Maximina Girão Ribeiro
Este monumento ao Viajante Profissional de Vendas encontra-se no Jardim de Moreda, espaço localizado no início da rua da Firmeza, junto a Santos Pousada, ou melhor, fica entre as ruas de Santos Pousada, Rudolfo de Araújo e da Firmeza.
Foi um local anteriormente conhecido por largo de S. Jerónimo, dado que a rua de Santos Pousada tinha exactamente essa designação mas, em tempos ainda mais recuados, o local era conhecido por Largo da Póvoa de Baixo, segundo nos indica Jorge Ricardo Pinto (pág. 74).
Quase em frente ao jardim, na rua de Santos Pousada, ergue-se o edifício, antigamente conhecido por Asilo das Raparigas Abandonadas, mais tarde denominado por Lar de Nossa Senhora do Livramento. Quando começou a ser construído, em 1887, estava destinado a albergar a escola Faria Guimarães, antecessora da actual Escola de Artes Decorativas de Soares dos Reis. Mas, em 1890, por uma decisão camarária deliberou-se que fosse aceite a cedência do terreno, oferecido pelo seu proprietário, Manuel Francisco Morêda, para ficar no uso público, a fim de ser ajardinado aquele largo, homenageando o donatário do espaço, morador no palacete, conhecido por palacete Morêda, com capela particular, situado na rua de Santos Pousada, n.º 297, há muito ocupado por um Centro de Saúde.
Manuel Francisco Morêda era natural de Melgaço, homem bastante conceituado, pois foi industrial, fabricante de aguardentes e dono de vários alambiques. Foi também político, chegando a ser vereador da Câmara.
Este pequeno jardim arborizado, praticamente coberto de relva, lembra para a posteridade o homem que o doou para fruição do público.
É neste espaço que se encontra um pequeno e curioso monumento, feito a partir de vários materiais: bronze, granito, mármore. Nele se destaca uma mala de viagem em bronze, aberta por uma mão, em mármore. Só uma mão? Será que a outra existiu e já “desapareceu”? Fica-nos esta enorme dúvida, pois era suposto que fossem duas mãos a abrirem a mala…
Este monumento que lembra o Viajante Profissional de Vendas, o vulgarmente chamado “caixeiro viajante” tem, na parte frontal, sobre uma pedra de mármore, uma placa de bronze ovalada que identifica o Sindicato dos Técnicos de Vendas, cuja fundação remonta a 1917, como se pode ler por baixo da placa.
Colocada no chão, encontra-se uma outra placa, granítica, onde se lê o seguinte:
“Monumento ao Viajante Profissional de Vendas
Inaugurado pelo Presidente da C.M.P.
Dr. Fernando Gomes
Porto, 25 de Março de 1995”.
Dentro da mala destaca-se uma esfera armilar, símbolo do mundo que os navegadores portugueses descobriram, nos séculos XV e XVI e os povos com quem trocaram conhecimentos e comércio.
Da mesma forma, o Viajante Profissional de Vendas pode percorrer longas distâncias na sua missão de superar desafios, numa permanente interação com os seus clientes.
Um outro monumento que hoje tratamos é dedicado a José Moreira da Silva, situado num pequeno jardim que fica entre a Rua da Alegria e a Rua D. João IV, junto à Rampa da Escola Normal, edifício que hoje alberga a Escola Superior de Música e Artes do Espetáculo. Este monumento ostenta uma cabeça, em bronze, representando José Moreira da Silva, obra da autoria do escultor Salvador Barata Feyo.
Contudo, a envolvência desta cabeça, parece-me um pouco desconcertante. Embora não seja meu hábito tecer considerações sobre as obras dos artistas que as idealizaram, no entanto, deixo uma pequena reflexão sobre a escultura (cabeça) do referido homenageado, pois esta quase não se vê, tal é o peso e a força do elemento que a envolve. Quem a observa fica com a sensação que está escondida, presa pelo semi-círculo marmóreo, avermelhado, que a acolhe. É como se estivesse perdida num espaço que não a deixa “viver”…
José Moreira da Silva foi um construtor civil e co-fundador da Cooperativa dos Pedreiros Portuenses. O seu filho David casou com Maria José Marques da Silva (1914-1994), filha do conceituado arquitecto José Marques da Silva que, na época, dirigia a Escola de Belas Artes do Porto, onde os dois jovens se formaram em arquitectura.
Do lado oposto a este monumento, mas um pouco afastado, encontra-se uma pequena fonte, encimada por um belo baixo-relevo, representando uma graciosa figura de mulher, bem delineada no granito que a compõe.
Desejamos uma agradável visita a estes dois monumentos aqui referidos.
Obs – Por vontade da autora e, de acordo com o ponto 5 do Estatuto Editorial do “Etc. e Tal jornal”, o texto inserto nesta rubrica foi escrito de acordo com a antiga ortografia portuguesa.
Bibliografia Consultada
FERREIRA, Manuel do Carmo (2017), “Prontuário de Toponímia Portuense, Edições Afrontamento, Porto.
PINTO, Jorge Ricardo (2011) “Bonfim. Território de Memórias e Destinos”, Edição Junta de Freguesia do Bonfim, Porto.
01ago23
É curioso que nunca tinha ouvido falar no monumento de homenagem ao viajante. Actividade que eu próprio exerci…
A estátua que homenagei o pedreiro, essa sim é bem minha conhecida.