“O NOSSO BOLHÃO JÁ ABRIU!… E QUE LINDO ELE ESTÁ!” Após quatro anos de obras de restauro e modernização o mercado voltou a encher-se de cor, alegria, cheiros, paixão e de Gente! ‘Aquela’, a ‘tal’, alma… está de regresso

Quatro anos depois, o sino voltou a tocar no Bolhão, para o primeiro de um novo dia de trabalho. O ato simbólico coube ao presidente da Câmara Municipal do Porto, Rui Moreira, que, hoje (15set22), pelas 08 horas da manhã, reabriu, oficialmente, os portões do restaurado e modernizado mercado, visitando de seguida as bancas e espaços diversos dos 79 comerciantes que marcaram presença neste primeiro dia do novo Bolhão.

José Gonçalves             Mariana Malheiro

(texto *)                             (fotos do dia)

Pedro N. Silva               Ursula Zangger

(fotos 2018)                      (fotos do ano)

 

Ora, pois muito bem, aí está o ‘nosso’ Bolhão como um ‘brinco’! Um Bolhão requalificado e modernizado como mandam as exigências do progresso, sem que o progresso rompesse com os laços que tem com o passado; um passado de décadas, de gerações de comerciantes e consumidores…

E, tendo em conta esse facto, lá se encontram as tradicionais bancas com frutas e legumes, as peixarias, os talhos… todos com cheiros, verdadeiramente, inconfundíveis, mas também – e para regalo das vistas – o artesanato bem português, assim como cafetarias e espaços de restauração.

A ‘badalada’ inicial foi dada logo às oito da matina, por Rui Moreira, para alegria de comerciantes e clientes do novo Bolhão, que, além do que atrás referimos, têm ainda ao dispor uma saída/entrada direta para a estação do Metro; 12 elevadores, e uma ponte que faz a ligação entre as ruas de Sá da Bandeira e de Alexandre Braga. Tudo isto num espaço que alberga 81 bancas e 38 lojas viradas para a rua.

Com a ‘bênção’ da padroeira dos comerciantes do Bolhão (Nossa Senhora da Conceição), o modernizado e restaurado mercado, contempla ainda, e pela primeira vez na sua história, a venda de produtos como cogumelos, algas, assim como, massas, temperos e especiarias muito ‘especiais’, tudo fruto do trabalho desenvolvido pelo Gabinete do Mercado do Bolhão (GMB).

“Este é o dia que nós queríamos, que toda a gente da cidade queria. No fundo, é devolver às pessoas o Mercado. É o momento da cidade do Porto se reencontrar com o Bolhão, consigo própria”. “A cidade hoje entrega a si própria aquilo que é o seu coração. O Bolhão é isto! Só tínhamos visto a parte patrimonial. Agora quero ver isto com pessoas. O Bolhão sem pessoas não faz sentido, não é um museu”, palavras de Rui Moreira, depois de ter aberto um dos portões do Bolhão, ter tocado o sino, e ser abraçado por dezenas de pessoas.

Mas, de novidades, ainda não ficamos por aqui, e uma delas é a cave logística, que, no subsolo, ocupa todo o miolo do edifício com câmaras frigoríficas, armazéns, produção de gelo e um espaço destinado a cargas e descargas. Contempla ainda uma zona de balneários e outra de separação e tratamento dos resíduos.

Saiba também que a gestão da empreitada de “Restauro e Modernização do Mercado do Bolhão” foi assegurada pela GO Porto e correspondeu a um investimento municipal superior aos 22,3 milhões de euros. A empresa municipal fica também, a partir de hoje, com a gestão do mercado.

O ARQUITETO

Todas as novidades relacionadas com o Mercado do Bolhão, assim como a preservação das suas tradições, deveu-se, no essencial, ao projeto do arquiteto Nuno Valentim.

Considerado uma referência na arquitetura contemporânea portuguesa, Nuno Valentim – nascido no Porto, em 1971 -, é licenciado pela Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto, e além de ser o autor do restauro e modernização do Bolhão, tem ainda como referências a reabilitação urbana, onde assina projetos como o da Casa Andresen/Galeria da Biodiversidade e Casa Salabert no Jardim Botânico do Porto.

