(Reposição)
“Isto é insuportável! É uma vergonha!”. Palavras de quem mora numa das artérias mais movimentadas da cidade do Porto e uma referência de excelência no itinerário da prostituição feminina de rua: “Ferreira Cardoso”. Palavras que espelham, outrossim, a revolta de quem reside na área. “Elas, algumas, muito jovens, só não se despem em público porque parece mal, mas mesmo vestidas, estão despidas até às orelhas. Estão nas esquinas, deambulam, errantes, pela rua e, mesmo com a crise, não lhes faltam clientes… dos mais atrevidos que se possa imaginar “.
A moradora, que não quis identificar-se por motivos de segurança, refere que nada tem contra a “prostituição legalizada”, mas sim contra “a falta de pudor e de vergonha” que pela sua zona residencial “se vai assistindo, de forma crescente, nos últimos tempos”. Aliás, “as jovens e senhoras que cá residem – e isso é o mais grave problema! – são, muitas vezes, assediadas pelos muitos “motoristas” que por aqui param as suas viaturas. É uma pouca-vergonha! Não estamos seguras! Eu tenho marido, tenho filhas, e não me sinto bem com este trânsito de proxenetas e prostitutas. Por estas e por outras é que muita gente não quer morar nesta rua”.
Bonfim: “centro” da prostituição feminina de rua no Porto
A “Ferreira Cardoso” faz parte de um mapa de prostituição feminina de rua muito conhecido a nível nacional. Aliás, a freguesia onde a mesma está inserida (Bonfim) foi, desde sempre, um polo de atração para esse tipo de “negócio”, já que o mesmo não se confina à “Ferreira Cardoso”, mas, num raio, aproximadamente, de 400 metros, a muitos outros locais, apoiados por uma séria de pensões bem conhecidas no “ramo”.
Há poucos anos, era a rua Santos Pousada (também na freguesia do Bonfim) o centro nevrálgico da atividade. Com a “limpeza” da artéria, as “meninas” tiveram de encontrar outros locais de atividade. Chamam-lhe “poisos”! “Poisos” que cresceram como cogumelos, pelo menos, na última década.
“Aqui na rua, há seis sete anos, andavam cinco ou seis mulheres. Hoje são cerca de quinze na “hora de ponta”. Põem-se ali expostas junto à Caixa Geral de Depósitos, andam pelo Largo Soares dos Reis (junto ao cemitério do Prado do Repouso) e, mesmo durante a tarde – e já não só à noite como antigamente – exibem-se até perante os catraios que por aí passam vindos das escolas, como se nada fosse. Devia haver maior recato!”. Palavras, uma vez mais da moradora que diz representar a revolta de muitas mais a residir na área.
Jardim de S. Lázaro (Porto) é “centro nevrálgico” da “prostituição badalhoca”!
Mas, como atrás se referiu, não é só a Rua de Ferreira Cardoso o centro de prostituição de rua feminina na freguesia do Bonfim e dos maiores da cidade do Porto. Ultimamente, e (“alegadamente”) devido à crise, são cada vez mais as mulheres a prostituírem-se, “invadindo” as ruas de Coelho Neto, Morgado de Mateus, e esquina de “Conde Ferreira” com a “Duque de Saldanha”, assim como o conhecido Jardim de S. Lázaro.
Ora, é, precisamente, no Jardim de S. Lázaro que certos casos acontecem “com gravidade”, como nos relatam alguns leitores.
“Como sabe, estão aqui, todos os dias, muitos homens – a maioria dia de meia-idade – jogar cartas. São às dezenas! Enquanto eles jogam cartas e outros se sentam nos bancos do jardim, há sempre uma meia dúzia de mulheres que se expõe declaradamente para sexo, isto à luz do dia, e com crianças a brincar no jardim. Se alguns vão para pensões, isso é com eles, mas outros – isso já vi-, ao final da tarde, desenvolvem “atividade” em pleno jardim. Isto é uma pouca-vergonha! O Jardim é o centro da prostituição badalhoca!”. Eis, o relato de uma leitora devidamente identificada.
Mas, eles – os relatos – não ficam por aqui.
“Eu moro perto do jardim. Ia por lá a passar e uma mulher expôs-se, sem cuecas, para mim. O que ela me fez, poderia ter feito a qualquer um… até um catraio!” . Palavras do senhor “J”.
“Isto foi invadido por “pequenas” que só não andam nuas na rua porque parece mal!
“N” tem 50 anos. É prostituta. Trabalha numa das ruas anteriormente referidas. Diz respeitar os vizinhos, porque os vizinhos já a conhecem e sabem que ela os respeita, concordando com eles quanto ao facto de, ultimamente, se ter instalou o “pandemónio”… na zona.
