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O Outono chegou ao Porto

Carmen Navarro

 

A cidade enche-se de belas cores, verde, amarelo, vermelho e castanho em abundância e porquê estas cores? Porque estamos no outono e as folhas das árvores perderam clorofila, só para por a cidade do Porto ainda mais bela.

De que serviu tecer flores na primavera, escoar areias da praia entre os dedos se no outono as folhas caem no chão para o embelezar e atapetar o caminho. Um ventinho fresco que bate no rosto e avisa que vem aí o frio e as chuvas de inverno. De repente as árvores ficaram nuas. Elas apenas na sua solidão se resguardaram mas como se essa calma não pudesse durar,  voltam a renascer no fim do inverno.

O Vento de Outono
é como uma voz que chora,
que grita, certamente
é alguém que chama
por mim, por mim
não será!…
Não respondo
ao vento,
espero que ele
teça meu nome
no espaço da solidão.
Vento de Outono
vem depressa
quero ouvir tua voz,
vem não quero estar só,
vem que já estou
atrasada,
para ouvir tua voz.

Vem vento de outono!…

C.Navarro

No outono o há sempre um perfume no ar e às saborosas castanhas assadas, elas estão em toda a parte no Porto, e só na rua têm um gostinho, um sabor especial que só os vendedores que param pelas esquinas, na mais bela estação de comboios do mundo, a estação de S. Bento ou a da Trindade, com os seus carinhos fogareiro sabem fazer, segredo que a tradição guarda. Não há outono sem o cheiro a castanhas assadas nas ruas do Porto e só os vendedores ambulantes conhecem os pregões “ Quentes e Boas” dizem as mulheres, já os homens dizem Quem quer… Quentes e boas…” tudo isto é respeitado e faz parte da tradição, e todos os truques para uma boa fornada bem amarela e quentinha, as que têm a casca queimada em tom cinza esbranquiçado são as melhores. Todos conhecemos estes pregões e já compramos uma dúzia de castanhas, que há anos atrás eram embrulhadas num cone de papel de jornal ou folha de alguma lista de telefones antiga.

A 11 de novembro festeja-se o dia de S. Martinho e manda a tradição que se festeje com castanhas assadas e jeropiga ou vinho novo.

CANÇÃO DE OUTONO

No entardecer da terra,

O sopro do longo outono

Amareleceu o chão.

Um vago vento erra,

Como um sonho mau num sono,

Na lívida solidão.

 

Soergue as folhas, e pousa

As folhas volve e revolve

Esvai-se ainda outra vez.

Mas a folha não repousa

E o vento lívido volve

E expira na lividez.

 

Eu já não sou quem era;

O que eu sonhei, morri-o;

E mesmo o que hoje sou

Amanhã direi: quem dera

Volver a sê-lo! mais frio.

O vento vago voltou.

Fernando Pessoa

A luz e os cheiros aconchegantes do outono no Porto são inconfundíveis, não é só porque somos amantes do Porto, é o desfrutar de mil cores dos seus belos jardins. Vá até à Foz em frente ao mar ao fim da tarde e assista a um espetáculo deslumbrante de um pôr-de-sol! Não podemos esquecer as magníficas vistas dos diferentes Miradouros da cidade que são imperdíveis…

 

CANÇÃO DE OUTONO

 

Perdoa-me, folha seca,

não posso cuidar de ti.

Vim para amar neste mundo,

e até do amor me perdi.

 

De que serviu tecer flores

pelas areias do chão,

se havia gente dormindo

sobre o próprio coração?

 

E não pude levantá-la!

Choro pelo que não fiz.

E pela minha fraqueza

é que sou triste e infeliz.

Perdoa-me, folha seca!

Meus olhos sem força estão

velando e rogando aqueles

que não se levantarão…

 

Tu és a folha de outono

voante pelo jardim.

Deixo-te a minha saudade

– a melhor parte de mim.

Certa de que tudo é vão.

Que tudo é menos que o vento,

menos que as folhas do chão…

Cecília Meireles

No outono no Porto, de madrugada já se sente um certo frescor, um manto de nevoeiro que vem acordar a cidade e que lentamente se desanuvia deixando dias quentes esplendorosos onde o prazer de deambular, sentar numa esplanada é único. Quando o sol se vai o frio regressa, a humidade cola-se à pele e um casaco é sempre bem-vindo…

 

UMA NÉVOA DE OUTONO O AR RARO VELA

 

Uma névoa de Outono o ar raro vela,

Cores de meia-cor pairam no céu.

O que indistintamente se revela,

Árvores, casas, montes, nada é meu.

 

Sim, vejo-o, e pela vista sou seu dono.

Sim, sinto-o eu pelo coração, o como.

Mas entre mim e ver há um grande sono.

De sentir é só a janela a que eu assomo.

 

Amanhã, se estiver um dia igual,

Mas se for outro, porque é amanhã,

Terei outra verdade, universal,

E será como esta […]

Fernando Pessoa

O outono é o mais belo tempo para visitar a cidade que é um repositório de muita arte espalhada por toda a cidade de beleza arquitetural ímpar de diferentes épocas, desde os tempos medievais até ao mais contemporâneo. Os seus Museus guardam um riquíssimo espólio do mais diverso que se possa imaginar. Nunca esquecendo de fazer um passeio para ver a belíssima arte urbana existente na cidade, alguma por artistas internacionais de renome. A cidade Invicta está carregada de maravilhas artísticas.

 

OUTONO

 

Tarde pintada

Por não sei que pintor.

Nunca vi tanta cor

Tão colorida!

Se é de morte ou de vida,

Não é comigo.

Eu, simplesmente, digo

Que há tanta fantasia

Neste dia,

Que o mundo me parece

Vestido por ciganas adivinhas,

E que gosto de o ver, e me apetece

Ter folhas, como as vinhas.

Miguel Torga,

in Poesia Completa

 

O Porto tem uma riqueza única, o sotaque muito característico e as expressões do seu linguarejar, o léxico e muito especial de uma melodia um pouco gutural incomparável de sonoridade muito aberta que só no Porto existe.

Não é só trocar os Bb pelos Vv , õ pelo ão  e pela abertura das suas vogais, é também a forma desenvolta e franca do uso da língua portuguesa que é maravilhosa.

As expressões usadas no “Puarto” – Porto. são imensas.

Só algumas a titulo de exemplo:

Andor violeta” – põe-te a andar. “Desampara-me a loja” – vai embora. “Estrugido” – refogado. “Aloquete” – cadeado. “Cruzeta” – cabide. “Testo” tampa de panela. “Murcão” – apalermado. “Esbandalhei-me”  caiu, ou riu muito. “Sostro” preguiçoso. E muitos mais e mais. Adoro esta forma de pronunciar e as expressões que ninguém fora do Porto entende.

No Outono despem-se as árvores, trazem dias mais pequenos, os raios de sol ficam esmaecidos que dão um tom de poesia à cidade que as folhas caídas ao chão traçam caminhos novos para uma renovação, a cidade fica atapetada de folhas secas que estalam debaixo dos meus pés e os meus sonhos aumentam.

No Outono, o Porto tem um cheiro maravilhoso!

 

 

Fotos: Pesquisa Web

 

 01nov21

 

 

 

 

 

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