Bruno Ivo Ribeiro
“Mea vera culpa”
Toda a prosa é culpada e toda a poesia é cúmplice.
Por mais que me digam que escrever é libertar-se, cada vez mais creio, que a escrita nos prende, nos retém, e nos torna submissos à nossa própria liberdade tida de escrever.
Estou farto de linhas, de letras, de palavras. Não quero frases, quero obras, e as obras escritas matam-nos num passado que nos condiciona.
Somos mais do que aquilo que escrevemos, somos mais do que o que nos acham. Somos mais do que passados tidos, somos futuros e somos, essencialmente, todos os presentes que estão por vir.
O relógio amortalha-nos, o presente fecunda-nos, e o tempo, esse tão mentirosos como inexistente, olha-me nos olhos, e suga-me.
Estou farto de textos mas escrevo, escrevo porque prefiro ser morto pelo que deixo feito, do que ser morto por não ter feito nada contra o tempo.
Escrevo não porque queira, mas porque preciso. Escrevo, não porque quero ficar preso ao que de mim foge, mas para ver se liberto o que a mim se cola. Escrevo para me universalizar, e não para que me engavetem.
Entre a vida e a morte, está a perspetiva, e na perspetiva, está o ato de sonhar, que tem de ser encarado a sorrir e com as palmas abertas para o indefinido.
O indefinido e o infinito estão a um passo, e a verdade espelha-se diante de nós, nós é que por vezes a ignoramos.
Queremos viver, mas temos de aprender a morrer. Queremos estar vivos, mas somente sabemos existir, e mesmo isso, sabemos existir mal, porque o mesmo labor, transformamos em trabalho.
Enfim, a escrita amortece, mas não perece. Só a vida foge, para que a morte se aproxime. Entre isto, há que inscrever com o nosso coração, sorrisos nos corações dos outros. Isso sim é o que considero escrever, em prosa poética verdadeira, simples e subtil.
Estou cansado de pautas de letras, quero músicas de verbos!
02jan19