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Hospital do Terço – Após anos de crise, o secular edifício portuense está a ser reabilitado e, no seu seio, criou já uma’ família’ que se une pela criatividade, profissionalismo e empatia…

O Hospital, então, da Irmandade do Terço teve a sua origem a 21 de novembro de 1754, quando o Padre Geraldo Pereira comprou umas casas e quintais junto à Porta de Cimo de Vila, como produto das esmolas que caíam no oratório de Nossa Senhora do Terço, junto do qual os devotos rezavam todas as noites o Terço do Rosário.

Desde o início, o Hospital do Terço ficou ligado aos mais importantes factos cirúrgicos de Portugal. Foi neste hospital, em 25 de julho de 1782, que se praticou a primeira cesariana e foi igualmente nele que se criou a primeira sala de operações, em 1856. Por essa altura, foi operado, com êxito, um aneurisma da artéria humeral, o que deu brado no meio médico. Foi o Doutor Bernardino António de Almeida, professor da Escola Médica, a grande figura deste e de outros feitos cirúrgicos…

Este é, em suma, um pouco da história do emblemático Hospital do Terço, na cidade do Porto, o qual, recentemente, visitamos, não em contexto de publireportagem – ou seja, reportagem paga pela empresa ou instituição para promover os seus produtos ou serviços -, mas pela curiosidade jornalística surgida depois de, no Facebook, constatarmos a dinâmica existente nesta unidade hospitalar privada, quanto ao trabalho que é efetuado com os idosos aí internados.

Fomos, assim, ‘De Visita’, até ao Hospital do Terço, falando com Daniela Real, administradora do mesmo, e ainda com a fisioterapeuta, Andreia Ribeiro, que nos deram a conhecer a realidade da instituição, que esteve, há, relativamente, poucos anos, quase a encerrar as suas portas…

 

 

José Gonçalves           Mariana Malheiro

(texto)                                (fotos)

 

Daniela Real, administradora do Hospital do Terço, está confiante no futuro da instituição, ainda que se depare com muito trabalho pela frente, isto depois de uma crise relacionada com a gestão do hospital, anterior à data em que a sua empresa/grupo comprou o edifício e o começou a gerir.

“Isto começou como asilo, depois foi a Ordem que fez a gestão. Após esse período, o Hospital do Terço passou para particulares, mas isso teve um impacto negativo… o hospital esteve mesmo quase a fechar. Entretanto, entrámos nós, Involvepeople, comprámos o Hospital há oito anos, e começámos com a reabilitação do edifício. Só que isto é enorme e a reabilitação ainda durará alguns anos. Mas, acho que estamos a fazer um bom trabalho, garantido, todos os anos, pela Inspeção e Delegação de Saúde, e que nos têm elogiado, até porque o edifício estava, realmente, muito degradado, e, agora, são já visíveis, e palpáveis, as obras de reabilitação que temos levado a cabo”.

Palavras de Daniela Real que está a gerir um hospital… lotado. “Temos capacidade para cem utentes, e estamos com cem utentes. O Hospital está lotado!” Hospital que, ao contrário do que muitos possam pensar não é “um lar de idosos, é um centro que visa a reabilitação com qualidade de vida. Há pessoas que estão cá um mês, mas também há dois, três meses… ou um ano, mas há, na realidade, pessoas que estão aqui há muitos anos, ou seja, que optaram por aqui ficar”.

HÁ PESSOAS QUE SE ENCONTRAM NO HOSPITAL DO TERÇO HÁ 50 ANOS…

Eis, então, uma particularidade do Hospital do Terço, ou seja, o facto de servir de ‘residência’ para alguns utentes, os quais têm liberdade de circulação interna, e… externa.

“Há requisitos para entrar no Hospital… tem de ter problemas de saúde. Não pode ter só 65 anos e entrar, tem mesmo de ter um problema de saúde, mas, depois, não há limite para saída. Nós ainda herdamos utentes que cá estavam antes da nossa gestão. Há pessoas que se encontram no Hospital do Terço há 50 anos! Algumas que trabalharam aqui e aqui ficaram, tendo direito a um quarto…”, salienta Daniela Real

ATIVIDADE LÚDICA

Mas, o que nos levou a fazer esta reportagem, deveu-se, essencialmente, ao trabalho que o Hospital do Terço desenvolve com os seus utentes mais idosos, principalmente a nível de trabalhos manuais. As elucidativas fotos publicadas na sua página do Facebook, aguçou-nos a curiosidade.

