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“VOLT”, o mais recente partido português, está aí! O que defende? Quais são as suas linhas programáticas? O dirigente João Pessanha dá as respostas, tudo num contexto que valoriza a diversidade e onde o “federalismo” é a… “pedra de toque”

Desde o passado dia 30 de junho de 2020, altura em que foi aprovada pelo Tribunal Constitucional, que Portugal tem mais uma força política, neste caso a vigésima quinta, e que dá pelo nome de “Volt Portugal”, sendo que Volt não é uma sigla, é algo mesmo de energético… voltaico.

Com ligações diretas ao “Volt Europa” que tem representação em todos os países da União Europeia (27), mais três do velho continente – Inglaterra, Suíça e Noruega -, esta força política defende três lemas de basilar importância, e que, como tal, se definem: pan-europeus, pragmáticos e progressistas.

A sua curta história em Portuga, inicia-se a 9 de outubro de 2019, quando foram entregues as obrigatórias nove mil assinaturas no Tribunal Constitucional, para a sua formalização enquanto partido. A partir daí, e passando pela sua legalização, o trabalho tem sido o de dar a conhecer nas suas ideias, consolidando o projeto, para o expandir e criar raízes.

Tiago Matos Gomes – foto: pG

Contrariando a distribuição tradicional dos partidos políticos por setores de esquerda, centro ou direita, o “Volt” tem como “pedra de toque” o federalismo, ainda pouco compreendido e defendido em Portugal. Independentemente desse facto, os progressistas e pragmáticos europeus defendem a diversidade, a identidade nacional de cada país, a sua cultura, língua e política própria, ainda que centralizada numa Europa “mais democrática, unida e solidária”, como faz questão de realçar, em entrevista que se segue, João Pessanha, um dos responsáveis do partido que tem em Tiago Matos Gomes o seu presidente.

A pensar no primeiro ato eleitoral em que serão sufragados pelo povo português, ou seja, nas eleições autárquicas, o “Volt” destaca-se ainda pelo facto de condenar vivamente populismo e extremismos políticos venham eles de onde vierem, e ainda de defender questões ecológicas e de estar, digamos que, intimamente ligado, aos avanços da ciência, desenvolvendo, assim, importantes parcerias com instituições dessa área de estudo.

João Pessanha

Mas, para dar melhor a conhecer o “Volt Portugal”, nada melhor, então, que sabermos o que tem para nos dizer o jovem portuense, de 35 anos, João Pessanha, simpático médico dentista, e que aborda as questões colocadas com uma força viva, determinante, pragmática, diríamos até mesmo eletrizante, ou seja de alta Voltagem… deixando, dessa forma, no ar o apetecível desejo de dar – no bom sentido do termo – uns bons choques na tradicionalista, em termos político-partidários, sociedade portuguesa que, por natureza, também é europeia…

A ler…

 

José Gonçalves                         Mariana Malheiro

(texto)                                                       (fotos)

 

Como é que um jovem, como o João Pessanha, chega ao Volt?

“Cheguei ao Volt em 2018, pela mesma razão que os próprios fundadores do partido decidiram agir. Residi em Londres, por onde estive oito anos, e senti, na campanha para o referendo em relação ao Brexit, uma tensão social que nunca tinha sentido na minha vida. Pela primeira vez achei que deveria agir. Fiz algumas pesquisas na Net e, em 2017 encontrei o Volt. Em Portugal, o partido foi em criado em 2017, e no início do ano seguinte aderi ao projeto”.

Quais são, no fundo, as linhas programáticas, ideológicas, do Volt?

“Somos federalistas porque acreditamos numa Europa mais democrática e mais unida. Em termos de governança, por exemplo, acreditamos, e propomos, que o Parlamento Europeu tenha iniciativa legislativa, o que não acontece neste momento. Acreditamos também no Conselho Europeu como um senado: a votação deve ser feita como numa segunda câmara legislativa, por maioria, em que cada Estado membro tem o mesmo número de representantes. E, depois, a Comissão Europeia seria como que o Governo, com o primeiro-ministro eleito pelo Parlamento Europeu, e um Presidente como representante máximo do Governo federal.

