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Os Burros…

Sérgio Silva e Sousa (*)

Já se passaram mais de três décadas, mas ainda me lembro como se fosse hoje, quando o sábio e egrégio meu avô me contou mais uma de suas histórias da sua vida, mas que ainda hoje é atual. Contou-me então que há muitos anos, quando era necessário abrir um novo caminho por alguma encosta íngreme, esse trabalho era entregue a um burro. Esse burro era levado na direção pretendida e o caminho por ele escolhido era posteriormente tomado pelas pessoas que se iriam servir do caminho.

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Anos passaram e os burros jamais fizeram esse trabalho, atualmente são os engenheiros que o fazem (entenda-se como engenheiros todos os estudiosos ligados a esse trabalho), deixando assim os burros no “desemprego”, escolhendo então o melhor local de passagem da nova estrada. No entanto, e a toda a hora e local vemos esse facto, existem “burros” que insistem em recordar profissão de outrora, abrindo caminhos pelo meio de jardins e canteiros, calcando relvados, plantas ou flores que ali estão plantados, com o objetivo de embelezar as nossas vistas e cidades, pisando até fazer desaparecer o que ali estava plantado apenas deixando um caminho de terra! Ora era esse mesmo o objetivo dos burros de outrora aquando levados a abrir novas estradas!

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Mas se fizermos uma pequena analise a esta situação provavelmente iremos chegar à conclusão que quem está enganado são os “burros com estudos”, aqueles que deixaram há uns anos atrás os burros no “desemprego”, porque querem obrigar as pessoas a darem uma volta maior quando podiam fazer um caminho mais curto, rápido e direto, já que atualmente o tempo é dinheiro.

Mas lá está, errar é humano! Mas corrigir esse erro também o deve ser!

Então porque será assim tão difícil corrigir esse erro? Basta pegar nesse caminho aberto por local onde de início não era passagem e fazer com que passe a ser local de passagem oficial.

Raramente se vê um erro cometido por um “burro com estudos” ser corrigido, mas felizmente até tem vindo a aumentar esse tipo de correções. Acho que pior do que errar e colocar o local de passagem onde não satisfaz a maioria das pessoas que o vão usar, é não perceber que realmente se errou e não se corrigir o erro, bastando muitas das vezes colocar umas lajes de cimento ou umas escadas a tapar a terra já muito calcada e por vezes traiçoeira, que ali foi deixada por anos de uso de local de passagem indevido.

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Já sei que haverá sempre burros a tentar abrir novos caminhos, talvez por comodidade, talvez até mesmo por burrice, mas lá está, é a sociedade onde estamos inseridos que teima em não largar mão de hábitos antigos. Mas talvez possamos rapidamente contornar esses hábitos e até mesmo utiliza-los a nosso favor e construir um futuro melhor, bastando, no que respeito diz à abertura de caminhos (motivo deste texto), apenas olhar com atenção e reparar onde estão os caminhos abertos por anos de utilização de passagem nos jardins de nossas cidades e torna-los oficiais. Será assim tão difícil ou ou caro? Haverá quem consiga identificar exemplos deste tipo pelo nosso país fora? Aqui fica o desafio!

(*) Texto e fotos

01jan18

 

 

 

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1 Comment

  1. jose lopes

    Esta é aliás uma teoria de arquitetos e técnicos paisagisticos, que defendem deixar-se tais espaços verdes ao critério dos caminhos naturais que as populações ou utilizadores acabarão por projetar os seus mais convenientes caminhos e acessibilidades. Então aí, são construídos e certamente respeitados pelas pessoas que afinal desta forma, sentem terem contribuído para o projeto final de tais espaços públicos…

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