O Pavilhão Rosa Mota reabriu, reabilitado, no passado dia 28 de outubro, após uma intervenção (público-privada) de fundo nas infraestruturas do singular espaço – com um custo de cerca oito milhões de euros – que se encontrava em avançado estado de degradação… há anos.
Mas, como se sabe, não foi pacífico o reabrir de portas!
A campeã olímpica e mundial da Maratona, e uma referência para a cidade, sentiu-se enganada pelo presidente da Câmara Municipal do Porto, Rui Moreira, depois de ver o seu nome “menorizado”, pela marca de cervejas que, por acaso, também teve origem na cidade do Porto, e ali bem perto do Palácio que já foi de Cristal.
José Gonçalves Mariana Malheiro
(texto) (fotos)
A polémica – que, pelos vistos, está para durar -, não retirou, contudo, ao executivo camarário, e às largas centenas de convidados que encheram quase por completo o novo auditório do Pavilhão, o orgulho ao verem surgir um renovado, moderno e funcional espaço na cidade, pronto para acolher congressos, provas desportivas, espetáculos culturais e outras atividades para as quais está vocacionado, mesmo a nível internacional.
O DIA E A VÉSPERA DA (INSOSSA) “FESTA”…
A verdade, porém, é que, já no dia anterior ao da inauguração, o executivo camarário fez chegar às redações um comunicado, tendo “por base notícias postas a circular por pessoas próximas à atleta Rosa Mota”, as quais levaram “a comunicação social a questionar a Câmara do Porto sobre o nome do Pavilhão Rosa Mota”.
E lê-se: “em primeiro lugar, o executivo de Rui Moreira, quando há seis anos tomou posse, em acordo com o PS, encontrou um pavilhão em pré-ruína e praticamente inutilizado pela degradação e falta de manutenção. Embora batizado com o nome da atleta, não tinha qualquer inscrição do seu nome nem na fachada em nenhum local visível. Nunca teve, aliás”.
“Foi então lançado um concurso público internacional que permitiu concessioná-lo e devolve-lo ao uso da cidade, como centro de congresso e pavilhão Multiusos. O investimento foi totalmente suportado por privados, que encontraram a forma de financiamento adequada. Pediram, esses mesmos privados, para mudar o nome ao equipamento, o que foi recusado pelo presidente da Câmara. Foi, contudo, admitido que pudessem colocar um patrocinador, que ajudasse a suportar os elevados custos de reabilitação, conforme aprovado em reunião de executivo e conforme o previsto no caderno de encargos”.
Ainda segundo o comunicado camarário, “nesse processo, ficou assegurado que ninguém poderia retirar o nome da atleta da designação formal, mas que também no uso comercial o seu nome teria sempre que estar presente. Estes dados foram fornecidos à atleta, que com eles concordou e se congratulou há mais de um ano”.
Mas, “soube a Câmara do Porto que, posteriormente, a atleta e o seu representante terão entrado em negociações com o patrocinador e em conversações com o concessionário. Desconhecemos o que estava em jogo, o que negociaram as partes e que tipo de contrapartidas incluía tal negociação, tentada à margem do processo público de concessão. Não fomos pela atleta ou pelo seu representante convidados a participar em tais reuniões”.
Resumindo e concluindo, “a Câmara do Porto considera que o nome da atleta está mais do que nunca protegido, não compreendo que alguém se possa considerar mais respeitado dando nome a um edifício em pré-ruína e sem uso, do que num moderno centro de congressos onde a sua designação está claramente inscrita. E não tem preconceitos quanto à existência de patrocinadores comerciais que, como noutros equipamentos semelhantes noutras cidades, ajudam à concretização de objetivos de interesse público não onerando os impostos dos cidadãos”.
ROSA MOTA: “ESTAVA CONVENCIDA DE QUE O NOME DO ESPAÇO SERIA «PAVILHÃO ROSA MOTA – SUPER BOCK ARENA»”
O problema começou, por assim dizer, quando a atleta Rosa Mota justificou, em carta dirigida à Câmara Municipal do Porto, a sua ausência na cerimónia de reabertura do pavilhão, por se sentir “enganada”, alegando, para o efeito, que o seu nome foi “subalternizado” para ser dado destaque a uma marca de bebidas alcoólicas.
“Quando recebi o convite do senhor presidente da Câmara para a reabertura do Pavilhão, e no qual está escrito «Super Bock Arena Pavilhão Rosa Mota» senti-me definitiva e claramente enganada”, pois “estava convencida de que o nome do espaço seria «Pavilhão Rosa Mota – Super Bock Arena»”.
