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VEM AÍ A FEIRA DO LIVRO QUE “NÃO É UM MERCADO DE TÍTULOS A PREÇO DE SALDO’; QUE É “POPULAR À IMAGEM DO PORTO”, E QUE EVOCARÁ A MEMÓRIA E AS PALAVRAS DE… MANUEL ANTÓNIO PINA!

De 25 de agosto até 10 de setembro de 2023, a Feira do Livro do Porto regressará aos Jardins do Palácio de Cristal. E regressará dez anos depois da Câmara Municipal ter assumido a sua organização, e isto “sem acusar penosas dores de crescimento…”, como fez questão de frisar Rui Moreira, hoje (31jul23) ao final da manhã, no Jardim das Cidades Geminadas (ao Palácio), na cerimónia de apresentação daquela que é, para ele, a “‘reentrê’ cultural da cidade”, e que homenageará a memória e as palavras do jornalista, cronista e escritor Manuel António Pina.

 

José Gonçalves         Ursula Zangger

(texto)                       (fotos)

 

Numa manhã convidativa a dar umas ‘passeatas’ pelos jardins do Palácio de Cristal – aliás, como o estavam a fazer dezenas de pessoas, entre as quais muitas crianças e jovens -, o Jardim das Cidades Geminadas, a ‘árvores-meias’ com a Biblioteca Municipal Almeida Garrett, foi o palco escolhido para a apresentação da edição de 2023 da Feira do Livro do Porto, onde, além de Rui Moreira, estiveram também Rui Lage – comissário do programa de homenagem a Manuel António Pina – e João Gesta – coordenador da Feira deste ano, isto, entre vereadores da Câmara do Porto e outros convidados.

Manuel António Pina – foto de Ursula Zangger tirada, em 2008, na Escola Secundária de Valongo

E para ter uma ideia concreta daquela que será a edição deste ano da Feira do Livro do Porto, que – nunca é demais repetir – homenageará/evocará Manuel António Pina, nada melhor que as palavras do presidente da autarquia na cerimónia de apresentação do evento…

RUI MOREIRA: “A FEIRA DO LIVRO DO PORTO NÃO ACUSA PENOSAS DORES DE CRESCIMENTO. NÃO É A MAIOR, NEM PRETENDE SER…”

“O regresso da Feira do Livro é, para mim, e já o tenho dito por mais do que uma vez, um dos momentos mais felizes do ano na nossa cidade. E, estou certo, que, à sua décima edição, aqui, nos Jardins do Palácio de Cristal, nos moldes atuais, a Feira do Livro já assegurou também o seu lugar nos hábitos e no coração de todos os portuenses”.

Rui Moreira começou, assim, por dar marca histórica à Feira do Livro nos moldes atuais, ou seja, desde que a Câmara Municipal do Porto (CMP) se assumiu como organizadora do evento…

“Há cerca de dez anos, quando tomamos em nossas mãos a iniciativa de criar uma nova Feira do Livro, o Porto pedia um verdadeiro festival literário, um evento aberto à participação de todos e com as palavras e os livros no centro de tudo. Uma Feira para acolher os leitores de sempre, e para criar novos leitores. Uma Feira que convocasse outras artes; outras linguagens, um espaço de comunhão para conversa, debate e pensamento.

Releio as palavras que, por ocasião dessa Feira do Livro de 2014, escreveu o meu querido amigo Paulo Cunha e Silva: ‘no Porto, guiamo-nos, principalmente, por gestos que vão ao encontro de uma particular forma de estar e sentir: sempre independente, aberta, contemporânea. Ou seja, popular e cosmopolita. Assim é o Porto!’”.

ESTÁ CONFIRMADA A PRESENÇA DE MAIS DE UMA CENTENA DE LIVREIROS E SELOS EDITORIAIS

Para o presidente da CMP, “todos os anos, a Feira vem atraindo uma massa notável de leitores. Todos os anos, os livreiros, os alfarrabistas e as editoras, oriundos de várias regiões do país, não perdem a oportunidade de participar desta grande festa.

Para 2023, está confirmada, de resto, a presença de mais de uma centena de livreiros e selos editoriais, de maior ou menor expressão, generalistas ou de especialidade. E, também, todos os anos a firme aposta numa programação cultural e artística eclética vem sendo renovada e vivificada. Uma Feira do Livro não é um mercado de títulos a preço de saldo.

É certo que a cultura tem ritmos muito próprios. Mas, creio não incorrer em nenhuma espécie de exagero quando afirmo que o início da Feira do Livro representa como que uma ‘reentrê’ cultural na nossa cidade”.

