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Não há regra sem exceção

Weihua Tang

 

No ano passado, pela primeira vez na minha vida, tive uma experiência única. Dar aulas à distância. Sinceramente, não me sinto satisfeita com o resultado do meu ensino, nem pela qualidade da aprendizagem dos alunos.

Em outubro de 2020, fiquei extremamente contente quando retomámos as aulas presenciais e julgava que poderíamos continuar assim, até ao fim do ano letivo. Infelizmente, em meados de janeiro, fomos obrigados a voltar para casa, novamente após o encerramento de todas as escolas. Contudo, devido às características especiais e à própria complexidade da língua chinesa, as condições necessárias para o ensino à distância são indispensáveis, por isso, fui ao Sector de Formação Contínua na FLUP para saber se havia hipótese de emprestarem um PC.

– “Só é permitido utilizarem os computadores dentro da instalação”. Foi esta a resposta desiludida da funcionária.

– “Mas podes mandar um e-mail ao departamento de logística para perguntar”, acrescentando a sugestão, enquanto eu saía do gabinete.

Fosse qual fosse a resposta, aceitei a proposta para “Curar um cavalo morto como se ainda estivesse vivo”, como diz um ditado chinês.

Para apoiar a exceção do meu trabalho em casa, não tinha dúvida nenhuma que, desta vez, o departamento de logística da FLUP abriria uma exceção. Não resisti em esconder a minha alegria e saltei do sofá, quando consegui tornar uma incógnita na realidade. É verdade, porventura, podemos tornar uma “impossibilidade” na ”possibilidade”, em certas circunstâncias e, por isso mesmo, aprecio muito um provérbio português: “Não há regra sem exceção”.

Curiosamente, o grande pensador e filósofo chinês, MengZi (372-289 B.C), dizia um provérbio instrutivo numa perspetiva diferente: “Não há círculo sem regra”, ou melhor dizendo, onde quer que seja ou o que quer que faça, nada pode ser realizado sem normas ou padrões. Concordo plenamente. Todavia, as aulas on-line são indiscutivelmente incomparáveis com as presenciais. Às vezes, os alunos, ocasionalmente, desapareciam durante uns minutos e voltavam a aparecer novamente, depois de encontrarem um sítio com o sinal de internet mais forte. Em outras situações, repentinamente, saltou um gato no ecrã, outras vezes, ouvia-se o ladrar dos cães. No entanto, ninguém se importava e continuávamos tão divertidos, tão entusiasmados e tão relaxados, pois, estávamos em casa. Neste caso, as regras realmente são mais levezinhas e ligeiramente menos exigentes.

Um certo dia, recebi uma mensagem de um aluno, antes de começar a aula.

– “A aula vai ser complicada em casa. Estou sozinho com a minha filha. Vou estar só a ver, para não perturbar a aula.”

– “Sorry” (emoji de chorar)

– “Deixa a filha participar na aula” – sugeri de imediato. (emoji de sorriso)

– “É melhor não”.(emoji de gargalhada)

– “Have a try. Se não conseguires o controlo, deixa”. (Emoji de professor) Tentei convencê-lo.

Conseguem imaginar o que aconteceu, enquanto entrávamos na plataforma Zoom?! O pai com a bebé, que tinha apenas dois anos e tal, ambos cumprimentavam a turma. Que maravilhoso este ambiente! Era tão harmonioso, tão agradável, tão delicado e tão comovente! Não acham?! Incrivelmente, a bebé acompanhou a nossa aula impecavelmente, durante duas horas. Nesta situação, seguir as regras parecia dispensável. Quero dizer, o espírito, o entusiasmo, o esforço e a participação dos dois, que nos deram o melhor exemplo, mostraram que não há obstáculo inultrapassável!

Seja como for, as regras são regras e admito que devem ser respeitadas. Por enquanto, quebrar algumas regras é inevitável e considerável. Porém, o facto de estas serem feitas pelas pessoas, não significa que sejam inerentes, pelo contrário, podem ser flexíveis. De alguma forma, podem ajustar-se em certas situações caso seja preciso, especialmente quando essa capacidade está ao nosso alcance, garantidamente, sem prejudicar-nada de grave!

Afinal, o que me impressiona mais na cultura portuguesa?! É mesmo a sua perspicácia e a sua sabedoria, pois, sempre há regra com a exceção!

 

Foto: pesquisa Web

 01abr21

 

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2 Comments

  1. Anabela caldevilla

    Tantas saudades da tua sabedoria minha querida professora e mestre. A tua dedicação e amor que emprestas às tuas aulas são únicas. Um grande beijinho e parabéns por mais um texto encantador e cheio de sentido.

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