OPOSIÇÃO CONTRA “MENORIZAÇÃO” DO NOME ROSA MOTA
Rosa Mota comunicou, a todos os vereadores que, dessa forma, não dava a sua “anuência a algo que parece estar definitivamente estabelecido e que não foi o que foi acordado”.
Os vereadores da oposição na Câmara do Porto anunciaram, então, a sua ausência na cerimónia de inauguração do renovado pavilhão por estarem contra a “menorização” do nome da atleta Rosa Mota. Esta posição da antiga maratonista contou com a solidariedade dos vereadores do PS, PSD e CDU.
CDU CRITICA PROCESSO EM NOTA DE IMPRENSA
Entretanto, e já depois da cerimónia da reabertura do Pavilhão Rosa Mota, e “face à polémica que agora surgiu em torno da nova designação do Pavilhão Rosa Mota e aos comentários à ausência dos eleitos municipais da CDU na respetiva cerimónia de inauguração” enviaram um comunicado a esclarecer a sua posição.
Depois de historiar todo o processo, a coligação PCP-PEV, refere que, e qqunto ao projeto de reabilitação do “ Rosa Mota” que “Rui Moreira, depois de eleito, decidiu, e bem, que o projeto devia ser minimalista, mantendo o pavilhão Rosa Mota nos seus limites. No entanto insistiu num modelo de entrega do pavilhão a privados”. Mas, e para a CDU, “quer o modelo de Rui Rio/PSD/CDS, quer o modelo de Rui Moreira/CDS (apoiado fervorosamente pelo PS) mereceram da CDU uma forte oposição baseada”
Ora, “não obstante estas críticas da CDU, o modelo proposto por Rui Moreira/CDS foi aprovado (com o apoio do PS), num processo juridicamente polémico, com concorrentes excluídos, participações aos Tribunais, etc.
“Hoje, passados 5 anos sobre a aprovação deste modelo, e quando se concluíram as obras de reabilitação do Pavilhão Rosa Mota”, lê-se ainda no referido comunicado, “é possível constatar a justeza das críticas efetuadas pela CDU ao modelo proposto, bem como das propostas alternativas que apresentou”.
Relativamente a montantes, a CDU releva os números apresentados “e não desmentidos, a reabilitação custou cerca de 8 milhões de euros, a que acrescerão, ao longo dos 20 anos de concessão, cerca de 2,4 milhões de euros em rendas a pagar ao Município. Mas, só no “naming”, o promotor arrecadará cerca de 20 milhões de euros ao longo de idêntico período!…
Por último, a coligação PCP-PEV alerta para o facto que “deve-se também ao modelo proposto de concessão a privados o problema da subalternização do nome de Rosa Mota na nova designação oficial do Pavilhão. A este propósito convém recordar que, em 6 de Outubro de 2014, na véspera da reunião da Câmara que aprovou este modelo de concessão, os eleitos da CDU, em Conferência de Imprensa, alertaram que: «Ainda em relação à proposta, salienta-se a possibilidade prevista de alteração do nome do Pavilhão, ou seja, pode passar a ser uma «Arena» qualquer, deixando de fazer referência a Rosa Mota. A CDU opõe-se a esta possibilidade e irá propor que este ponto do caderno de encargos seja eliminado».
Não obstante esta chamada de atenção, o caderno de encargos não foi alterado, tendo sido aprovado por Rui Moreira/CDS e pelos eleitos do PS (na altura coligados com Rui Moreira) que agora se insurgem, “indignados”, com aquilo que era evidente poder vir a acontecer”.
CERIMÓNIA
Desviando-se um pouco da polémica, Rui Moreira mostrou-se orgulhoso com a obra inaugurada e, assim sendo, com a reabertura do Pavilhão, que agora também é Arena, e não é só da Rosa Mota.