Rui Moreira destaca, para a edição do presente ano da Feira do Livro, a proposta de “uma programação rica em muitos pontos de interesse e com uma assinalável diversidade temática que vem atraindo, cada vez mais, o interesse do público. Não surpreende, por isso, que respondam novamente ao nosso repto destacadas figuras nacionais de gerações e universos distintos da Literatura e da Cultura, como João Luís Barreto Guimarães, António Guerreiro, Ana Deus, Germano Silva, Rosa Alice Branco, Sónia Baptista ou Álvaro Magalhães”.

O LENTO E INCENDIÁRIO CAMINHO DO HUMOR’…

Ainda de acordo com a programação, Rui Moreira referiu que “para além das habituais conversas com escritores, as apresentações de livros e as leituras encenadas, a Feira do Livro volta a oferecer sessões de cinema e de ‘spoken word’, reforçando, igualmente, a programação performativa e a oferta de oficinas para as famílias e para o público infantojuvenil.

Teremos, igualmente, oficinas de ilustração e laboratórios de escrita criativa, para além de uma novidade: a programação ‘O Lento e Incendiário Caminho do Humor’, uma merecida vénia ao refinado humor de Manuel António Pina, autor que, como já é do conhecimento público, é a figura homenageada desta edição da Feira do Livro”.

“Por outro lado”, continua Rui Moreira, “a música mantém o seu lugar na agenda da Feira, seja através das ‘matinés’ ao relento da associação portuense ‘Porto-Jazz’, ou das onze bandas e projetos que, ao cair da noite, vão passar pela Concha Acústica dos Jardins e vão privilegiar a relação da música com a palavra dita, ou dos concertos a solo no Auditório da Biblioteca Municipal Almeida Garrett”.

UMA FEIRA DO LIVRO POPULAR E COSMOPOLITA, À IMAGEM DO PORTO, REPRESENTA UM GRANDE DESAFIO

A importância da Feira do Livro do Porto na vida da cidade esteve também em destaque na intervenção de Rui Moreira…

“Uma Feira do Livro popular e cosmopolita, à imagem do Porto, representa um grande desafio, um equilíbrio sempre difícil de alcançar. Mas, é também um dos segredos do inegável sucesso da Feira do Livro e do seu lugar cativo no nosso imaginário. O Porto tem agora um evento cultural que promove, simultaneamente, a divulgação editorial, o debate de ideias em torno da Literatura, da Cultura e dos temas do mercado livreiro, a valorização da memória das Letras portuenses, sem deixar de acolher, ano após ano, milhares de pessoas, de todas as gerações e de todas as origens, e de estimular a paixão pela leitura”.

“Creio, aliás, que a Feira do Livro do Porto não padece de alguns sintomas que, por vezes, afetam eventos deste género. Não acusa penosas dores de crescimento. Não é a maior, nem pretende ser. Não nos vence pelo cansaço, nem pelo ruído – seduz-nos. Replica, de certa forma, a relação que mantemos com os nossos melhores livros. ‘O que o livro diz é não dito… como uma paisagem entrando pela janela de um quarto vazio’, escreveu Manuel António Pina”. A Feira do Livro de 2023 não será diferente!”

RELEMBRAR MANUEL ANTÓNIO PINA IMPLICA INTERPRETAR A FIGURA E A OBRA EM TODAS AS SUAS DIMENSÕES

Depois de felicitar João Gesta, programador literário e coordenador da edição deste ano da Feira do Livro “ e de todos os que a tornam possível, pela riqueza e pela heterogeneidade das suas propostas”, e ainda de saudar Rui Lage – o Comissário da Homenagem a Manuel António Pina”, Rui Moreira salientou que “relembrar Manuel António Pina implica interpretar a figura e a obra em todas as suas dimensões. O jovem da Beira Alta que no Porto se fez jornalista entre ‘Ovídio e o Jornal de Notícias’, para usar de um verso seu. O cronista saudoso da literatura, de olhar sensível e de humor de fino recorte. O leitor e o cinéfilo. O dramaturgo e criador de alguma da mais luminosa literatura infantojuvenil em português – designação que ele, aliás, muito a seu jeito, rejeitava. O Prémio Camões 2011, autor de ‘uma poesia que não só não se arruma, como serve para desarrumar’, como, tão, certeiramente, a descreveu o seu biógrafo, amigo e cúmplice Álvaro Magalhães”.

