Planificada e programada durante um ano marcado a todos os níveis, tanto, político, económico, social e cultural, pela evolução e consequências restritivas da Covid-19, a XXVII edição do Festival de Teatro de Ovar – Festovar 2020, organizado pela Companhia de Teatro Água Corrente de Ovar – Contacto, com todas as limitações e condicionantes resultantes das normas de segurança da Direção Geral de Saúde – DGS e medidas de prevenção e controlo de transmissão da Covid-19, que implicaram adaptar a organização da sala de espetáculos da Casa da Contacto a exigências como o distanciamento físico e a inevitável redução da lotação do Auditório Manuel Ramos Costa, que ficou significativamente limitado.
Um desafio que a direção da Companhia anfitriã do Festovar assumiu com o adequado plano de contingência, e a sua reconhecida dedicação à arte do teatro, perante todas as dificuldades que se estão a viver neste tempo de pandemia, que já obrigou a alterar a estreia da peça “O Urso” de Anton Tchekhov, uma comédia que a Contacto teria levado à cena no dia 31 de outubro, como resultado de alguns dos atores do seu elenco, estarem sujeitos às recentes medidas de proibição de circulação entre concelhos de 30 de outubro a 3 de novembro.
José Lopes
(texto e fotos)
Se os cenários de risco da evolução da pandemia e o atual estado de calamidade (de 15 a 31 de outubro), não obrigarem a novas e inesperadas alterações à programação do Festovar, na véspera da edição do nosso jornal, terá sido repetida uma outra comédia, representada pela Contacto, também do russo Anton Tchekhov, “Um pedido de casamento” com encenação de Manuel Ramos Costa, que teve a sua estreia neste Festovar no dia 10 de outubro.
Com uma programação representativa dos diferentes géneros teatrais, para o infanto-juvenil o Festovar deu palco no dia 18, ao projeto de dois jovens atores de Santa Maria da Feira, que formam a Companhia Joana Vilar & Sérgio Oliveira, com “De pequenória se torce a história”, a partir de “A eleição dos bichos” de André Rodrigues e Larissa Ribeiro. Já no dia 24 a farsa foi o género que o Teatro Olimpo de Ansião fez subir ao palco da Casa da Contacto, com “Quem és tú, José ?” de Mário Silva André e encenação de Casimiro Simões. “Uma farsa sobre aqueles indivíduos que assumem na sociedade moderna e capitalista, uma dupla personalidade, consoante os ideais e interesses que perseguem ou as pessoas a quem procuram agradar…”, como descreve a sinopse da peça. (dois espetáculos a que assistimos, e cujas fotos ilustram este trabalho)
Entre todas as surpresas que a programação do Festovar ainda pode estar sujeita no atual quadro de evolução da pandemia, na produção teatral a Contacto também não pára de surpreender com três projetos em estreia a destacarem-se no conjunto de espetáculos desta XXVII edição do Festival de Teatro de Ovar. Para o encerramento do Festovar no dia 21 de novembro, “Pranto de Maria Parda” é a farsa dramática de Gil Vicente, com encenação de Manuel Ramos Costa, para a Contacto a que preside, levar ao palco do Centro de Artes de Ovar.
O Auditório da Casa da Contacto vai ainda receber a Companhia de Teatro de Santo Tirso, em que Sérgio Macedo interpretará com fantoches “Chef Giovanni e o tesouro da alimentação saudável” (8 de novembro) no género infanto-juvenil. A comédia volta à cena desta feita pela Nova Comédia Bracarense (14 de novembro), com “Aniversário do Casamento II” de Fernando Pinheiro.
Esta é a programação que resulta do momento difícil que está atravessar e a marcar o ano 2020, em que, como afirma o diretor do Festovar, Fernando Rodrigues, “Esta pandemia veio provar que com empenho, planeamento, estratégia e equilíbrio as adversidades se podem transformar em oportunidades. O Festovar muda um pouco na sua forma, mas mantém a sua essência, a de sempre: qualidade e diversidade!”, conclui este responsável da Contacto, que há vários anos é o rosto da programação deste reconhecido certame teatral a nível nacional.
Sendo inevitáveis as referencias à pandemia, como refere Manuel Ramos Costa, no Boletim Água Corrente que acompanha a edição do Festovar 2020, a propósito da necessidade da retoma das atividades da Companhia a exemplo da sua Oficina de Teatro e da presente edição do Festovar que mereceu igualmente dos autarcas palavras sobre os condicionalismos criados pela situação que se está a viver. Para Salvador Malheiro, presidente do Município de Ovar, neste quadro de “alguma incerteza no futuro, a Contacto teve a ambição, a capacidade e o arrojo de manter uma iniciativa cultural de excelência, sabendo adaptar-se às circunstâncias”.
Na mesma linha o vereador da cultura, Alexandre Rosas, destacou “um festival reconhecido no panorama do teatro amador nacional (…), contribui para a formação teatral e cívica de crianças e jovens e promove o teatro e a cultura”. Também Bruno Oliveira, presidente da União de Freguesias de Ovar, São João, Arada e São Vicente de Pereira, que desejou “um seguro e bom festival, de teatro em Ovar”, acrescentando que “reconhece o mérito e prestigio consolidado”, pela Contacto, com toda a sua extraordinária e apaixonante produção teatral, correspondendo com redobrada responsabilidade às exigências da programação do Festovar 2020, que como conclui na sua mensagem, o diretor Fernando Rodrigues, “o desafio já está a ser vencido e a presença do público disso dará testemunho! A mudança “imposta” não nos vai intimidar – vamos vencer o desafio”.
01nov20