Num anfiteatro quase cheio, e com capacidade para meio milhar de pessoas, entre diversas entidades desportivas, políticas, militares e religiosas, e outras pessoas conhecidas do mundo da cultura e do espetáculo, o edil não deixou algumas tiradas por bocas alheias, isto, quanto à referida polémica, acabando, contudo, por enfatizar a obra feita e o futuro a dar à mesma…
RUI MOREIRA: “É FÁCIL, DEPOIS DE TUDO FEITO, DIZER QUE AFINAL AQUILO QUE AGORA SE FEZ PODIA TER SIDO FEITO DE OUTRA MANEIRA… É FÁCIL! MAS SEMPRE DISSEMOS O QUE QUERÍAMOS E COMO O IRÍAMOS FAZER”
“Esta sala, há uns meses atrás, onde nós estamos, nada havia. Aqui por cima (arena) até há uns anos, existia um pavilhão totalmente degradado. Uma coisa que fazia vergonha à cidade; que não tinha as mínimas condições de segurança, nem de salubridade”, começou por referir o presidente da Câmara Municipal do Porto, Rui Moreira, na cerimónia de reabertura do “Rosa Mota”, salientando, de seguida que “ já tive medo que isto nos caísse na cabeça! Foi isso que encontrei há seis anos, quando cá cheguei. Aquilo que tinha sido feito antes, cada um assumirá as suas responsabilidade. Aquilo que nunca tinha sido feito, essa era uma responsabilidade de toda a cidade. É fácil, depois de tudo feito, dizer que afinal aquilo que agora se fez podia ter sido feito, quiçá, de outra maneira. É fácil. Mas quando nós, há seis anos, assumimos governar a cidade sempre dissemos o que queríamos fazer e como iríamos fazer”.
Rui Moreira e o seu executivo percebeu “rapidamente que os processos que tinham decorrido anos antes, não eram viáveis. Também não havia a capacidade que o Porto hoje tem de fazer isto um investimento público. Mas, mesmo que o tivesse, eu não o teria feito. Porque este é precisamente o tipo de projeto em que se quisermos fazer as coisas bem-feitas, o público e o privado podem casar-se, como se casaram. E eu acredito que este é o modelo correto”.
“Isto começou com um lançamento público internacional, que rapidamente acabou num problema que foi resolvido. O assunto morreu. E aquilo que hoje vos posso dizer é que há um enorme investimento nos jardins, vejo que estão a ser construídos outros imóveis nas proximidades; vejo que hoje há atividades, como a Feira do Livro, que entraram no domínio normal da utilização destes jardins. Vejo que vai ser iniciada a construção de uma Linha de Metro que vão ser colocada, por aqui, duas estações, e vejo que isto que era uma vergonha, foi reabilitado”.
Ainda de acordo com edil e “para aqueles que vão continuar a discutir a tese se o, então, pavilhão dos desportos algumas vez devia ter sido construído!? – já antes mesmo, quando aqui foi construído o Palácio de Cristal, houve contestatários; como amanhã vão discutir o que hoje se fez. Mas, que não fiquem dúvidas – a verdade, é que enquanto cá estivermos, vamos ser assim, vamos discutir as coisas que temos, ter saudades das coisas que já não temos e ter esperança naquilo que ainda podemos ter. Vamos discutir tudo, mas, apesar de tudo, vamos tendo o empreendedorismo e a coragem suficiente para levar a cabo aquilo que é a nossa missão”.
E tocando na “ferida” do momento, Rui Moreira disse: “Não vos oculto a pena que tenho que não esteja cá a Rosa Mota. Mas aquilo que vejo hoje é aquilo que antes não via: ali fora do Palácio vejo escrito Pavilhão Rosa Mota, o mesmo vejo aqui dentro; e o que sei, é que as pessoas que gostam da Rosa Mota gostam deste pavilhão.
E, por favor, não me venham com complexo de ver um nome de um grupo que está associado a bebidas alcoólicas. Sabem por quê? Porque quando a cidade do Porto não era conhecida como hoje o é através do Futebol Clube do Porto, pela sua cultura, quando não era conhecida pelos seus músicos, e pela sua irreverência, a cidade do Porto já era associada a uma bebida, chamada Vinho do Porto. Quem não gosta pode continuar a chorar e a pensar que se calhar era melhor isto continuar vazio, continuar a cair e queixarmo-nos de Lisboa, do seu empreendedorismo, do mau tempo, da chuva”, concluiu Rui Moreira.
“UM EXEMPLO DE SUCESSO”
Antes da intervenção de Rui Moreira, do consórcio Círculo de Cristal, coube a intervenção a Filipe Azevedo, representante pela Lucio’s, destacou ser este “um exemplo de sucesso” de uma PPP – Parceria Público Privada – e agradeceu “a coragem e o bom senso” de Rui Moreira, enquanto representante da cidade, “na génese e ao longo de todo o processo”. O administrador da Lucio’s fez ainda menção à “fantástica reabilitação” conduzida por um grupo de brilhantes arquitetos e engenheiros, que conseguiram dotar o equipamento de “características únicas” a nível nacional.