E ele viu, como de seguida o/a leitor(a) vai ver, o seu ‘Bolhão’ ainda sem comerciantes, clientes e visitantes…

O BOLHÃO ‘DESPIDO’

E é assim, o ‘Bolhão’ com nova cara, mas sem aquela ‘alma’, a ‘alma humana’ que lhe dá vida…

 

Ursula Zangger

(fotos)

 

 “AQUI RESPIRA-SE A FRESCO!”

E, hoje (15set22), à tarde, lá fomos nós pelas ‘ruas’ que fazem parte integrante do Mercado, com o cuidado e a atenção de todos aqueles, e aquelas, que, a trabalhar, de nós sempre de se abeiravam, isto se ficássemos uns segundos a mais a ‘contemplar’ um produto… E quando chegamos ao Bolhão já tínhamos a informação, por parte do Departamento de Comunicação e Promoção da Câmara do Porto, que, desde a abertura do mercado e até ao meio-dia, tinham passado pelo espaço nada mais, nada menos, que 20 mil pessoas.

 

Mariana Malheiro

(fotos)

 

“Oh querido! Isto é de confiança! Veja, que fresquinho…”

Ouve-se das bancas, perante uma verdadeira multidão que circula pelo mercado, não só com o objetivo de comprar, mas também pela curiosidade em ver o que é, na realidade, este ‘Bolhão’ hoje inaugurado e, nos últimos dias, tão mediatizado.

E na estação de Metro do… Bolhão, são largas as centenas de pessoas que saem das composições rumo ao mercado, com uma percentagem considerável de gente com máquina fotográfica na mão, por certo, para registarem os momentos de um dia histórico para a cidade.

 

E se falamos num número considerável de pessoas com máquinas fotográficas, fácil será dizer que eram incontáveis os que, com telemóvel, iam registando, passo a passo, os passos que davam e, muita das vezes, não deixavam os outros dar.

E estava tudo muito arrumadinho nas bancas por onde paramos um pouco. Arrumadinhas, mas cheias de gente, muitas das quais de ‘olhos arregalados’ com a beleza apelativa das montras. E era nas floristas que mais gente se concentrava, isto à hora em que circulamos por um Bolhão apenhado de gente, entre os quais um número considerável de turistas.

Na conjuntura de todos estes ‘quadros’ era neles comum a alegria dos comerciantes, não só pelo regresso à renovada casa, mas também, e essencialmente, pela adesão às compras por parte de muita gente. A tal gente que se chegava a ‘atropelar’, mas que satisfeita saía do Bolhão de saco cheio. Os preços estavam realmente apelativos, não sabemos se só por este dia, se para continuar por mais alguns.

Os cheiros, as cores, o ‘portoguês‘, voltaram, definitivamente ao “nosso Bolhão”, e que “lindo ele está”, dizia alguém caminhando com uma criança pela mão, na Rua do Encontro. Para quem é do Porto, este dia faz parte da história, de uma história com muitos enredos, mas que teve um final feliz, ou, melhor, um princípio de ‘vida’ prometedor… 

O MERCADO EM 2018… POUCO ANTES DE ENCERRAR

O Mercado do Bolhão estava prestes a encerrar, temporariamente, as suas portas – para as tais obras de restauro e modernização -, quando o ‘Etc. e Tal’, em inícios de 2018, lá se deslocou e registou as históricas imagens que se seguem, da autoria do Pedro N. Silva.

O momento que se vivia era de alguma tristeza e incerteza quanto ao futuro, isto tendo em conta tudo aquilo que, na altura, testemunhamos, junto de comerciantes e clientes, que se preparavam (na sua maioria) para verem os seus espaços comerciais serem transferidos para o ‘Mercado Temporário do Bolhão’, a poucos metros do local onde durante décadas trabalharam.

Já era bem visível, como a seguir podem comprovar, o estado de degradação em que se encontrava o local…

 

Pedro N. Silva

(fotos)

 

O ‘MTB’

E durante quatro anos (2018-2022) a maior parte dos comerciantes deslocalizou os seus postos de venda, e lojas, para o ‘Mercado Temporário do Bolhão’ – ‘MTB’, altura em que encerravam os portões do velho espaço.

A inauguração do ‘temporário’ contou mesmo com a presença do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa…

 HISTÓRIA *

As origens do Mercado do Bolhão, um dos edifícios mais emblemáticos da cidade, remontam a 1839, quando a Câmara do Porto decidiu construir uma ‘praça’ em terrenos adquiridos ao cabido. Neste local existia um extenso lameiro, atravessado por um regato que ali formava uma bolha de água, de que resultou o nome do mercado, ‘Bolhão’.