Por que é que nós acreditamos nisso? Porque neste momento há um bloqueio, por interesses nacionalistas, ao desenvolvimento europeu. Pensamos, assim, que com estas propostas e a partir deste sistema, que vamos ao encontro dos interesses e da representação dos cidadãos em todas as áreas, o que torna a democracia mais participativa e a Europa mais presente nas nossas vidas. Ela já está presente, as pessoas é que, por vezes, não têm consciência disso”.

SOMOS PROGRESSISTAS PORQUE VALORIZAMOS OS DIREITOS HUMANOS E TEMOS PREOCUPAÇÕES ECOLÓGICAS…

Dizem-se progressistas, o que, à priori, levaria a supor que são de esquerda, mas, a verdade, é que o Volt não defende a tradicional, e comum, distinção entre a esquerda, centro e direita…

“Nós somos progressistas porque valorizamos os direitos humanos e temos preocupações ecológicas. Acreditamos que as pessoas devem ser sempre respeitadas sem preconceitos, e que ninguém deve ser deixado para trás. Acreditamos também numa sociedade verde, com uma economia circular, sustentável, combatendo a poluição. Somos apologistas da biodiversidade”.

Para já, o Volt está representado no Parlamento Europeu, com um deputado.

“Sim. Temos um eurodeputado eleito pelo Volt da Alemanha, Damian Boeselager, e estamos presentes em trinta países da Europa, os 27 estados membros da União Europeia, mais três países, considerando que o Reino Unido não faz parte, a Suíça e a Noruega. Em 14 deles já é um partido oficial nacional, incluindo Portugal que foi o 14.º país a chegarmos, e onde somos a 25.ª força política inscrita”.

NÃO É POR SER DO PORTO QUE DEIXO DE SER PORTUGUÊS, E NÃO É POR SER PORTUGUÊS QUE DEIXO DE SER EUROPEU! A NOSSA IDENTIDADE SERÁ SEMPRE MANTIDA!

E para um partido novato em Portugal, como é que têm decorrido os primeiros contactos com as pessoas e com as instituições? Têm sido positivos?

“Tem sido muito positivo o contacto com as pessoas. Pelas razões que não são as melhores, devido a esta crise pandémica, a verdade é que, devido a este grave problema, falamos mais na Europa neste momento. Isto a começar pela «bazuca» europeia, passando pela ajuda e solidariedade entre os povos da União.

Parece que não – e isso, infelizmente pelo facto de se estar numa altura de grave crise pandémica criada pela Covid-19 – mas as pessoas estão muito mais abertas e mostram-se interessadas quanto a assuntos da União Europeia. Começa, no fundo, a haver um maior reconhecimento no ser-se Cidadão Europeu.

Como costumo, habitualmente, dizer não é por ser do Porto que deixo de ser português, e por ser português não deixo de ser europeu. As pessoas têm de pensar que a nossa soberania é sempre existente, e que a nossa identidade será sempre mantida. Portugal não a perderá ao haver uma União Europeia mais coesa, pelo contrário, ganhará mais identidade…”

A verdade, contudo, é que, em Portugal, há muita gente que defende a Europa e a presença de Portugal na União, mas, uma parte considerável dos portugueses não é adepta do federalismo…

“E, em minha opinião, erradamente! E erradamente porque acredito que é a Europa que tem de olhar para Portugal e não o contrário. É crescer de mãos dadas, coordenando. Neste momento, estamos a ver a falha de coordenação, pois a suposta intergovernamentalidade da União Europeia não se fez sentir e isso originou um bloqueio e é nesse bloqueio que tem existido. Por estas e por outras é que os cidadãos não se sentem representados, e isso, a meu ver, é mau para o futuro da União.”

