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Ovar: TERRAS RIBEIRINHAS repetidamente INUNDADAS e SALINIZADAS

As mais recentes precipitações da chuva que se fizeram sentir entre abril e maio apenas confirmaram os riscos de inundações que há muito as populações ribeirinhas vêm alertando as entidades competentes para, a cada vez mais fácil subida das águas da Ria, que atingem o ponto mais critico, na conjugação de mau tempo, chuva intensa, lua cheia e marés altas, que acaba por resultar na preocupante subida das águas da Ria atingindo níveis verdadeiramente surpreendentes na vasta área de terras baixas nas zonas ribeirinhas, fazendo aumentar a salinização de terras ainda produtivas na região e no caso de Ovar, nos lugares da Ribeira e Marinha.

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A combinação de fatores naturais com a ausência de medidas preventivas e intervenções adequadas na Ria, nas suas margens e linhas de água, como o rio Cáster, que só tem merecido atenção no seu percurso pelo centro da cidade, em que muito beneficiou com a construção do Parque Urbano e o projeto de estabilização do rio nas margens de leito de cheias, deixa esta principal linha de água que atravessa a cidade e desagua na Ria, muito vulnerável sobretudo a jusante da Fonte Júlio Dinis (Casal), em que deixa de ter mecanismos preventivos face ao aumento do caudal das águas do Cáster, sempre que a precipitação é maior, acabando com alguma facilidade por rasgar as há muito fragilizadas motas em ambas as margens, que dão origem a inundações tanto para zonas mais rurais como a Moita, ou para a parte urbana da Ribeira em que se tem estado a repetir a subida das águas de forma preocupante, não deixando a salvo a própria Capela da Santa Catarina.

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Com a Ria reconhecidamente assoreada, os seus efeitos fazem-se sentir no Canal de Ovar, fundamentalmente quando se dá a sempre temida combinação das marés vivas, ventos fortes e intensa precipitação, que dão origem a uma extraordinária subida das águas na Laguna em que se tem vindo a reduzir a capacidade de suportar as águas salobras nestes períodos de tempestade, que galgam as margens, inundam equipamentos, estradas e terrenos agrícolas, que vão ficando afetados pela salinização. Um processo de empobrecimento e queima destas terras nas margens da Ria, na Ribeira, Moita, Tijosa e Marinha, que tem alarmado os agricultores locais que assim veem reduzida a sua capacidade de produção para alimentação do gado leiteiro e bovino.

A subida das águas em níveis que já nem os residentes têm memória, sobre tudo com tanta regularidade, transformam as zonas ribeirinhas em pontos criticos, deixando mesmo familias ou explorações agricolas isoladas e no caso do Cais da Ribeira, atividades económicas, como a indústria do sal, que este ano já várias vezes ficaram inundadas. Este Cais, que chegou a constituir uma plataforma logística na ligação entre o norte do distrito e a cidade de Aveiro onde se cruzavam muitas e variadas atividades económicas, tendo servido de cais de embarque à Rainha D. Maria II e família, em 1852, na sua viagem nacional pela Estrada Real, em que seguiu de barco até Aveiro. Pelo Estado de abandono em que se encontra, com o canal literalmente atolado em lamas, também, tal como o leito da Ria, tem pouca capacidade para receber as precipitadas subidas das águas, que deixam toda a área envolvente debaixo de água.

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Mas se as águas do rio Cáster e da Ria entram cada vez com mais facilidade pelas traseiras, na frente costeira os galgamentos repetem-se com particular incidência no Furadouro, em que, os investimentos em obras pesadas não se têm mostrado capazes de travar a fúria do Mar sempre que se conjugam os fatores naturais que resultam em fortes tempestades, que agravam a erosão e fazem o mar transbordar para a Marginal e correr pelos vários arruamentos.

Obras superficiais aguardam desassoreamento

Muitas das obras de reabilitação e consolidação dos cais na região banhada pela Ria que estiveram a cargo da Sociedade Polis Litoral Ria de Aveiro, vieram-se a manifestar intervenções muito superficiais e meramente decorativas, já que problemas antigos como o assoreamento que impede a navegabilidade de muitos cais, canais e da própria área lagunar a norte da Ponde da Varela sempre que a maré vaza, incluindo a atracagem nas novas infraestruturas, continuam a enlamear a fase da “Polis I”, deixando a olho nú que não foi tida em linha de contas as devidas quotas que atenuassem a facilidade com que as águas estão a subir e a degradar algumas destas obras, cujas últimas inaugurações aconteceram no mês de abril com a presença do ministro do Ambiente, João Pedro Matos Fernandes, de quem os autarcas da região reclamam um novo programa de requalificação da Ria, com a designação de “Polis II”, que visa o desassoreamento da Ria, através de dragagens e consequente reforço dos diques e motas nas margens.

Uma obra então orçada em 14 milhões de euros que tarda para permitir a navegabilidade ao longo do canal de Ovar até ao Carregal, para alem dos vários canais e esteiros dos concelhos ribeirinhos, aguardada por pescadores, praticantes das modalidades náuticas ou desenvolvimento turístico.

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Nesta mesma visita do ministro do Ambiente à região, ficou a saber-se que o atual governo não vai dar continuidade a um Programa “Polis II” por o PO SEUR – Programa Operacional Sustentabilidade e Eficiência no Uso de Recursos não contemplar a possibilidade de apoio comunitário ao projeto de desassoreamento da Ria. Por isso o ministro deixou o compromisso de até final de verão, ser entregue em Bruxelas uma reprogramação do PO SEUR com o objetivo de contemplar o projeto de desassoreamento da Ria de Aveiro, avaliado agora em 19 milhões de euros. Projetos que visam ainda promover o reforço do cordão dunar, que inclui operações de alimentação artificial.

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Ao encontro dos interesses dos autarcas, parece ir a intenção do atual governo, ao lançar o desafio ao presidente da CIRA (Comunidades Intermunicipal Ria de Aveiro) para partilhar a gestão da laguna. Caminho para partilha de responsabilidades numa área ambiental com demasiadas entidades com competências na sua jurisdição, que não tem facilitado uma adequada gestão para ser verdadeiramente colocada ao serviços das populações, das diversas atividades económicas, dos desportos nauticos, do turismo, enfim da sua plena navegabilidade ao longo dos canais de acesso aos cais e no canal de Ovar nomeadamente entre a ponte da Varela e o Carregal, independentemente da fase das marés, da qual vem dependendo nos últimos anos, com graves consequências, em tempo de tempestades com o leito da Ria submerso de lamas, que limitam a sua capacidade de receber um maior caudal de entrada de águas na repetida conjugação dos diversos fatores naturais, a que não podem ser atribuídas todas as culpas para os prejuízos que têm ocorrido entre populações ribeirinhas.

Texto: José Lopes

Fotos: Bombeiros Voluntários de Ovar/facebook  e Ovar/facebook

01jun16

 

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