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A culpa é deles…

Sérgio Silva e Sousa

No Porto, e dou o exemplo do Porto por ser a área metropolitana onde estou inserido, existe um fenómeno muito curioso ao qual eu dou o nome de síndroma dos picas, não sei se este fenómeno se estende a outras cidades ou se será exemplo único, mas como não tenho conhecimento falarei só deste exemplo. Por força da minha situação profissional, utilizo todos os dias os transportes públicos da Área Metropolitana do Porto e desde sempre, noto que quando um certo tipo de pessoas entra nos veículos esse veículo rapidamente fica com muito mais espaço livre! Sim, falo dos “picas”…

Este termo utilizado vem do tempo em que os cobradores dos transportes públicos tinha uma ferramenta que, literalmente, picava o bilhete, inutilizando o mesmo para que não fosse possível a sua reutilização em uma outra viagem, contudo o termo “picas” ainda é utilizado atualmente para identificar a fiscalização. Hoje em dia, como estamos na era dita digital, a leitura dos bilhetes é feita de forma digital e a sua obliteração também o é, contudo, e com tanta tecnologia ainda não se conseguiu descortinar uma forma de mais simples para se acabar com esta síndroma.

Bem sei que as pessoas que sofrem desta “patologia” iriam continuar a estar atentos, espreitando para todos os lados, tentando antecipar o surgimento dos “mal-afamados picas” para de imediato abandonarem o veiculo no qual seguiam sem pagar a viagem.

Mas será que é assim tão difícil resolver esta situação? Situação esta que leva a que os bilhetes/passes mensais sejam mais caros? Decerto não será fácil, visto sermos um povo duro a mudanças, mas já que nos últimos anos nos impuseram tanta austeridade e poucos foram os que se manifestaram contra, porque não criar uma taxa para transportes públicos?

picas - metro

Nas nossas faturas mensais de água e eletricidade pagamos várias taxas, tais como tratamento de resíduos ou audiovisuais, porque não pagar uma taxa de transportes públicos? Certamente o valor a pagar para usar os transportes públicos desceria para quem já os utiliza diariamente e poderia fazer com que quem ainda não os utiliza, preterindo este meio de transportes ao automóvel próprio, passasse a viajar de transportes públicos.

A meu ver todos poderíamos ficar a ganhar, uns porque o valor mensal gasto em transportes baixaria porque toda população iria pagar os transportes, outros porque sendo obrigados a pagar certamente iriam utilizar com mais frequência os meios de transporte públicos. Podemos falar também na drástica diminuição de emissões de CO2 para a atmosfera que esta medida iria contribuir, pois uma boa parte dos automóveis próprios iria ficar na garagem. Haveria certamente um maior investimento nas frotas de autocarros, haveria ainda uma maior exigência por parte dos utentes para com as empresas de transportes públicos, sendo estas obrigatoriamente estendidas para servir toda a população, etc.

De salientar que eu, obrigatoriamente, me tenho de deslocar todos os dias de automóvel próprio porque à hora a que entro ao serviço ou saio, atualmente não existem transportes públicos na minha área de residência ou no meu local de trabalho! Daí estar completamente à vontade para falar deste tema, pois eu certamente iria pagar, mesmo não podendo usufruir dos transportes públicos para ir trabalhar diariamente. Mas sei que certamente a “síndroma dos picas” iria diminuir ou até mesmo desaparecer, não pondo em causa o posto de trabalho de ninguém, até porque a fiscalização teria de existir devido ao turismo, podendo até esta medida, vir a criar mais postos de trabalho na área da condução.

Esperemos que algo seja feito, e que este flagelo na Área Metropolitana do Porto termine, embora o ditado diga que “o que nasce torto, tarde ou nunca se endireita” esperemos que, pelo menos, este problema se endireite tarde…

Foto: pesquisa Google

01mar18

 

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