NESTE MOMENTO, EM QUE OS NOSSOS DESAFIOS SÃO GLOBAIS, O PAPEL DA EUROPA É FUNDAMENTAL PELOS VALORES QUE TRANSPORTA

Tendo em conta os índices de abstenção que se tem registado, no nosso país, para as eleições europeias, é um facto que os portugueses ainda não têm enraizado em si a cidadania europeia. Talvez, neste aspeto, os nossos emigrantes, ajudem a esclarecer mais um pouco as coisas. Assim sendo, este facto não será um entrave para a implantação de um partido europeísta e federalista em Portugal, como é, declaradamente, o Volt? Ou tudo passará mais pela adesão da juventude ao vosso projeto?

“Por mais surpreendente que seja, os membros do Volt Portugal, talvez pela vertente de sermos progressistas e de também defendermos questões ambientais, são jovens. Por isso, apelidam-nos de «partido Erasmus» … mas, erradamente! Repare que os fundadores da União Europeia já não são propriamente jovens e defendem os valores europeus. E agora, surpreendentemente, as pessoas começam a perceber, aos poucos e poucos, o impacto e a força que a própria União tem, entre os países e os Estados que dela fazem parte. Temos muito mais em comum com os Estados membros que, por exemplo, todos os Estados, dos Estados Unidos, têm entre si. E temos muito mais em comum, porque em comum lutamos, infelizmente, uns com os outros, só que, agora, a História pede unidade!

Neste momento, em que os nossos desafios são globais, o papel da Europa é fundamental, pelos valores que transporta! Nada do que ela transporta tem, por exemplo, a ver com o que vimos, e ainda estamos a ver nas eleições para a presidência dos Estados Unidos. Mais do que nunca, a Europa precisa de ter um papel fundamental e esse papel fundamental só se consegue através da união. União que se faz através de políticas comuns de económica, de imigração, de formação na Saúde, na Defesa, assim como de políticas externas concertadas para defender os seus cidadãos”.

O NOSSO PÚBLICO-ALVO SÃO OS MAIS JOVENS! MAS…

Mas, regressando ao Portugal real, ao nosso país, pergunto como é que, por cá, as pessoas têm reagido ao vosso projeto político?

“As pessoas estão a ser recetivas ao Volt. O nosso público-alvo – não o podemos negar – são os mais jovens! Os mais velhos ainda se encontram a viver um pouco a política tradicional. E porque é que nos apelidam de Geração Erasmus, ou de partido Erasmus, porque se calhar usufruímos mais do acordo de Schengen, e do Erasmus em si, e não temos aquele preconceito, ou conceito, já predefinido de um povo x, e considerarmos todos um mesmo. Tenho amigos de todo o lado da Europa e falo com eles regularmente, e isso acontece com todas as pessoas que viveram os frutos do projeto que é União Europeia. E só conseguimos reparar que a União Europeia é um projeto lindo e inacreditável, quando saímos do nosso espaço… da Europa. Vamos para sudoeste asiático, ou vamos para a Argentina e …não há comparação. Primeiro é a burocracia transfronteiriça que não faz sentido, e à qual na Europa já não estamos habituados. Estranha-se! E, depois, temos os exemplos de todas as reformas que foram feitas no nosso País muito por conta da União Europeia, incluindo o Porto, obviamente.

A adesão de Portugal à, então, CEE foi um passo muito importante, mas não muito bem compreendido na altura. Seja como for, foi defendida até ao ponto de lá se chegar. Quanto ao Volt, a maior evolução do partido encontra-se na Alemanha, em termos de resultados eleitorais e projeção?

“A evolução do partido verifica-se um pouco por toda a Europa. Mas, em termos de sucesso, até porque já lá se realizaram algumas eleições, está mais na Alemanha, mas temos também 37 representantes de eleitos locais, com destaque, entre outros, para a Itália”.

ESTAMOS ABERTOS AO DIÁLOGO, SIM, MAS NÃO COM EXTREMISTAS…

Vocês aparecem num período em que, como já se disse, as pessoas demonstram alguma abertura a novas ideias, facto que se reflete no Parlamento com o aparecimento de novos partidos como o Iniciativa Liberal, o Livre – independentemente do que aconteceu depois- eo Chega, da extrema-direita. O facto de as pessoas começarem a dar atenção às alternativas pode ser positivo para o Volt?