Já Jorge Silva, pela PEV Entertainment, registou “muito positivamente, na pessoa de Rui Moreira, a mobilização da sociedade civil” para a recuperação do Pavilhão Rosa Mota. “Não é sinal de grande inteligência valorizar, sem nada fazer pela requalificação. Parabéns por o ter feito”, declarou.
Por seu turno, Manuel Violas, presidente do Conselho de Administração do Super Bock Group, afirmou que o novo espaço “significa um marco na ligação à cidade, onde nos movemos desde sempre e temos um papel muito ativo”. E partilhou ainda uma curiosidade, certamente desconhecida da maioria dos presentes, quando disse que a história da marca está intrinsecamente ligada à história do espaço, porque foi depois de ter “arrecado o prémio da Grande Exposição Colonial”, em 1927, que a Super Bock, empresa da cidade, registou a sua marca.
Ana Pinho, Sobrinho Simões, Luís Portela, Rui Veloso, Rui Reininho, Nuno Baltazar, Cristiano Pereira foram as personalidades que, em vídeo, deram os parabéns por esta requalificação, e muitas outras se juntaram, ao vivo, nesta inauguração, como Pedro Abrunhosa, Hélder Pacheco ou D. Américo Aguiar, bispo auxiliar de Lisboa, entre outros.
O SUPER “ROSA MOTA”…
Mas, então, qual foi o resultado concreto da obra?
Para responder, vamos dar-lhe a conhecer o novo “Rosa Mota”… com o apoio da “Central de Informação”, porque no dia da inauguração do novo pavilhão, os jornalistas visitaram a “arena”, as suas bancadas, o anfiteatro onde foi realizada a conferência, e nada mais.
Saiba, então, que uma das grandes novidades do projeto é a criação de um Centro de Congressos, no piso -1, composto por um auditório em anfiteatro, com capacidade para 532 lugares, uma zona de exposição e quatro salas planas destinadas a eventos empresariais. Os eventos corporate podem ainda decorrer na arena, que conta com capacidade para 5.500 lugares sentados.
As bancadas retráteis são uma das inovações, uma vez que permitem adaptar o espaço não só ao conceito do evento, como também ao número de pessoas previsto. Respeitando a arquitetura exterior, o edifício dispõe ainda de um restaurante com vista para o lago e jardins do Palácio de Cristal, cuja abertura está prevista para o primeiro semestre de 2020, e um food court de apoio à atividade. No primeiro e terceiro pisos é possível aceder às tribunas. Já os 23 camarotes estão localizados no segundo piso.
Práticas sustentáveis
O projeto foi concebido salvaguardando práticas sustentáveis, com o objetivo de deixar uma “pegada verde” na cidade e no país. Para tal, foram adotadas medidas que prometem garantir uma maior eficácia energética e otimização dos recursos utilizados. Uma delas consiste na refrigeração natural das máquinas de controlo de temperatura recorrendo à utilização da água do lago dos Jardins do Palácio de Cristal, o que permite reduzir os consumos energéticos e gastos de água em cerca de 40 por cento.
A substituição dos vidros existentes na cúpula do edifício por vidro duplo termolaminado pelo interior e temperado pelo exterior permite tornar o edifício mais eficiente do ponto de vista energético. A adoção de sistemas de iluminação eficiente – como lâmpadas LED – e práticas responsáveis de tratamentos de resíduos são outras das opções sustentáveis adotadas pelo novo espaço.
Acústica
Uma das preocupações na conceção do novo “Rosa Mota” foi assegurar a acústica do espaço, indispensável para receber todo o tipo de eventos. Ao longo de toda a estrutura da cúpula foi colocada uma multicamada com mais de 40 centímetros de lã de rocha, assim como uma tela acústica que cobre os gomos da cúpula (espaços entre pilares). Esta tela foi devidamente recortada e adaptada a cada óculo de forma a evitar qualquer impacto visual. Os 768 óculos que fazem parte da cúpula do edifício – uma das imagens de marca – mantêm-se, com o objetivo de preservar a identidade arquitetónica exterior.
Programas…
Até à data, o espaço já conta com a confirmação de vários eventos, dos quais se destacam nomes como o projeto “Amar Amália” (16 de novembro), “Lisbon Film Orchestra” (8 de dezembro), Rui Veloso (14 de dezembro) ou “Carmina Burana” (28 de dezembro).