“Essas atividades”, explica a administradora do hospital, “são realizada todos os dias, e todos os dias há coisas diferentes. Também, nesta altura do ano, vamos à praia de manhã. Eles vão à praia, chegam, almoçam, e, depois da fisioterapia, desenvolvem atividades, de acordo com um plano anual e mensal, plano esse que enviamos para a Delegação de Saúde de modo a saberem aquilo que fazemos todos os dias”.

Mas, há mais pormenores, ou melhor: ‘singularidades’, em todo este processo…

“Os utentes saem e entram com muita facilidade, ou seja: há doentes que tem altas mensais. E vamos adaptando as atividades às pessoas, de acordo com a sua dependência. Fazemos as admissões sabendo do que é que a pessoa vai necessitar, e, depois, trabalhamos com eles. A verdade, é que não dá para trabalhar com todos! Temos utentes com doenças psiquiátricas e muitos na Ortopedia, em recuperação. Sessenta por cento da nossa população, vem para recuperar… vem para fazer fisioterapia. Temos também um psiquiatra que nos acompanha, além de sete médicos internistas; seis fisioterapeutas a tempo inteiro, o que nos obriga a fazer um trabalho clínico muito desenvolvido”.

A COVID… COM RESULTADOS POSITIVOS

A pandemia (covid-19) já não é o que era, mas quando esteve no seu auge, marcou o dia-a-dia do Hospital do Terço, ainda que, por mais estranho que possa parecer, os constrangimentos surgidos com o Covid foram ultrapassados de forma… positiva, como nos explica Daniela Real.

“Foi um marco, e foi-o num aspeto que podemos considerar positivo, pois não tivemos grandes surtos. Conseguimos contornar a pandemia até porque tivemos capacidade de poder colocar os utentes em quarentena. Os nossos funcionários foram fantásticos nessa altura, revezaram-se e ajudaram imenso a instituição. O bloquei-o, sentimo-lo mais em termos de visitas, ou seja, o corte com o mundo e com a realidade exterior. Mas, não sentimos grande impacto, pois nunca ficamos sem pessoal para trabalhar. Isso nunca aconteceu”.

ANDREIA RIBEIRO: “NOVENTA POR CENTO DO TRATAMENTO É… EMPATIA”

Pandemia(s) à parte, e regressando áquilo que nos levou ao Hospital do Terço, ficamos a saber que a atividade criativa dos utentes é dividida em dois grupos, pois enquanto um ‘trabalha’ na reabilitação, um outro desenvolve os trabalhos manuais, trocando depois os seus ‘trabalhos’.

Atenta e ativa no trabalho de reabilitação, está a jovem fisioterapeuta, Andreia Ribeiro, que desenvolve a sua atividade há, nada mais, nada menos, onze anos. Que é como quem diz, praticamente nasceu no Hospital. (risos)

“Quase. Vim para aqui logo após a licenciatura”. E, quanto aos colegas que a acompanham, diz deles o melhor: “Portam-se bem!”.

Para a Andreia, o trabalho que efetua “não é complicado. Precisamos de ter método e organização, porque os doentes têm dependências diferentes, e são agrupados por essas mesmas dependências – e, mais ou menos, dentro das mesmas patologias -, para conseguirmos os nossos objetivos. A fisioterapia é trabalhada por setores: temos a fisioterapia intensiva, em que dedicamos mais aos doentes, com um fisioterapeuta destacado para um utente em concreto e está o tempo que for necessário a trata-lo”.

“Depois, temos os utentes com patologias traumatológicas que estão no ginásio a fazer tratamento, e ainda temos o grupo de utentes que não tem capacidade para se deslocar ao ginásio, então, aí, a fisioterapia é adaptada e realizada no quarto, estes são os utentes acamados que precisam de exercer a parte respiratória. Temos assim todas estas vertentes!”

 Ora, pois, tudo muito bem explicadinho, até que finda a fisioterapia, e como nos relata Andreia Ribeiro, os doentes vão, então, para a “salinha com o objetivo de desenvolverem os seus trabalhos manuais. Tudo é organizado em conjunto com a nossa animadora sociocultural.” No total são cerca de 25 ‘artistas’, isto num total de cerca “meia centena de utentes que tratamos diariamente na fisioterapia”.

