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Livro de Estilo

Joaquim Castro

 

 

Ouvi num programa da Provedora do Ouvinte, da Antena1, que esta Estação Pública não tem um Livro de Estilo, o que me pareceu estranho, tendo em conta que a Estação tem programas destinados ao conhecimento da Língua Portuguesa.

Segundo o e-konomista, “Um bom jornalista – e qualquer outro profissional que necessite de produzir conteúdos escritos – sabe o quão exigente é o trabalho de produção e revisão textual. O estilo jornalístico é frequentemente caracterizado pela clareza e exatidão da linguagem, pela necessidade de compactar o máximo de informação no mínimo de espaço gráfico e por um conjunto de valores (facticidade, novidade, relevância, entre outros) …

Apesar de existirem livros de estilo de vários formatos, em regra cada documento inclui um conjunto de convenções para uniformizar a escrita, facilitar o trabalho dos jornalistas e promover o bom uso do português.

Desta forma, um Livro de Estilo apresenta princípios básicos e fundamentais para o cumprimento das diversas regras gramaticais e um conjunto de recomendações que pretendem eliminar alguns vícios e incorreções na linguagem.
Tratando-se de um instrumento fundamental nos órgãos de comunicação social, o Livro de Estilo é um auxiliar de consulta rápida, prático e que, obviamente, não substituiu um bom dicionário.

Serve, essencialmente, para facilitar o trabalho de jornalistas e de outros produtores de conteúdos escritos, como escritores freelancers e copywriters. Ao uniformizar a escrita, evita discrepâncias e disparidades nos inúmeros textos publicados por um determinado órgão de comunicação social. Esta é, porventura, a sua principal vantagem.

Gramáticas e dicionários nem sempre esclarecem algumas normas linguísticas ou certas especificidades do texto jornalístico, que podem ser clarificadas no Livro de Estilo: dúvidas sobre a ortografia, a acentuação, a pontuação, os tempos verbais, género e número dos nomes, questões sobre a apresentação e o aspeto gráfico dos textos, utilização de maiúsculas e minúsculas, siglas, acrónimos, topónimos, entre outras particularidades”.

Por exemplo, Paulo Portas, antigo vice-primeiro ministro, usou, num programa de comentário da TVI, a expressão “mídia”, em vez de “média”. Há muitos outros exemplos, especialmente, na expressão oral, onde um Livro de Estilo poderia impedir de ouvir expressões, como estas: “equipe”, em vez de “equipa”; “maquete”, em vez de “maqueta”; cabine”, em vez de “cabina”: “vitrine”, em vez de “vitrina”, e por aí fora.

PALAVRAS MAL PRONUNCIADAS

O programa do Governo para resolver o grave problema da habitação em Portugal, discutido e aprovado em Conselho de Ministros, no dia 16 de Fevereiro de 2023, proporcionou, entre políticos, jornalistas e outras pessoas, a alteração da palavra “inquilinos”, para “inclinos”. Acho que ainda não ouvi esta palavra ser pronunciada como deve ser. Antes pelo contrário, tenho ouvido diariamente, tratar “inquilinos”, “por inclinos”. Ou será “inquelinos”?

Por outro lado, ouvi na rádio, em meados de fevereiro de 2023, que um determinado compositor “interviu” num álbum musical. Este erro, muito comum, entre os falantes e escritores da Língua Portuguesa, já foi tratado nesta rubrica, anteriormente.

Ora, se o comentador tivesse dito que o compositor “interveio” no referido álbum, teria pronunciado correctamente, esta forma do verbo “intervir”. De facto, o verbo intervir pronuncia-se do mesmo jeito que o verbo vir: eu intervim, tu intervieste, ele interveio, nós interviemos, vós interviestes, eles intervieram.

EVACUAÇÃO

O presidente da Assembleia da República, Augusto Santos Silva, ordenou às forças de segurança presentes durante um plenário, para evacuar seis pessoas das galerias, ao que percebi, por estarem vestidas de negro, o que seria uma manifestação de protesto dessas pessoas, trajadas de negro. Mas, o que me chamou mais a atenção foi o facto de o Presidente ter mandado evacuar pessoas, em vez de as mandar retirar e evacuar esse espaço das galerias. O Dicionário Enciclopédico de Medicina de A. Céu Coutinho, 3.ª edição, 1980, diz o seguinte na entrada evacuação: [lat. evacuatio]. “Esvaziamento, como, por exemplo, o dos intestinos ”. E, ainda hoje, o médico pergunta ao doente se já evacuou o intestino, e não se já evacuou as fezes”.

Ou seja: no exemplo referido, é inadequado o uso de verbo evacuar (“esvaziar”) referindo-se a pessoas. Os lugares é  que são “esvaziados”, logo, “evacuados”. As pessoas, desses lugares ou situações que lhes causou algum perigo, são “retiradas»,  “deslocadas”, “desalojadas”, ou ´”transportadas” para… Não é a primeira vez que este termo é utilizado no Parlamento. Assunção Esteves, antiga presidente da Assembleia da República, em 31 de Maio de 2013, mandou evacuar a galeria reservada aos convidados dos partidos, na sequência de protestos e que estavam a proferir insultos e a cantar “Grândola Vila Morena”. Durante a Guerra do Ultramar, era comum chamar “evacuados” aos militares retirados da linha da frente.

VÍRGULAS

A utilização de vírgulas em textos continua a levantar muitas dúvidas a quem os escreve. Mas há outros casos, em que a vírgula é indevidamente utilizada, por exemplo, em numerações. Num debate da SIC Notícias, no qual participavam quatro pessoas, apareceu uma legenda, onde se lia “13,302 civis feridos”, como se fosse possível, nesta caso, exprimir pessoas em números inteiros e decimais. Provavelmente, quereriam escrever 13.302 civis feridos, mas, mesmo assim, continuaria errado, pois aqui não existe qualquer pontinho. Teria de ser “13 302 civis feridos”, sem pontinho, mas com espaço. Esse famoso pontinho já foi abolido há muitas décadas, para separar a casa dos milhares. Um ‘facebookiano’ publicou uma foto, indicando que a captura era das 13,30 horas. Ou seja, escrito assim, a hora da foto seria a das 13 horas e 18 minutos, dado que 0,30 de 60 minutos corresponde a 18 minutos (min). Depois, temos outros casos, como, por exemplo, escrever 22:00 horas, em vez de 22h. Ou, então, escrever 22”, em lugar de 22 segundos (s). As medidas de tempo são expressas em horas, minutos e segundos, fazendo parte dos chamados números complexos. Mesmo assim, se quisermos escrever 18h30, também estará certo se escrevermos 18,50 horas.

 

Nota: Por vezes, o autor também erra!

 

 

01mar23

 

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