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Todos os nomes

Ana Costa

 

Quando nasci os meus Pais terão decidido que me passaria a chamar Ana. Enquanto fui pequena, chamavam-me Ana Lu (Que saudades!), ou então, se por trás daquele chamamento estivesse um ralhete, vinha um Ana Luísa bem audível e bem pronunciado. Ao longo do tempo, fui sendo a Ana, noutras situações lá vinha acompanhado do Costa, mas fui crescendo com os dois, e com orgulho, devo dizer.

Quando me tornei professora, ganhei mais um nome, professora Ana, o que, de certa forma, me deixava bastante feliz, pois no fim de contas, chamavam-me aquilo que eu sempre quis ser.

Cada turma com que trabalho tem uma forma de estar e ser que lhe é muito própria e que traduz um pouco o ambiente particular que se vive numa sala de aula.

Uma vez tive um turma em que os meninos e meninas eram muito carinhosos, e numa aula, a determinada altura, começo a ouvir “Profissora… Profissora… Prufi…Pufi! Pufi?” E a partir daquele dia, apagou-se o registo escolar de professora e passei a ser a Pufi. E eu gostava! Achava fofo e carinhoso, da mesma forma como a Isabel me apelidou…  Fui Pufi durante anos e sabia-me sempre bem…

Até que alguém, um dia, achou que era confiança a mais e começou a espalhar a ideia de que chamar Pufi a uma Professora, não tinha jeito nenhum. Visto ter estado aqui em causa uma certa comichão na zona do cotovelo, vinda de alguém que queria assumir uma certa importância, o Pufi durou apenas com aquela última turma e a partir daí eu voltei a ser a professora Ana. Com pena minha, devo acrescentar, já que aquele nome era de tal forma mágico que até houve uma editora que lançou uns livros de fichas chamados Pufi! Mas enfim…

Como eu já tenho dito, cada turma é diferente da outra e por isso, ao longo desta minha experiência na educação, eu vou assumindo o meu papel de professora e vou sendo chamada pelos meninos e meninas pela forma como o coração pequenino deles sente.

Aqui há uns tempos, tive uma turma que a cada pergunta minha, me respondia no final da frase “Sim professora querida, linda e amorosa!” Ora, o que é que uma professora quer mais, do que receber elogios a toda a hora? E ainda por cima deste calibre! Mas muito mais do que elogios, aquilo era um código de brincadeira que funcionava entre nós, e que acabava por ser uma forma de divertimento e desbloqueador de tensão, tanto para eles, como para mim e que resultava! Quando acabou aquele quarto ano, tentei não brincar mais assim, não fossem aqueles elogios causarem também alguma urticária desnecessária em algum adulto com pouco entendimento sobre o que é isto de criar uma relação com crianças.

Para abreviar um pouco toda a história, este ano, ao iniciar o acompanhamento de novo grupo, tudo começou de forma muito objetiva e, portanto, comecei por ser a professora Ana que ia ensinar alguma coisa. Só que o tempo tem passado, os momentos juntos são muitos, as vivências e experiências também e, sem estes mais pequeninos terem conhecido os outros que foram pequenos comigo, começaram a usar nomes fofinhos para me chamar. Então, esta “perbessora” derrete-se toda e sente as palavras ditas de forma errada com o mesmo carinho com que as bocas pequeninas as dizem.

Ser “prevessora” continua a ser o sonho realizado da criança que fui, da criança que teve uma Senhora Professora Maria Adelina, mas que agora consegue ler sentimentos nas palavras das crianças. E na realidade é só isso que conta, o que eu e eles sentimos e a forma como as nossas relações vão crescendo, com tudo o que delas faz parte.

Bom, por breves momentos ocorreu-me que ser “pufissora” até não é muito mau, porque o meu colega de inglês é o “xixer” ou “t-shirt”, e já tive uma colega que era a xixa!

E nestas nossas relações, eu também arranjo formas queridas de chamar os meus alunos e sei que eles adoram, aliás até pedem que os chame assim…E eu gosto! Tal como gosto de ouvir o “pressora”, porque os meus ouvidos seletivos sentem carinho e apreço na forma como me tratam.

E apesar de eles dizerem sempre que esta “pressora” é a melhor do mundo, eu sei que o mundo de que eles falam é o deles, o meu, o nosso, porque nós na nossa sala, temos mesmo um mundo só nosso! E se há coisa em que tenho vaidade e orgulho, é de poder pertencer a estes pequenos mundos que vão sendo construídos ao longo do tempo, e a estas relações e ligações que vamos criando.

 

 

01abr23

      

 

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