Alguns anos depois, esta praça foi melhorada com a construção de rampas de acesso e barracas de madeira no corredor central do mercado.

Mais tarde, no início do século XX, os dirigentes da cidade decidiram construir fora do burgo um novo mercado, de forma a assegurar o abastecimento de alimentos que permita a expansão da cidade, foi então que em 1910 surgiu um anteprojeto do arquiteto Casimiro Barbosa, que previa um edifício com duas alas, tendo a Rua de Sá da Bandeira como eixo central.

Contudo, este projeto foi abandonado por razões económicas, acabando por ser construído, em 1914, o atual edifício, num projeto desenhado pelo arquiteto Correia da Silva. Tratou-se de uma obra de vanguarda para a época, devido à utilização do betão armado em conjugação com estruturas metálicas, coberturas em madeira e cantaria de pedra granítica.

Ao longo da sua história, o mercado foi sofrendo algumas alterações, ocorrendo na década de 40 a construção do piso que divide o edifício, fazendo a ligação das entradas entre as ruas de Alexandre Braga e de Sá da Bandeira.

PROCESSOS…

 A 22 de abril de 2015, a Câmara do Porto apresentou o projeto do mercado do Bolhão depois de ter anunciado folga nas finanças para o fazer por conta própria, naquela que é quarta iniciativa para o requalificar. A Câmara do Porto anunciou, então, o investimento 20 milhões de euros no espaço.

Em janeiro de 2016, foi anunciado que o concurso público para a requalificação do mercado seria lançado até final de março do mesmo ano. Em julho, foi comunicado pela Câmara Municipal do Porto que as obras de reabilitação do Mercado do Bolhão iriam começar a 1 de agosto do mesmo ano, estimando-se, então, que as mesmas estivessem concluídas em 2019.

A 19 de dezembro de 2016, foi lançado o concurso público internacional para requalificar o mercado do Bolhão por um valor máximo de 25 milhões de euros.

O contrato de empreitada de restauro e modernização do Mercado do Bolhão a celebrar com a empresa municipal de Gestão de Obras Públicas teve o prazo de 720 dias e o critério de adjudicação seria o mais baixo preço.

A empreitada suscitou o interesse de 41 operadores económicos e registou a apresentação de 12 candidaturas. Da primeira fase foram selecionadas para uma segunda ronda oito empresas, entre 12 concorrentes.

A empreitada de restauro e modernização do Mercado do Bolhão foi adjudicada ao agrupamento Alberto Couto Alves S.A. e Lúcio da Silva Azevedo & Filhos S.A., por mais de 22 milhões de euros, tendo sido consignada oficialmente, a 15 de maio de 2018, prevendo-se um prazo de dois anos para a conclusão dos trabalhos.

A empreitada do túnel de acesso à cave do mercado foi adjudicada em meados de fevereiro de 2019 à empresa Teixeira Duarte, por cerca de 4,4 milhões de euros.

Em Dezembro de 2019, a Câmara do Porto anunciou que as obras de requalificação do Mercado cujo término estava previsto para maio de 2020, seriam prolongadas por mais um ano, devido à necessidade de alterar o método construtivo.

Em março de 2022, a Câmara do Porto anunciou que a reabertura do mercado aconteceria no final de junho de 2022, e que iria ter um total de 129 espaços, incluindo 81 bancas interiores, 10 restaurantes interiores e 38 lojas exteriores.

Em Junho de 2022, foi anunciado que o mercado do Bolhão reabrirá portas no dia 15 de setembro, depois de quatro anos de obras de requalificação.

CHEGADOS AO DIA…

… tão esperado da reabertura (15set22), deixamos, a si em especial, mais algumas (curiosas) informações sobre o Mercado do Bolhão.

Saiba, assim, que a fachada do mercado ocupa mais de oito mil metros quadrados, a cobertura tem mais de cinco mil e, durante a obra de reabilitação e adaptação, foi necessário escavar 30 mil metros cúbicos para construir a cave logística. Foram recuperados, dentro do possível, os azulejos originais e até algumas ideias que, com o tempo, foram surgindo nas cabeças das vendedoras, como os cortinados.

E, pronto, agora só falta mesmo visitar o ‘nosso’ Bolhão, tendo em conta os seguintes horários…

Já agora: Boa visita e boas compras…

 

 

 

(*) Wikipédia

  

15set22