AS OBRAS E A HISTÓRIA
E para que tudo resultasse no que resultou, saiba que as obras de reabilitação do “Rosa Mota” duraram quase dois anos, num lufa-lufa diária para se cumprirem prazos e o pavilhão surgir reabilitado, fosse com que nome fosse, ainda que salvaguardando sempre o batizado, em 1991, de Rosa Mota, que veio a substituir o de “Pavilhão de Desportos” – inaugurado em 1952 (projeto do arquiteto José Carlos Loureiro), tendo como objetivo a realização do Campeonato do Mundo de Hóquei em Patins, tendo sido, para tal, demolido (um atentado!) o Palácio de Cristal, inaugurado em 1865, uma réplica do Crystal Palace, de Londres.
E esta intervenção tinha mesmo de acontecer, dado o estado em que se encontrava o Pavilhão Rosa Mota, nos últimos anos, e que as fotos (Pedro N. Silva) documentam…
Feitas as obras de reabilitação, surgiu então um novo e moderno espaço na cidade aberto ao mundo. Só que a polémica estalou em torno do nome a dar ao pavilhão, e estragou a festa, à qual também não esteve presente – como era de esperar – o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa.
Como se ouviu dizer de um popular, “o Porto, às vezes, tem destas coisas. Mas brincarem com o nome de gente que a gente gosta e é da nossa terra… ai, isso é que não! Venha lá quem vier!”
Mas, também houve quem dissesse, recorrendo a Fernando Pessoa: “primeiro estranha-se; depois entranha-se”.
A ver vamos no que ficaremos, mas, para já, e de certeza, com um espaço magnífico na cidade do Porto.
…
(A fechar)… RUI MOREIRA ENDEREÇA (PUBLICAMENTE) CARTA A MANUELA MELO QUE SE TERÁ DEMITIDO DA “COMISSÃO DE TOPONÍMIA”
O “Etc e Tal jornal” mesmo no fecho da presente edição (14 horas do dia 31 de outubro de 2019), recebeu o seguinte Comunicado da Câmara Municipal do Porto, que a seguir reproduzimos, não havendo hipótese, nas próximas horas, à publicação de qualquer reação ao documento, visto os nosso serviços se encontrarem encerrados até ao próximo dia 05 de novembro. O descanso também é um direito que nos assiste.
Mas – e lê-se no referido comunicado/carta aberta -, “ perante notícia veiculada, ontem, dia 31 de outubro, pela imprensa sobre uma alegada carta que a antiga vereadora socialista da Câmara do Porto Manuela de Melo teria endereçado a Rui Moreira, na qual anunciava a sua saída da Comissão de Toponímia, o presidente da Câmara do Porto garante não ter recebido qualquer missiva mas, face à sua divulgação pública, responde também por carta e dando dela conhecimento à comunicação social:
“Exma. Senhora Dra. Manuela de Melo
Soube pela comunicação social que me terá dirigido uma carta, relativamente à denominação comercial do Pavilhão dos Desportos Rosa Mota. Não me tendo a carta chegado ainda, e sendo a mesma pública, não por minha iniciativa, dirijo-lhe a presente missiva, também com conhecimento à comunicação social, por uma questão de transparência.
Em primeiro lugar, queria dizer-lhe que não a culpo minimamente pela errada interpretação que está a fazer dos factos, pois compreendo que a campanha de desinformação que foi montada a propósito, com clara índole política, é suscetível de ter criado, de facto, alguma confusão a quem não acompanhou todo o processo.
Por isso, pelo respeito imenso que lhe tenho, e que sabe que tenho, permito-me explicar-lhe todo o processo nesta carta.
Queria, por isso, informá-la do seguinte:
1.Na verdade, e contrariamente ao que tem sido divulgado, o nome da Rosa Mota não foi retirado da toponímia, nem esta sofreu qualquer alteração. Ao contrário, o que foi feito, com o voto favorável do PS e do PSD em reunião de Câmara pública, é que no caderno de encargos do concurso público de concessão, elaborado em 2015, ficou previsto que o concessionário pudesse sponsorizar o pavilhão e pudesse até alterar a designação comercial do equipamento, mediante autorização do Executivo Municipal.
2.Foram feitos, pelo concessionário, dois pedidos de alteração. O primeiro suprimia o nome da atleta. Foi por mim recusado liminarmente, nem sequer tendo aceitado levar tal pedido à apreciação do Executivo. Comuniquei-o ao concessionário e nem me senti na necessidade de fazer qualquer comunicação do sucedido, por respeito, à Rosa Mota, minha amiga, há décadas.
