Ricardo Guerra
Como a cerveja que escorre dos cantos dos lábios
E que tragamos sôfregos gota a gota,
Assim se despede o Verão,
Num pôr do sol derradeiro,
Prenúncio das folhas que caem
E de cafés quentes na cama,
A escutar a chuva que lava o peso dos dias.
Assim se despede o Verão:
Nos seus raios leva memórias de luz,
De risos e mergulhos na espuma das sereias,
De infindas aventuras nos sete mares,
De todas as ondas que cruzámos,
Rumo a recantos de felicidade nunca dantes navegados,
Para lá da imaginação humana.
Assim se despede o Verão:
Leve como água, como o vento que passa,
Como a brisa fresca que nos renova para um novo amanhecer,
Para o cansaço da rotina, para o esforço do labor,
Para tudo aquilo que dói, que nos corrói, que nos consome
Mas que nos torna melhores, mais fortes e verdadeiramente humanos.
Assim se despede o Verão:
Porque também ele, como tudo, tem um fim.
Mas o que seria, afinal, o sol de Verão
Sem as nuvens do Outono?
01out21