OS JARDINS SERÃO TAMBÉM A SUA CASA, TAL COMO SEMPRE O FOI A FEIRA DO LIVRO

E à espera de Manuel António Pina encontra-se uma tília, mais uma das tílias reservadas a vultos das Letras portuguesas, como enfatizou, para terminar o seu discurso, o presidente da Câmara do Porto…

“Ao longo de todas estas edições, temos celebrado a vida e a obra de vultos das nossas Letras, desde Vasco Graça Moura a Ana Luísa Amaral, com a atribuição simbólica de uma tília nos Jardins do Palácio de Cristal. Do mesmo modo, atribuiremos, este ano, uma tília à memória e às palavras de Manuel António Pina. E os Jardins serão também a sua casa, tal como sempre o foi a Feira do Livro. Termino, por isso, retomando estes seus veros:

regresso devagar a tua casa,

compro  um livro, entro

no amor como em casa

 

JOÃO GESTA: “A PROGRAMAÇÃO A OFERECER ESTREITARÁ, AINDA MAIS, A RELAÇÃO DA CIDADE COM O LIVRO E COM A LEITURA”

Para João Gesta, responsável pela programação literária e coordenação da edição deste ano da Feira do Livro do Porto, este será “um festival literário fecundo, construído em torno da palavra, essa potência invencível”, destacando-se uma “programação rica, diversificada, multidisciplinar e inclusiva”.

João Gesta realçou também a presença no “festival” de diversas personalidades da Cultura “de universos e gerações distintas”, tais como “Ricardo Araújo Pereira, Germano Silva, Álvaro Magalhães, João Botelho, Shahd Wadi, Xullaji, Afonso Cruz, Ana Deus, João Luís Barreto Guimarães, Ana Zanatti ou A Garota Não”.

Para o coordenador da Feira do Livro, a programação a oferecer este ano “estreitará, ainda mais, a relação da cidade com o livro e com a leitura”.

“Preferimos sempre a modernidade às modas, a liberdade à libertinagem, o clamor ao silêncio”, o importante, em seu entender, é “cativar um público cada vez mais jovem, que parece começar a acreditar que a poesia é uma linguagem libertadora e parte integrante da vida”.

RUI LAGE: “A ELE, PINA, E A NÓS. ALGO MENOS QUE UMA HOMENAGEM E ALGO MAIS QUE UMA HOMENAGEM…”

Rui Lage, comissário da homenagem a Manuel António Pina, referiu sobre o homenageado – que apesar de ter nascido em Sabugal, a 18 de novembro de 1943, considerava ter-se “nascido a si” no Porto -, que a sua obra “é uma das obras cimeiras da literatura portuguesa da segunda metade do século XX”.

Há, para Lage, “muitos Pinas em Pina”, e toda a “marca perene” que terá deixado “em muitas gerações de portuenses”, através das “crónicas publicadas no ‘Jornal de Notícias’ e no acervo teatro do teatro Pé de Vento”, e, outrossim, “nas letras de canções para o Bando dos Gambozinos”.

Foto: pesquisa web

Da programação de homenagem a Manuel António Pina faz parte – e, agora, recorrendo ao ‘Porto.’ por falha técnica do gravador de quem vos escreve… coisas que acontecem– “a exposição temporária intitulada ‘Pina Germano’, que inaugura no dia de abertura (25ago23), no Gabinete Gráfico, e reúne memórias, epístolas, fotografias e outros documentos, apresentando-se como a “grande história de amizade, amor e correspondência portuense dos nossos dias: a história que ligou (e liga ainda) o poeta e jornalista Manuel António Pina ao também jornalista e historiador local, Germano Silva”.

Tendo em conta que o homenageado “não gostava de… homenagens”, Rui Lage considera que a edição deste ano da Feira do Livro será “uma evocação”. “Uma evocação da pessoa e da obra. Da memória da pessoa. Não uma cerimónia, como algo que não lhe pertencesse. A ele, Pina, e a nós. Algo menos que uma homenagem e algo mais que uma homenagem”.

E, assim, terminou digamos que a ‘primeira fase’ da edição de 2023 da Feira do Livro do Porto, a qual o nosso jornal acompanhará a par e passo.

 

‘APANHADOS’

 

E tudo, hoje, se passou num jardim de jardins da liberdade… animal…

…para encanto de pequenos e graúdos, os tais que daqui a poucas semanas serão, por certo, visitantes de mais uma edição do Festival do Livro da cidade do Porto.

 

Todos os detalhes da programação da Feira do Livro do Porto de 2023 poderão ser, entretanto, consultados (a clicar) na página do evento.

 

31jul23

 

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