“Há um cansaço dos cidadãos em termos de forças partidárias e percebem que as sugestões, as próprias propostas políticas, não fazem sentido para o mundo em que vivemos atualmente. Nós, como partido, queremos trazer de volta a moderação. Trazemos princípios que defendem a dignidade humana, a liberdade, a justiça e a solidariedade…”

Que respeite a Constituição portuguesa?!

“Sem dúvida: que respeita a Constituição portuguesa, e que traz de volta a dignidade humana e os princípios básicos de interação, de solidariedade e cooperação…”

E estão abertos ao diálogo com outras forças políticas?

Abertos ao diálogo sim, mas não com extremistas, porque o Volt nasceu de uma reação contra os populismos… os extremismos. Nós nunca negociaremos qualquer tipo de coligação, ou outro acordo qualquer, com partidos extremistas, sejam eles de qualquer espetro desse convencional de direita ou esquerda….”

Nas “Presidenciais”, apoiarão algum dos candidatos já conhecidos, concorrerão com alguém, ou, nem uma coisa, nem outra?

“Fizemos uma auscultação interna a todos os membros do partido, e a maioria votou em não apoiar qualquer candidato presidencial, e não apresentar qualquer candidatura própria. Esta abstenção acontece – ainda que não saiba as razões em concreto – porque a própria Comissão Política nacional vai respeitar a decisão dos membros, e só vai sugerir ao Conselho Nacional – que era para ser realizado no passado dia 28 de novembro, mas foi adiado – só depois, este órgão, é que vai decidir se segue o que foi sugerido, ou não. Mas, a maioria dos membros não defende o apoio a qualquer candidato dos que já formalizaram a sua presença nas eleições”.

A NOSSA ESTRATÉGIA PARA AS ELEIÇÕES AUTÁRQUICAS JÁ ESTÁ A SER MONTADA

As vossas baterias estão concentradas nas Eleições Autárquicas?!

“Estamos a olear a máquina, para que as equipas funcionais, coloquem em prática as próprias políticas. Outro ponto, para além das autárquicas que é importante, e pela vantagem do partido ser pan-europeu ou transeuropeu, é que, nós – tendo esta comunidade e a capacidade intelectual coletiva que temos com os outros países -, temos também a possibilidade de podermos ver quais são as melhores práticas, através de evidências científicas, em vez de estarmos, todas as vezes, quase que reinventar a roda, quando isso, na verdade, não é necessário. E não é necessário uma vez que podemos ter mais respeito pelos recursos humanos e financeiros, que é isso que faz com que o Volt Europa, e todos nós dos segmentos nacionais, seja algo maior que uma força convencional, meramente tradicional e que limita a sua ação, exclusivamente, a Portugal.”

Mas nem por isso as Autárquicas deixem de ser um marco e um objetivo no vosso calendário. Quanto mais não seja, será o primeiro ato eleitoral no qual serão sufragados…

“Sim. Em princípio vamos concorrer em Lisboa e Porto, além de Braga e Coimbra. Não sabemos ainda se só a câmaras municipais se também a juntas de freguesia. Isso ainda não está definido. O Conselho Nacional ainda vai definir esta questão, mas a estratégia já está a ser montada.

É bom que se diga, entretanto, que temos uma forma própria de participação dos membros, ou seja, quando alguém entra no Volt como membro, sabe que a transparência é algo de muito importante, assim como a sua inclusão no partido.

Quem entrar no Volt tem sempre a possibilidade de fazer parte de uma equipa funcional – de comunicação, realização de eventos etc. -, ou mesmo integrar políticas, que é como quem diz, sugerir a sua posição na área em que melhor se sente: Saúde, Economia, etc. E, a partir daí, começar a contribuir para a política do partido, com sugestões que depois serão analisadas e votadas. É dessa forma que queremos desenvolver a nossa política que, neste caso, é diferente dos partidos tradicionais”.

É ATRAVÉS DO MÉRITO E DAS PESSOAS COOPERAREM EM CONJUNTO, QUE VAMOS TRABALHAR E CONSEGUIR ALCANÇAR OS NOSSOS OBJETIVOS

No Porto, onde o Volt, em princípio, concorrerá à Câmara Municipal, como é que as coisas estão a correr?