Todos eles e elas, e isto segundo a nossa entrevistada, “gostam destas iniciativas… de trabalhos manuais, bem como da fisioterapia. Esta é uma recuperação funcional em que se sentem melhor em termos motores. Depois surgem, então, os laços que vão criando connosco. Noventa por cento do tratamento é empatia…”. Empatia essa que será, por certo, fácil de conquistar.

DONA BEATRIZ:ESTOU A VIVER AQUI HÁ 37 ANOS!

E íamos nós circulando pelos corredores, quando nos cruzamos com a simpática Dona Beatriz, com mais de oitenta primaveras, a maior parte das quais, passadas no Hospital do Terço.

Logo de imediato uma pergunta, que surpreendeu a equipa de reportagem: “É do Porto ou do Benfica?”. Lá dissemos a nossa ‘filiação’ clubística, e a senhora contou a sua história de vida:

“Vim para cá tinha 19 anos, hoje já passo dos 85. Há 37 anos que estou a viver aqui, Graças a Deus! Só quando morrer é que daqui sairei!”

A ligação da Dona Beatriz ao Hospital do Terço começou quando “vim para cá trabalhar como cozinheira, e mais tarde ajudei aos partos. Isto para mim é uma família!”.

E a administradora, Daniela Real, revela que “como esta senhora, tivemos aqui a viver durante vários anos, muita gente. Agora, só temos duas ou três pessoas. Pessoas que, no Hospital do Terço, são totalmente independentes, mesmo tendo aqui o seu quarto, pagam uma mensalidade que varia conforme o grau de dependência e a tipologia de quarto que tiverem.….”

E depois: “os doentes, em que a família é muito presente saem para o exterior… com os seus familiares que os vêm buscar para almoçar fora. O objetivo, aqui, é ou recuperação, ou, então, por opção, ficarem por cá, mas, ao mesmo tempo, sentirem a liberdade de poderem sair. Tentamos fazer esta política, a qual poucos hospitais praticam, pelo menos aqui na zona do Porto.”

PARCERIAS PÚBLICO-PRIVADAS?! PARA JÁ, NÃO!

E quanto a parcerias público-privadas, Daniela Real é perentória:

“Nunca tivemos esse tipo de parcerias, nem estamos a contar ter, e isto porque não consideramos algo de prioritário. Há tanta coisa que ainda temos que fazer aqui. Se calhar, de futuro, será algo a explorar. Mas, de momento, estamos cheios, pelo que não queremos estar com a preocupação de guardar dez vagas para este hospital, e mais dez para aquele… presentemente, não estamos a pensar nisso. Por um lado, é bom estarmos lotados, quer isso dizer que as pessoas nos procuram reconhecem o nosso trabalho, pelo que ainda não pensamos em parcerias”.

Ainda de acordo com Daniela Real, “quando começámos a reabilitar o edifício – isto depois, como já frisei, do Hospital ter passado por dificuldades de gestão -, vimos que temos ainda muita obra para fazer, e é esse o nosso primordial objetivo, porque o serviço, em si, está garantido!”

A IGREJA DE NOSSA SENHORA DO TERÇO E CARIDADE

E finalizamos esta ‘visita’ ao Hospital do Terço, com as imagens da sua bela Igreja de Nossa Senhora do Terço e Caridade, construída em1759, sob, ao que tudo indica, projeto de Nicolau Nasoni…

Para o próximo mês dar-lhe-emos a conhecer mais uma instituição da cidade do Porto, a qual tem uma importância capital na vida de milhares e milhares de pessoas…

 

 

14jul22 / 01ago22

 

 

 

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3 Comments

  1. Pereira Nunes, António

    Bon dia,
    O meu avô Augusto Alberto Pereira Pinto que deve ter chegado ao Asilo com 4 ou 5 anos , por volta de 1890-95, aí aprendeu a arte de alfaiate. En vistas da árvore genealógica que os meus filhos estão realizando hoje recorremos à boa vontade dos senhores e senhoras pedindo todas as infomações ou encaminhamento para conhecer o percurso, ou quaisquer traça da passagem do meu avô na venerável instituição do Terço.
    Aproveito para saudar roda à actual équipa que mantém esta intituição centenária.
    Bem hajam,
    António Augusto Pereira Nunes

  2. Lourdes Fonseca

    Parabéns a todo o staff pelo trabalho desenvolvido
    Grata pela forma como têm tratado a Velhinha Guerreira Minha Mãe com 103 aninhos a minha e vossa Lurdinhas ????

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