seria o slogan ideal para lançar um governo de concentração ou para despreocupar e confundir ainda mais os eleitores. O resultado seria o eleitorado a votar massivamente no que está porque na sua pessoa confluem todas as pessoas. Assemelhar-se-ia ao Congresso da Batalha onde partido afluiu no Carlos César ao reconduzi-lo como presidente do partido com o 90% dos votos.

Foto: Tiago Miranda ("Expresso")
Foto: Tiago Miranda (“Expresso”)

Fernando Medina, misto de intelectual de Alfama e Avenida de Roma, gestor municipal com grande aptidão para o turismo de encher e fartar, situa as discussões do partido no Éter…. Eleva-o à luz que brilha e queima; adorna-a no estrato elevado da atmosfera; baixa-a ao incesto e à borralha. A mitologia é tão bonita que encanta, mas, também é tão traiçoeira que mata. Fernando Medina foi, falou e passou-se. Reuniu palavras e expressões e no rescaldo do discurso não existiu a colheita. Pobre munícipe. Não tem culpa, a culpa reside na confusão entre militantes e governantes.

Passamos um a um; dois a dois; e quem fala, quem marca referências são militantes que são, realmente, ministros, presidentes de camaras, secretários de Estado, etc… Depois falam sem conteúdo; falam do futuro com sorriso de Photoshop, e o mais aplaudido sempre é quem defende a linha governamental. Nuno Santos, um secretário de Estado, levantou as bancadas porque estabeleceu a estratégia da Geringonça como a estratégia da redenção. Imitando a linguagem do mundo futebolístico acabou por enviar um berro como se estivesse numa bancada: somos geringonça! São. E são. Mas, ser geringonça é ser coisa nenhuma. É um estar que neste caso é uma coligação que se chama: aguenta o barco.

E falou o secretário-geral que é Presidente do Governo. Posse poderosa do que triunfa. Advertência séria do que está e não renuncia. Aviso aos navegantes da substituição. Ideias? Nenhumas, só projetos para o governo. Os partidos no governo teriam de abster-se e pouparem a população. Fazer um congresso e não ver mais que ideias e personalidades do governo é monótono, por isso, nos Cafés só se falava das novas andanças do Bruno de Carvalho. As conversas sobre o Bruno de Carvalho emocionam e divertem enquanto que falar dos políticos no Poder desilude. O filho do Orlando Costa não conseguiu simular um romance neorrealista que enchesse os ouvintes de esperança no futuro. Não conseguiu dizer que “ao atravessar a rua virou à esquerda”. Dentro de dois ou quatro anos, quando seja ultrapassado por outro partido, dirão: “temos de renovar o partido com novas ideias…”

Foto: pesquisa Google

01jun18

 

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3 Comments

  1. Fernanda Lança

    A política transformou-se em feira popular. Creio que é a melhor definição que se encontra actualmente

  2. Julia Franco

    xcelente artigo!
    Retrato de quem foi e é responsavel por um pais caduco e adiado…
    O slogan “Costa é como nós” fez-se grito coletivo de indiferenca ,do tao caracteristico modo português do deixa andar…
    Um barco que flutua nao faz rota nem desbrava mar.Fica ali à espera …
    Aceitamos a onda de turismo como naufrago que agarra uma bóia.
    Amanhã?”Logo se vê”.
    A História merece mais ,a História somos todos nós.

    Parabéns!
    Um artigo esclarecido e esclarecedor,atual e
    , prospetivo e etc e tal…

  3. Julia Fanco

    Excelente retrato do vazio,do infeliz modo português do.deixa andar…
    Aguentar o barco nao é po-lo a navegar e muito menos encontrar uma nova rota.É tentar que nao se afunde.
    E o slogan que despontou talvez seja o grito da indiferença coletiva,a nao vontade de acelarar o passo a um estar caduco…
    Tao indeciso que abraça esta avalanche turistica como naufrago que vê uma boia…
    A História mereceria mais, a História é escrita por todos nós.

    Parabéns!
    Creia-me grata pelo envio do artigo de visao lucida e esclarecida,etc e tal..

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