“Temos já uma equipa coordenada mas neste momento, estamos mais focados na expansão do Volt, através da criação de pequenas campanhas, de pequenas análises. Basicamente, há um trabalho que é feito nos bastidores, e sempre em cooperação nacional e europeia. O nosso centro é o mapa de políticas, que é quase que uma Bíblia, um livro de políticas pelo qual nos regemos. Essas próprias políticas estão baseadas nos pilares da dignidade e direitos humanos, etc., mas cada capítulo nacional tem sempre autonomia de adaptar-se, seguindo as suas ideias programáticas…”

Em Portugal tem sido fácil dar corpo ao Volt, ou nem por isso?

“Este foi um processo moroso. Foi em dezembro de 2017 que nasceu. Em 2018 iniciamos a recolha de assinaturas – conseguimos nove mil- e entregamos ao Tribunal Constitucional, os nossos estatutos e a nossa declaração de princípios. Depois com a pandemia, o processo demorou mais algum tempo, mas acabou por ser aprovado a 25 de junho deste ano de 2020. Depois disso fizemos o primeiro congresso nacional a 26 de setembro.

Agora, estamos no terreno, e temos de estar, basicamente, preparados para tudo. Mas, acima de tudo, estamos preparados para representar os cidadãos.

De salientar que quase todos os membros do Volt não tiveram um passado de filiação partidária, são todos membros e cidadãos chamados «comuns», assim como ainda não tivemos qualquer tipo de participação política. É através do mérito e da possibilidade das pessoas cooperarem em conjunto que vamos trabalhar e conseguir alcançar os nossos objetivos”.

Defendem a meritocracia contra, por exemplo, o compadrio e outras coisas do género que ainda grassam em Portugal?

“Sim. Defendemos a meritocracia, a justiça, a igualdade de oportunidades e a solidariedade entre os Estados membros.”

NÃO HÁ UMA MENSAGEM COERENTE QUE FAÇA COM QUE OS CIDADÃOS SE SINTAM CONFIANTES PERANTE A GRAVE SITUAÇÃO QUE SE VIVE

Qual a análise que o Volt faz quanto à política «caseira»? Como é que avaliam o trabalho do Governo?

“Não posso – como pode compreender -, ser o porta-voz de todos os membros do Volt. No entanto, eu vejo – e isso é uma mera opinião – que em termos da gestão da pandemia e do Orçamento de Estado deveriam ter tido outro rumo. A nossa posição oficial é crítica e conhecida nas redes sociais Compreendemos que estes são tempos difíceis, mas acreditamos que devia ter sido dado mais apoio às pequenas e médias empresas e que há um certo tipo de desgovernação pela situação pandémica”.

Mas essa é como uma reação pós-incêndio. Quando ele está a deflagrar poucos são os que se interessam em encontrar soluções para o deter, mas depois, quando extinto, sugerem, então e só então, todas as ideias e mais algumas quanto à forma como se deveriam ter combatido as chamas… é essa a vossa atitude e forma de estar?

“O Volt defende que, no início da pandemia havia um desconhecimento geral, isto desde a comunidade científica até aos governos e a todas as pessoas. Agora, o que nós não compreendemos é a falta de preparação para a segunda vaga da Covid-19, que já estava mais que prevista pelos especialistas. E, depois, não haver uma mensagem coerente que faça com que os cidadãos se sintam confiantes perante a grave situação que se vive. Ninguém percebeu ainda certas medidas políticas tomadas, facto que revela uma certa desgovernação e falta de critério nas soluções.

Acho que a responsabilidade de um Governo é a de informar as pessoas, e essa informação já poderia ter sido feita há meses. Até hoje, ninguém sabe e percebeu como é que o próprio confinamento voltou a surgir, e depois que certos eventos podiam ser realizados e outros não, quando ambos poderiam ser perigosos para a propagação da pandemia…”

Mas a situação, por si só, não é fácil de ser gerida…

“Exatamente, e nós, dentro da razoabilidade, compreendemos que a situação é difícil, e acreditamos também que todas as pessoas estão a esforçar-se para o bem comum. Não acreditamos que alguém esteja a agir de má-fé. Agora, se estão a agir corretamente… com capacidade, aí temos algumas dúvidas”.

