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A importância do aroma

Miguel Correia

 

Um destes dias cruzei-me com uma pessoa e foi impossível não reparar no perfume que ficou no ar. Mesmo com o olfato reduzido a metade, por causa da máscara, aquele aroma despoletou as células que transmitem os cheiros ao cérebro. Presumo que deva ser assim: vi isto no Dr.House. Mesmo agora que recordo esse momento, enquanto martelo o teclado do meu pobre e velhinho computador, atrevo-me a dizer que tenho o cheiro na ponta do nariz.

Os mais sensíveis, nesta questão do olfato, podem começar a especular sobre o nome (ou preço) da respetiva fragância e, seguramente, vos garanto que vos será impossível adivinhar. E não vale a pena pensar nas bolas de naftalina porque, apesar de muita gente as utilizar em exagero, não se qualificam como perfume.

O aroma daquela pessoa remeteu para a minha infância e tive uma epifania do primeiro carro que o meu pai comprou. Tratou-se uma viatura usada e, talvez por isso, para disfarçar a ausência de cheiro a novo, o espelho retrovisor servia para segurar os famosos pinheiros aromáticos. Assim sendo, é com toda a segurança que posso dizer que a pessoa, que comigo se cruzou, cheirava à “arbre magique baunilha”! Que saudades… Duas décadas depois, e apesar da evolução ocorrida nos espelhos retrovisores – desde “cd’s”, espanta-espíritos e, atualmente, máscaras – é justo dizer que ainda se mantém a preocupação em cheirar bem. E mesmo sem ter orçamento para aquelas marcas famosas, que cobram bem caro cada gotícula do frasco, é de louvar o esforço nacional em prol da aromatização.

Uma das minhas grandes embirrações – a essência do meu trabalho – prende-se com os aromatizadores da casa de banho. É sabido que se trata da divisão mais problemática no que toca a maus odores e, como tal, a preocupação higiénica tornou-se desígnio nacional! Uma das tendências foi a de colocar velinhas aromáticas. Para além de ser um elemento decorativo, ainda perfumava! Até acredito que sim mas, para mim, era o equivalente a “arrear o calhau” num qualquer cemitério! Por vezes, sentado na sanita, sentia arrepios e estava constantemente a ver se aparecia alguma alma penada. O que não daria jeito nenhum! O papel higiénico perfumado foi outra invenção que passou cá por casa. E, de facto, como decoração ainda escapava.

Agora imaginem onde vai ser utilizado e, porque raio, insistimos em ter essa parte do corpo humano perfumada! Por último temos o spray aromático de parede. Destinado a ser pressionado depois do ato número dois e, sem qualquer utilidade decorativa, serve apenas para disfarçar o péssimo odor provocado pelas asneiras alimentares praticadas. Por vezes, o cheiro é demasiado intenso e dou por mim a carregar no ambientador antes de terminar. Como aquela coisa é instantânea – e, talvez eu carregue mais vezes que as necessárias – num ápice, a casa de banho transforma-se num verdadeiro bosque e, à semelhança das velas perfumadas, provoca em mim um efeito de desconfiança e medo de ser atacado. Porque se não é aconselhável fazer isto no cemitério dizem, alguns relatos verídicos, que no meio do bosque é bem pior…

 

Foto: pesquisa Web

 

01set21

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