Joaquim Castro
A Teresinha é uma amiga do Facebook, do Minho, sem papas na língua.
Desta vez, aproximando-se a chegada dos nossos emigrantes, mormente de França, ela diz que não quer ouvir os amigos a falar em português macarrónico. Entenda-se, em ‘françoguês’. Por isso, escreveu na sua página do Facebook:
Amigos e amigas emigrantes, cá vos espero.
Mas, aviso-vos já! Livrem-se de falar com um português macarrónico, esquecendo que são portugueses.
Alguns, ainda há pouco tempo saíram do país e já querem armar-se em ‘avecs’.
E não falam nem português nem francês ou inglês ou alemão ou até espanhol, falam uma macarronada, que Deus me livre. Lembrem-se, são Portugueses e devem respeitar a Língua Mãe!
Tenho dito!
TERESINHA
24.07.23
DIZER QUE…
Ouço frequentemente, políticos, jornalistas, comentadores e várias outras figuras públicas, utilizar a expressão, no início de qualquer discurso “dizer que”, “observar que”, “acrescentar que”, sem qualquer continuação na sintaxe que permita concluir que a utilização do verbo no infinitivo seja um sujeito.
Exemplo: “Boa noite a todos os presentes. Em primeiro lugar, “dizer que”, estamos a fazer todos os esforços necessários para contenção desta pandemia. “Acrescentar que”, apresentaremos ainda hoje um conjunto de medidas de auxílio à economia. “Observar que”, estaremos atentos ao aumento de casos”.
Mas este tipo de expressões representa um erro grosseiro, que, ainda por cima, se está a generalizar, para prejuízo da língua portuguesa. Vejamos um exemplo, acima referido: “Em primeiro lugar, dizer que estamos a fazer todos os esforços necessários para contenção desta pandemia”.
Ora, esta construção será, a meu ver, uma estrutura truncada que resulta da omissão de uma oração subordinante, omitida:
“Em primeiro lugar, gostaria de dizer que estamos a fazer todos os esforços necessários para contenção desta pandemia”.
Deste modo, devemos considerar que se trata de uma construção que é característica de contextos informais de uso da língua, sobretudo na modalidade oral informal. Ou seja, é um modismo que deve ser evitado. (consultei Ciberdúvidas da Língua Portuguesa).
HÁ MESES ATRÁS
Nos últimos tempos, muitos dos nossos políticos – não são a única classe -, intensificaram o uso de expressões, como “há dois meses atrás”. Um dos maiores consumidores deste erro grosseiro de português é o comentador da SIC, Luís Marques Mendes.
No geral, podemos ouvir, por exemplo, “entrámos para o euro há vinte anos atrás”. Contudo, expressões do género “há anos atrás” e “há muito tempo atrás” estão incorrectas. Nem podemos até considerar que há uma redundância aceitável. É que nestas frases, o verbo haver significa existir, usando-se para indicar um período que decorreu desde, que se passou uma acção concreta até ao momento em que a frase é proferida.
Ou seja, o verbo haver no presente do indicativo “há” refere-se ao tempo presente, indica o que acontece no presente (e não atrás), o que acontece ou o que existe no momento em que se está a falar: no caso da expressão “há vinte anos”, tal significa que no momento em que a frase está a ser proferida (hoje) existem vinte anos, completaram-se vinte anos desde que algo aconteceu.
Alguns exemplos, que estão conforme as normas gramaticais: “há cinco anos que não o vejo”, “passei por ele há uns dois meses”, “a árvore caiu há quinze dias”. Como se vê, não necessita do “atrás” para dar sentido às referidas frases. Assim, a frase correcta é “entrámos para o euro há vinte anos”, e não “entrámos para o euro há vinte anos atrás»: quando se utiliza o verbo haver com expressões de tempo, não deverá incluir-se o advérbio atrás.
ESTÓRIA E HISTÓRIA
Nunca entendi muito bem que se use o termo estória, em vez de história, seja qual for o tipo de narrativa. Recentemente, um encenador de Ovar apresentou uma peça intitulada ‘Sabão potassa – Estórias D’alma Lavada’. O tema refere-se a uma das três primeiras mulheres a presidir a uma Câmara Municipal, do distrito de Aveiro.
É justamente o título desta peça que me leva a questionar o termo ”estória”, em vez de “história”. Parti para a investigação. E concluí que história e estória têm a sua origem na palavra grega historía. A forma estória também tem influência da palavra em inglês story. Estória é uma forma antiga da palavra história, que deveria ter caído em desuso.
Tal não aconteceu e esta palavra é utilizada atualmente não como sinónimo de história, mas para distinguir a história de factos reais das histórias das fábulas e dos contos infantis. Segundo o Novo Acordo Ortográfico, que entrou em vigor em 1990, devem ser utilizadas letras iniciais minúsculas em nomes que indicam domínios do saber, cursos e disciplinas, podendo ser opcional o uso da letra maiúscula.
Assim, a palavra história, sendo uma disciplina e ciência, poderá ser escrita com letra inicial maiúscula ou minúscula. Sendo sinônimo de conto e narração, deverá ser escrita com minúscula.
Nota: Por vezes, o autor também erra!
01ago23