NO PORTO FOI E ESTÁ A SER FEITO UM TRABALHO, VERDADEIRAMENTE, MAGNÍFICO…

E como é que se encontra, neste caso a “nossa” cidade do Porto?

“A opinião que se segue é minha, até porque eu estive fora do Porto, em Londres, oito anos, vejo que foi e está a ser feito um trabalho verdadeiramente magnífico, mas não só pelos representantes políticos, mas também pelas pessoas que ama a cidade.

Em oito anos houve uma evolução muito significativa, desde o centro do Porto ao resto da cidade. Por exemplo: havia, há anos, graves problemas de droga perfeitamente dispersos pela cidade. E, se hoje, ainda existe mas estão focalizados. Na altura, o Porto estava um pouco mais ao abandono e pouco controlado. Neste momento vê-se uma cidade dinâmica, progressiva, de mente aberta …”

…o Porto andou, e ainda anda, nas bocas do mundo, pelas melhores razões…

“… sim. Tenho – e entrando no foro privado – pessoas de fora que querem abrir as suas empresas em Portugal, o único problema é o aspeto financeiro. Tenho o exemplo de pessoas que estão no Reino Unido, que por lá abriram empresas, e que sentem que em Portugal conseguem viver, e, por lá, não. Aqui as pessoas são mais… respeitosas, lá, o critério de respeitar as normas governamentais tem sido mais difícil. Aqui, sentem que há mais liberdade responsável, e como tal, podem desenvolver da melhor maneira esse tipo de atividades que as ajudam, no fundo, até à sua saúde mental”.

O Volt está atento a esses pormenores?

“Sim, estamos atentos”.

É importante saber isso, porque normalmente, as pessoas pensam que os partidos são fechados. O Volt não está vocacionado só para aparecer aquando das eleições, promete mais presença na sociedade, é isso?

“Está preparado para aparecer frequentemente, desde que seja de forma pedagógica. Tendo em conta o projeto europeu, temos em ideia fazer parcerias com fundações, instituições locais, e discutir e analisar possíveis campanhas ou eventos com o objetivo, ou o propósito, de melhorar a qualidade de vida das pessoas. No fundo, é tentar estar sempre presente na vida dos portugueses”.

AS PESSOAS PENSAM QUE, COM O FEDERALISMO, PORTUGAL PERDE A SUA INDEPENDÊNCIA, A SUA IDENTIDADE, O CONCEITO DE SER PORTUGUÊS. NADA DISSO! APELAMOS A UMA UNIÃO EUROPEIA UNIDA, MAS DIVERSA…

Para um indivíduo que se interesse pelas vossas ideias, qual é a primeira questão, ou as primeiras questões, que ele vos coloca?

“É perceber o que é o federalismo; como é que nós defendemos o sistema de governança e perceber se há, ou não, um conflito, pois as pessoas pensam que Portugal perde a sua independência, a sua identidade, o conceito de ser português. Nada disso!

Bem, se as pessoas já não compreendiam lá muito bem a União, quanto mais agora a federação… ninguém parece querer imitar os Estados Unidos..

“Defendemos o federalismo, porque neste momento a União Europeia, por mais que a Comissão e o Parlamento, tenham boa vontade, não têm iniciativa legislativa e há muitas reformas que deviam ter sido implementadas e que não aconteceram. Quem fica a perder, não são os outros países, quem fica a perder somos todos nós. E é isso que as pessoas devem compreender, é que Portugal vai continuar a ser Portugal, que a diversidade se mantém, e que é isso que nos apelamos. Apelamos a uma união europeia unida mas diversa. Nós não estamos a falar em uniformização da União Europeia.”

E tão diversa, quão preocupante, é a questão dos extremismos, neste caso de direita, como sãos os casos das governações na Polónia e na Hungria. Qual a posição do Volt em relação a estes dois casos?

