Uma viagem no comboio ‘Vouguinha’ por entre o serpentear da Linha do Vouga que carateriza esta via, que há muito aguarda resultados concretos dos investimentos, entretanto reforçados significativamente pelo anunciado montante de cerca de 120 milhões de euros, segundo a informação disponibilizada no arranque do ano 2023 pelo Departamento de Mobilidade e Transportes da Infraestruturas de Portugal (IP).
Viagem que permitiu compreender algumas preocupações dos utentes como o Movimento Cívico pela Linha do Vouga (MCLV), que já algum tempo reclama mais celeridade na realização dos projetos e das fases prevista para esta obra de reabilitação, ainda que, com 2030 como prazo previsto para tais investimentos, que incluem também a componente histórica desta Linha.
José Lopes
(texto e fotos)
Ultrapassada a difícil fase em que se temeu a viabilidade, preservação e investimentos na única ligação ferroviária nacional feita em via estreita. Na Linha do Vouga, em que foram investidos ao longo da última década cerca de 16 milhões de euros em diferentes áreas fundamentais como a sua valorização e segurança ferroviária, para resgatar o Comboio do Vouga do estado de decadência a que foi deixado durante várias décadas de desinvestimento.
O ‘Vouguinha’ ainda continua a circular ao lento ritmo da concretização dos projetos de requalificação anunciados para diferentes fases, que podemos observar recentemente numa viagem entre São João da Madeira, em que está formada a Comissão de Acompanhamento, e a Estação Espinho-Vouga, em estado de abandono e ruinas, à espera de um novo projeto para a sua ligação direta à Estação dos Caminhos de Ferro de Espinho.
Com a renovação dos carris e respetivas travessas nesta linha única a darem sinais de mais estabilidade e segurança à circulação dos comboios, nomeadamente entre Espinho e Oliveira de Azeméis, na sequência das obras nos três principais troços da Linha do Vouga, como são: Aveiro – Águeda, Espinho – Santa Maria da Feira, e Oliveira de Azeméis – Sernada do Vouga.
As obras previstas até 2025 nestes troços, que incluem a melhoria das estações e apeadeiros assim como o tratamento de taludes, têm naturalmente ainda muitas empreitadas a executar para tornar este meio de transporte verdadeiramente atrativo e alternativo ao automóvel, como se pode observar ao longo do percurso, que ganha mais vida na época balnear, sem descurar a importância desta via para zonas industriais na região.
No âmbito dos investimentos em curso, a maior fatia, cerca de 75 milhões de euros, destinam-se à intervenção entre Espinho e Oliveira de Azeméis, em que são visíveis as obras de recuperação e requalificação das Estações, como as que vimos pelas janelas do comboio durante a viagem, desde logo na partida em São João da Madeira, com uma empreitada na antiga Estação ainda por concluir, tal como na da Vila da Feira (Santa Maria da Feira), sujeita a obras de construção com novos elementos no projeto para uma Estação que esteve demasiados anos abandonada e degradada.
Mais à frente, com sucessivas acentuadas curvas à direita e à esquerda e o inevitável ruido do aperto de ferro contra ferro, surgiu numa das raras retas a Estação de São João de Ver, cujo branco das paredes, fazia destacar este edifício da CP na Linha do Vouga dos que o antecedem envolvidos em estaleiros de obras. Sem sinais de obras ainda vimos a Estação de Rio Meão, em que é realçado na sua arquitetura granítica as marcas de abandono.
A viagem chegou ao fim na Estação Espinho – Vouga, um cenário verdadeiramente desolador e testemunho do destino de ostracização que chegou a ameaçar o ‘Vouguinha’ e a sua história indiscutivelmente ligada ao desenvolvimento cultural, económico e social da região do Vouga. Uma via ferroviária que vai também sendo sujeita a atrasos nos prazos dos projetos, quando já em 2023 ainda aguardava autorização de encargos plurianuais desde junho de 2021 por parte do Ministério das Finanças.
Este fim de viagem em Espinho, a cerca de 500 metros da Estação da CP de Espinho, na Linha do Norte, obriga os passageiros a percorrerem a pé, esteja sol ou chuva, independentemente da mobilidade de quem usa este transporte. Uma dificuldade que a IP se propõe reverter (ainda que em fase de estudo) com a solução de uma ligação tipo Metro de Superfície, da Linha do Vouga entre a Estação Espinho – Vouga até à Estação da CP de Espinho na Linha do Norte, enterrada em 2005, altura em que a ligação entre a Linha do Norte e a Linha do Vouga foi desarticulada, remetendo-se o ‘Vouguinha’ a um cenário bem longe e desamparado do mínimo de condições para os passageiros.
Enquanto são estudadas soluções por parte da IP que venham a corrigir a atual dificuldade na ligação entre linhas, que valorizem e dignifiquem a história e a efetiva requalificação da Linha do Vouga. Os planos de investimentos nesta Linha, visam ainda, segundo a IP, “numa segunda fase”, estudar a melhoria da “velocidade média”, de forma a passar dos atuais “36 para os 52 Km/h”, bem como a “colocação de catenária com tensão de 750 volts em corrente contínua – a mesma utilizada para as composições do Metro do Porto”. São igualmente objetivos destes planos “a automatização de 70 passagens de nível e a respetiva integração no sistema de sinalização automático”.
Reafirmando o título desta peça, sobre ‘ritmo da concretização dos projetos de requalificação’ do ’Vouguinha’, recorda-se também a declaração do MCLV assumida no início deste ano, em que afirmava que, a Linha do Vouga, depois do visível envolvimento da sociedade e de uma região na sua defesa, “tem perdido bastante fulgor”, considerando até que são “poucas as noticias divulgadas na imprensa”.
Por fim, fazendo referencia ao período de discussão pública do Plano Ferroviário Nacional que terminou em fevereiro, este movimento ainda concluiu que, “parece pairar no ar o sentimento de que já pouca gente se lembra de que urge uma rápida modernização desta via-férrea”. Uma inquietação que certamente todos os utentes desejam que o tempo e a concretização dos projetos em obra e em estudo nas suas diferentes fases, se dissipe.
02ago23