3.Perante a minha recusa, veio o concessionário fazer novo pedido, em termos que me pareciam não apenas respeitar o nome da atleta, que não implicava qualquer alteração de toponímia, como se coadunavam, por completo, com o caderno de encargos e contrato de concessão democrática e publicamente aprovado perante a cidade, repito, com o voto de quase todos os partidos políticos, incluindo PS (então em acordo de governação com o nosso movimento) e PSD.
4.Levada a nova designação a reunião de executivo em Novembro de 2018, foi aprovada, é certo, com a oposição de PS e PSD, “por se tratar de uma bebida alcoólica”, chegando mesmo o Dr. Manuel Pizarro a questionar a legalidade do patrocínio por esse mesmo motivo, algo que não sustentou juridicamente e que carece de base legal. Alegou ainda o mesmo vereador, então já na oposição, que a Câmara poderia, também, ser beneficiária desse patrocínio, o que me levou a solicitar pareceres jurídicos internos e externos que concluíram que a receita não poderia ser reclamada pela Câmara, na base do caderno de encargos, que – repito – fora aprovado pelo anterior Executivo e Assembleia Municipal.
5.Desde essa altura, há quase um ano, portanto, que se encontrava perfeitamente consolidada a autorização municipal para que a sponsorização do nome acontecesse, o que foi previamente, por mim, comunicado à Rosa Mota, que, com algumas reservas iniciais, por se tratar de uma bebida alcoólica, acabou por aceitar, o que expressou, até por escrito.
6.Desde pelo menos Dezembro de 2018 que o logotipo do projeto era público e estava a ser divulgado pelo concessionário. Como compreenderá, a Câmara do Porto não condiciona logotipos, limitando-se a assegurar que nas designações e identificações do equipamento, o nome da Rosa Mota não seria suprimido.
7.A questão de “secundarização” do nome da atleta na designação é, também, uma falsa questão. Com efeito, sendo discutível, do ponto de vista da imagem e da sonoridade fonética, se é mais ou menos importante nomear em primeiro lugar ou em último lugar o nome da Rosa Mota, a verdade é que, nesse aspeto, nada mudou. Junto-lhe, para que compreenda, a proposta levada à Câmara em 1988, e a que, conforme percebo, faz referência na sua carta. Nessa proposta, assinada pelo então Presidente Fernando Cabral e aprovada por unanimidade, o que se delibera é que “seja atribuído o nome de Rosa Mota ao Pavilhão de Desportos implantado nos jardins do Palácio de Cristal, que passará a designar-se Pavilhão de Desportos Rosa Mota”. Ora, o que o presente Executivo deliberou, foi a substituição da terminologia “Desportos” – que hoje, como é consabido, não faz sentido por ser demasiadamente redutor – por uma designação comercial.
8.A deliberação de 1988 assumia outros compromissos, que entretanto, não foram cumpridos por sucessivos Executivos, entre eles, aqueles em que a Dra. Manuela de Melo participou. Um deles foi atribuição a uma artéria da cidade, de preferência na Foz, do nome da atleta. Essa sim, era uma eventual competência da comissão de toponímia de que faz parte.
Na verdade, a frontal discordância da atleta Rosa Mota quanto à forma como a comunicação do equipamento estava a ser feita, desde o final de 2018, apenas me chegou na passada semana. Isto depois de, dois dias antes, me ter acompanhado oficialmente, na abertura do Parque Oriental da Cidade, conforme é público e notório.
Permita-me por isso, e pelo respeito que a pessoa em causa me merece, e que pretendo preservar publicamente, mais não escreva sobre este assunto, tanto mais que, os portuenses devem estar satisfeitos com o extraordinário equipamento que encontrei ao abandono, sem qualquer referência ou inscrição à atleta (e que agora existe pela primeira vez), e que hoje assume uma função estratégica para a economia, cultura e desporto da cidade. E permita-me o desabafo, aflige-me, isso sim, que tanta gente notável tenha durante anos fechado os olhos perante a degradação e a decadência do pavilhão, dos jardins do Palácio de Cristal, que entretanto reabilitamos.
Com os melhores cumprimentos,
Rui Moreira”
31out19
Apoio à reportagem: Central de Comunicação e Gabinete de Comunicação e Promoção da Câmara Municipal do Porto.
01nov19