“Temos desenvolvido várias campanhas. Uma em respeito por todos os capítulos do Volt Europa quanto á situação dos direitos das mulheres na Polónia. Felizmente vemos tanto na Polónia, como na Hungria, uma reação da União Europeia através do Estado de Direito, quase como que sanções através de Orçamento de Estado para quem não manter os princípios democráticos, e já foi ativado o mesmo método para pessoas que não respeitem o direito à diversidade, à igualdade e à liberdade…

O Volt é participativo, estamos sempre nas importantes campanhas, há sempre reuniões das equipas funcionais. Todos os elementos do Volt que queiram estar presentes podem estar. Serão debatidas e votadas algumas políticas internas do Volt Europa que depois serão replicado para os outros capítulos nacionais…”

PODEMOS DAR UM CHOQUE DE MOTIVAÇÃO E OTIMISMO AOS PORTUGUESES! QUEM SE JUNTAR AO “VOLT” LEVA SEMPRE ESSE «CHOQUE»

O federalismo respeita, portanto, a identidade cultural de cada país, as suas tradições, os seus costumes, a sua língua, fazendo tudo parte de uma estrutura…

“… coordenada!”

Com capital em Bruxelas?

“Eventualmente.”

O federalismo é o grande objetivo do Volt em termos europeus, e a nível nacional, de Portugal?

“O nosso objetivo inicial é mesmo solidificar o conceito do próprio partido”.

E qual será a primeira proposta do partido quando ele estiver consolidado?

“Isso estamos a desenvolver. Este é um partido novo. Estamos a desenvolver as nossas próprias iniciativas, e isso tem de ser discutido e participado pelos próprios membros, mas será dentro das linhas que nós conhecemos. Nós estamos em Portugal como um partido abrangente, ou seja, um partido que inclui e representa as pessoas num todo. Agora, cabe ao cidadão sentir-se representado, e sentir que o Volt faz sentido…”

Se não leva um “choque”?!

(risos)

“Nós podemos dar um choque de motivação e de otimismo. Quem se juntar ao Volt leva esse choque. Quantas mais pessoas representarem o Volt melhor.”

NESTE MOMENTO SOMOS TODOS VOLUNTÁRIOS. VOLUNTÁRIOS QUE RESPEITAM A CONSTITUIÇÃO PORTUGUESA E O PAPEL DE PORTUGAL NO CONTEXTO EUROPEU

Pretendem eletrizar a sociedade…

“… exatamente! Eletrizar as pessoas todas. Também fui eletrizado! Pretendemos mudar a forma de fazer política, de modo a que as pessoas deixem aquele lado tradicional do partido político…

Então, responda-me a esta pergunta: Caso elejam deputados para a Assembleia da República, em que local do hemiciclo se vão sentar. À esquerda, à direita ou ao centro, sabendo que vocês são contra essas definições? Não colocarão, por certo, os deputados nas Galerias?

“Ficam no centro. Sendo moderados ficamos no centro. Nós estaremos ao lado de tudo o que faça sentido para o bem comum e que esteja provado dentro da informação que existe, porque às vezes, mesmo a própria ciência também erra. Sabemos que temos de respeitar as instituições e as pessoas, vendo qual é a melhor forma de agir e de implementar propostas políticas”.

Então, como cá se diz pelo Porto: toca a trabalhar!

“Há várias coisas que, dentro da nossa humildade, estamos a desenvolver. Estamos numa fase de exploração de contactos de coordenação, queremos expandir, estamos a fazer, por assim dizer, trabalho de campo para depois começarmos a interagir com as pessoas. Neste momento somos todos voluntários; voluntários que respeitam a Constituição portuguesa e o papel de Portugal no contexto europeu”.

Boa sorte.

“Obrigado!”

 

 

Nota da Direção: esta entrevista foi realizada, no passado dia 12 de novembro, no renovado Mercado da Foz do Douro, o único espaço municipal do género a funcionar, já que o Mercado do Bolhão se encontra em obras. Refira-se que o espaço está muito agradável, como agradavelmente fomos tratados pela responsável da “Pratos Pedidos”, onde se realizou, concretamente, este encontro. Fica a nota.

 

01dez20

 

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