“Isto da crise tem dado cabo de tudo! Estou aqui há mais de dez anos e nunca tive problemas com a vizinhança, aliás, tenho até pessoas que, nas alturas mais difíceis, me ajudam. Agora, isto está uma desgraça! Ninguém respeita ninguém! Tive sempre os meus clientes, as minhas colegas os delas, nunca houve problemas, mas hoje em dia, e devido a todas querem dinheiro, uns levam um preço “assim” e outras um preço “assado”! É claro que depois há problemas!”
E “N” exemplifica. “Há cerca de um ano e meio isto foi invadido por pequenas que só não andam nuas porque parece mal. Não têm respeito por quem passa… aliciam qualquer homem! Eu nunca andei nua! Nunca mostrei o rabo às pessoas! Sei respeitá-las! Quem quiser sair comigo sai, quem não quiser fica no passeio! O problema é que essas pequenas que por aí agora param, necessitam de dinheiro de um dia para o outro e, assim, levam a “coisa” ao desbarato… depois isso dá merda!”
E o que quer dizer isso de “desbarato”. É fácil: se, normalmente, a “pensão completa” se cifra nos 25 euros, as tais meninas recém-chegadas levam a mesma “pensão” por 15 ou até mesmo 10 euros. Concorrência desleal, dizem as mais antigas!
“Como já te disse, estou aqui há muitos anos e nunca tive problemas com a vizinhança. Já se sabe que ao princípio foi difícil, mas vim para este trabalho porque foi a primeira das alternativas que tive para alimentar quem tinha que alimentar. Além de respeitar os vizinhos tive sempre que considerar as minhas colegas mais antigas, algumas delas ainda andam por aí, e nunca tive complicações… sempre nos soubemos entender. Agora, com estas novas… não!”
“Sou uma mulher da Rua e a Rua gosta de mim!”
“N” tem estudos – “não sou uma borra-botas!” – , mesmo não apresentando curriculum sabe-se que sabe falar. “E tanto sei falar” – diz – “que muitas vezes fui com gente para o quarto e em vez do ato estivemos a conversar… a desabafar. Eles queriam desabafar! Nós também temos esse papel de parapsicólogo. E a verdade, é que eles saiam mais satisfeitos do que se tivessem praticado o que quer que fosse. Agora, não! Não há essa atenção! É tudo à rapidinha e venha cá o meu, e o resto são cantigas!”
“Nesta rua”, continua “N”, “nunca fui maltratada, como também nunca maltratei ninguém. Sou, assumidamente uma mulher da Rua e que a Rua gosta de mim. Não sou espampanante, não me exibo… trabalho. Sou trabalhadora sexual! Não sou prostituta! Sou trabalhadora do sexo e como tal têm de me respeitar! Porque muitas criticam-nos por andarmos na rua, mas essas, em casa, sabe Deus com quantos amigos dos amigos do marido dormem na cama à troca de cinco cêntimos ou à espera de promoções no emprego. Essas sim são umas prostitutas, para não dizer “putas”, de baixo nível!”
A “N”, como outras “enes”, continua a receber apoio de instituições que trabalham na prevenção quanto a doenças infetocontagiosas, com destaque, entre outras, para o HIV-SIDA. “Antigamente vinham para cá carrinhas que nos davam preservativos. Agora são uns simpáticos jovens voluntários que o fazem. Está tudo diferente!”
Seja como for, as prostitutas de rua estão a ser apoiadas, se bem que, segundo “N”, “esse apoio não seja o mesmo e não chegue a todas”, isto porque “há muitas que não querem esse apoio fogem para não dar a cara, e isso é perigoso, tanto para elas como paras os clientes”.
Tráfico de Mulheres para a prostituição
No blogue “Máfia Portuguesa” retrata-se a prostituição de rua feminina em Portugal, salientando, pertinentemente, factos que revelam uma realidade que muitos não querem assumir: ”O desespero do exponencial desemprego europeu está a fazer crescer o fenómeno da prostituição esporádica e a prostituição de rua. Pessoas sozinhas ou com famílias para alimentar recorrem vergonhosamente (para os Governos) a esta forma de fazer dinheiro como recurso, em momento difíceis, já que as oportunidades de emprego são cada vez mais escassas e com condições de remuneração cada vez mais desfavoráveis e escravizantes.
Nas discotecas, bares, cafés, na rua, nos jornais, pela internet, aumentam as fileiras deste “submundo” controlado maioritariamente pelas máfias da noite e da droga. Em alguns casos, os pais mandam as suas filhas e filhos prostituírem-se para resolverem parte dos seus problemas económicos. Em muitos países onde o desemprego disparou e as máfias proliferaram, o mercado da “venda” ou “aluguer” de menores para práticas sexuais apareceu como uma alternativa altamente lucrativa. Muitos destes menores, tal como na antiguidade são embarcados para haréns no Norte de África, Países árabes ou Rússia. É preciso não esquecer que a desgraça e degradação social começou na incompetência e na ganância dos políticos corruptos de todo o mundo… A eles temos de agradecer este degradante estado de coisas, que tenderá a agravar-se a cada mês que passa…”
Prostituição é legal, mas…
Perante todos estes factos, como pode atuar a Polícia? A questão que se coloca relaciona-se com o bem-estar dos moradores perturbados, dizem eles provando, com o crescente e “irresponsável” negócio de prostituição feminina de rua. A verdade, porém, é que a ação policial só pode ser exercida quando alguém denunciar algum ato público de atentado ao pudor, uma vez que a prostituição em Portugal é legal, excetuando os seguintes casos:
“Quem, profissionalmente, ou com intenção lucrativa, fomentar, favorecer ou facilitar o exercício por outra pessoa de prostituição ou a prática de atos sexuais de relevo, explorando situações de abandono ou de necessidade económica, é punido com pena de prisão de seis meses a cinco anos” (artigo 169º – Lenocínio) mas, e de acordo a com a Legislação europeia (2005), em Portugal, “existem zonas públicas onde as prostitutas e prostitutos não podem exercer a sua atividade, e restrições sobre onde podem trabalhar em estabelecimentos privados. Por exemplo, não se pode arrendar uma casa para o negócio da prostituição. A lei apenas se aplica, tecnicamente, a terceiros, e não a prostitutas/prostitutos, clientes ou proxenetas”.
“As Senhoras!”
E estamos nisto. A prostituição feminina de rua cresce a olhos vistos. Há contestações. Não são poucas. E há já “senhoras de bem que vendem o corpo por tuta e meia, para ter algo para dar aos netos”… disse-nos a “N”, conhecedora que é de uma profissão milenar – “a mais antiga do mundo”, como popularmente é considerada – e que sofre, como as suas colegas de rua, as amarguras de uma vida que diz “nunca querer ter”, mas que “teve que ter”, muita das vezes “ao pontapé e à chapada”, Hoje, diz “N”, as coisas “são diferentes para pior”, porque já fico “envergonhada com a vergonha de algumas Senhoras que dão o seu corpo a vender… e eram Senhoras…e são Senhoras, mas elas não percebem que continuam a ser Senhoras! É triste, não é?”
Deixo-vos com “Maria Fácil”, poema de Sidónio Muralha, destinado a quem o quiser ler e entender….
MARIA FÁCIL
“A que se deu sem sonhos e sem boda
não há proposta a que não diga sim.
Poisar a mão na sua é tê-la toda.
Conhece encruzilhadas, calaboiços,
mas quebra os olhos mudos num jardim
faz festas aos meninos pequeninos
que brincam nos baloiços.
Tem uma cruz de buxo à cabeceira
Tem o retrato da mãe
Tem um livrete negro na carteira
Nada mais tem
Maria Fácil, chamam-lhe na rua
É o enguiço da prostituição
Todos a viram nua
e para isso
paga contribuição
Quando morrer, dirão na viela:
-Lá vai Maria Fácil, o enguiço…
Que bom caixão para o corpinho dela…
E não se fala mais nisso!”
Sidónio Muralha
Texto: José Gonçalves
Fotos: Pesquisa Google



A prostituição, segundo o meu ponto de vista, é legal, desde que, não sejam praticados atos sexuais ilícitos e explícitos na via pública, sobretudo, se estiverem crianças a assistir ou os seus pais leva – las para as escolas.
Existem lugares apropriados para esse tipo de práticas sexuais, desde que, devidamente higienizadas, e que obtenham, legalmente, licença para exercer a profissão.
A prostituição deveria ser legalizada. Seria bom para as profissionais do sexo para os clientes e para a economia do país.
É verdade, grande ” N ” ! Seremos sempre senhoras ! E ninguém nos pode tirar isso.
Força,amiga!
Encontrei este artigo, uma vez que desde semana passada que ando aflita com isto.
Não é que agora, tal como diz no seu artigo, se espalharam para todo lado, até para a beira da escola Básica da Alegria.
E já provocou barulho com as mães que vão levar as crianças à escola e se põem a olhar para ela:
– “Estás a olhar para quê? Vê lá se não posso estar aqui?” – E coisas do género!
Isto em frente às crianças! E como é que explica depois à criança o que se passou???
Isto é uma vergonha! Mais valia proibir a prostituição na rua e passá-la para casas que seriam controladas, tanto a nível de higiene, como a nível de respeito humano.